|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARROS
Além de vendas menores, absorção de alta dos custos devido ao dólar deve levar empresas instaladas no país a prejuízo
Montadoras devem fechar ano no vermelho
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Todas as principais montadoras
de automóveis instaladas no Brasil devem fechar este ano com
prejuízo em seus balanços, segundo a consultoria AT Kearney.
Hoje, são nove as empresas instaladas no Brasil que produzem
automóveis (a lista não inclui a
Nissan, por exemplo que produz
um utilitário no Paraná). Dessas,
apenas três divulgaram o resultado líquido no ano passado: a Fiat,
que registrou lucro de R$ 171,8
milhões; a Renault, com perda de
R$ 418,3 milhões; e a Peugeot-Citroen, que também teve prejuízo,
de R$ 112,6 milhões.
Das quatro montadoras tradicionais, além da Fiat, a única que
deu sinalização de seu desempenho no ano passado foi Ford. Segundo sua assessoria, as operações da empresa na América do
Sul (incluído o Brasil) deram prejuízo em 2001. Volkswagen e General Motors apenas divulgam os
números de faturamento, e não os
resultados finais, que são reportados às matrizes.
Segundo a AT Kearney, as montadoras sofreram ao longo deste
ano forte pressão em seus custos
por conta da desvalorização do
real. A despeito do alto grau de
nacionalização dos componentes,
segundo a consultoria, em média,
os veículos produzidos no Brasil
ainda têm 25% de suas peças importadas. Nos carros de montadoras que iniciaram operação no
país de forma mais recente, esse
índice sobe para até 50%.
"O mercado não tolera mais aumento de preços. Toda vez que
um preço sobe, o mercado para
aquele veículo diminui ainda
mais", diz o consultor Ricardo
Durazzo, da AT Kearney. "As empresas absorvem parte da desvalorização cambial para não repassar aos preços e perderem espaço,
mas isso significa prejuízo no balanço", completa.
Outro aspecto considerado pela
consultoria é o alto nível de ociosidade das montadoras. As fábricas têm capacidade de produzir
3,5 milhões de veículos/ano no
Brasil, mas devem fechar 2002
com produção de 1,8 milhão de
automóveis, segundo estimativa
da Anfavea (a associação dos fabricantes) -ou seja, ficaria estagnado em relação a 2001. Analistas,
entretanto, prevêem que haverá
queda na produção nacional,
comparada à do ano passado.
"Essa é uma das características
da indústria de escala. Quando se
fabricam muitos carros, diminuem-se custos. Com produção
estagnada ou em baixa, eles aumentam", afirma Durazzo.
As vendas internas não vão superar o 1,5 milhão de unidades,
contra o 1,6 milhão vendido em
2001 -uma queda de 6%. Poderia ser pior, não fossem as exportações. Embora os resultados
também sejam piores neste ano,
não haverá um tombo nas mesmas proporções do ocorrido com
as vendas internas. As projeções
das montadoras apontam para
exportações (de veículos e máquinas agrícolas) de US$ 4 bilhões,
contra os US$ 4,1 bilhões em 2001.
"Exportações são alternativa
para queda nas vendas internas e
servem como hedge (proteção)
natural para a alta do dólar. As
vendas brasileiras no exterior
evoluíram muito, mas o problema é que os mercados para exportadores estão tomados", diz Durazzo. "Para conquistar mercados, é preciso concorrer com
quem está lá e às vezes até com
empresas coirmãs", afirma.
A francesa Renault, por exemplo, pretende usar sua fábrica em
São José dos Pinhais, no Paraná,
como plataforma de exportação
de um carro mundial, que seria
produzido no Brasil a partir de
2004. Hoje, a fábrica brasileira,
que demandou investimento de
US$ 1,35 bilhão, opera com menos da metade de sua capacidade.
Na tentativa de minimizar esse
efeito, a partir de junho de 2003,
deverá exportar um de seus modelos para o mercado europeu.
As montadoras se adiantam ao
governo tentando negociar acordos. Foi o que ocorreu no pacto
com o México, firmado em julho,
que permite ao Brasil exportar até
140 mil veículos nos primeiros 12
meses de vigência, com alíquota
de 1%. E nas negociações com a
China para aumento da exportação de peças e componentes (as
leis chinesas não permitem a importação de carros prontos).
Os balanços das montadoras
também sofrem os efeitos dos pesados investimentos nos últimos
anos em aumento de produção
e/ou instalação no país. Agora,
têm que suportar uma menor demanda no mercado interno e,
com poucas exceções, mundiais.
Texto Anterior: Investimentos: Petrobras anuncia captação de R$ 775 mi Próximo Texto: Anfavea quer manter IPI de 9% para popular Índice
|