São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 2002

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CARROS

Além de vendas menores, absorção de alta dos custos devido ao dólar deve levar empresas instaladas no país a prejuízo

Montadoras devem fechar ano no vermelho

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Todas as principais montadoras de automóveis instaladas no Brasil devem fechar este ano com prejuízo em seus balanços, segundo a consultoria AT Kearney.
Hoje, são nove as empresas instaladas no Brasil que produzem automóveis (a lista não inclui a Nissan, por exemplo que produz um utilitário no Paraná). Dessas, apenas três divulgaram o resultado líquido no ano passado: a Fiat, que registrou lucro de R$ 171,8 milhões; a Renault, com perda de R$ 418,3 milhões; e a Peugeot-Citroen, que também teve prejuízo, de R$ 112,6 milhões.
Das quatro montadoras tradicionais, além da Fiat, a única que deu sinalização de seu desempenho no ano passado foi Ford. Segundo sua assessoria, as operações da empresa na América do Sul (incluído o Brasil) deram prejuízo em 2001. Volkswagen e General Motors apenas divulgam os números de faturamento, e não os resultados finais, que são reportados às matrizes.
Segundo a AT Kearney, as montadoras sofreram ao longo deste ano forte pressão em seus custos por conta da desvalorização do real. A despeito do alto grau de nacionalização dos componentes, segundo a consultoria, em média, os veículos produzidos no Brasil ainda têm 25% de suas peças importadas. Nos carros de montadoras que iniciaram operação no país de forma mais recente, esse índice sobe para até 50%.
"O mercado não tolera mais aumento de preços. Toda vez que um preço sobe, o mercado para aquele veículo diminui ainda mais", diz o consultor Ricardo Durazzo, da AT Kearney. "As empresas absorvem parte da desvalorização cambial para não repassar aos preços e perderem espaço, mas isso significa prejuízo no balanço", completa.
Outro aspecto considerado pela consultoria é o alto nível de ociosidade das montadoras. As fábricas têm capacidade de produzir 3,5 milhões de veículos/ano no Brasil, mas devem fechar 2002 com produção de 1,8 milhão de automóveis, segundo estimativa da Anfavea (a associação dos fabricantes) -ou seja, ficaria estagnado em relação a 2001. Analistas, entretanto, prevêem que haverá queda na produção nacional, comparada à do ano passado.
"Essa é uma das características da indústria de escala. Quando se fabricam muitos carros, diminuem-se custos. Com produção estagnada ou em baixa, eles aumentam", afirma Durazzo.
As vendas internas não vão superar o 1,5 milhão de unidades, contra o 1,6 milhão vendido em 2001 -uma queda de 6%. Poderia ser pior, não fossem as exportações. Embora os resultados também sejam piores neste ano, não haverá um tombo nas mesmas proporções do ocorrido com as vendas internas. As projeções das montadoras apontam para exportações (de veículos e máquinas agrícolas) de US$ 4 bilhões, contra os US$ 4,1 bilhões em 2001.
"Exportações são alternativa para queda nas vendas internas e servem como hedge (proteção) natural para a alta do dólar. As vendas brasileiras no exterior evoluíram muito, mas o problema é que os mercados para exportadores estão tomados", diz Durazzo. "Para conquistar mercados, é preciso concorrer com quem está lá e às vezes até com empresas coirmãs", afirma.
A francesa Renault, por exemplo, pretende usar sua fábrica em São José dos Pinhais, no Paraná, como plataforma de exportação de um carro mundial, que seria produzido no Brasil a partir de 2004. Hoje, a fábrica brasileira, que demandou investimento de US$ 1,35 bilhão, opera com menos da metade de sua capacidade. Na tentativa de minimizar esse efeito, a partir de junho de 2003, deverá exportar um de seus modelos para o mercado europeu.
As montadoras se adiantam ao governo tentando negociar acordos. Foi o que ocorreu no pacto com o México, firmado em julho, que permite ao Brasil exportar até 140 mil veículos nos primeiros 12 meses de vigência, com alíquota de 1%. E nas negociações com a China para aumento da exportação de peças e componentes (as leis chinesas não permitem a importação de carros prontos).
Os balanços das montadoras também sofrem os efeitos dos pesados investimentos nos últimos anos em aumento de produção e/ou instalação no país. Agora, têm que suportar uma menor demanda no mercado interno e, com poucas exceções, mundiais.


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