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São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2003

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CONTA-GOTAS

Fiesp diz que país está "perdendo a oportunidade" de aproveitar o ambiente favorável para cortar mais os juros

Para empresários, redução foi frustrante


DA REPORTAGEM LOCAL

A redução de um ponto percentual na taxa Selic, anunciada ontem pelo Copom (Comitê de Política Monetária), contrariou as expectativas de empresários, que esperavam uma queda maior nos juros básicos.
Em nota divulgada na noite de ontem, o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horacio Lafer Piva, afirmou que o governo está "perdendo a oportunidade" de aproveitar o ambiente favorável ao controle de preços para reduzir mais intensamente os juros.
"Quem vê o cliente sabe que o poder de barganha está todo com o consumidor." Piva defendeu que o Banco Central optou por um ajuste mais apertado na política monetária "muito cedo".
"Com isso, reduz o impacto de cada decisão sua no nível de confiança de consumidores e empresários, tornando quase desprezível qualquer contribuição sua adicional para a economia neste final de ano", afirma Piva na nota.
De acordo com a Fiesp, há aquecimento da demanda doméstica, mas essa reação está sendo sentida de forma muito gradual e apenas pelos exportadores. "O Banco Central deve avaliar mais de perto a situação dos demais empresários, que são os mais afetados pela política monetária. Se não conseguir distinguir a dinâmica desses dois mundos, irá atirar no que vê e punir quem ainda não viu seus números no azul."
Para a CNI (Confederação Nacional da Indústria), o corte foi frustrante. "Na nossa avaliação, a queda deveria ter sido de, no mínimo, 1,5 ponto percentual. O comportamento favorável da inflação, a estabilidade do câmbio, a queda do risco-país e a ausência de pressões de demanda permitiam tal redução sem prejuízo da meta de inflação", diz nota da entidade, que defendeu também a redução do "spread" bancário.
Júlio Sérgio Gomes de Almeida, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), afirmou que "poderia ser mais".
"O consumidor ainda vai comprar uma geladeira e pagar por duas. O ideal seria voltar pelo menos aos patamares de setembro do ano passado [18%], quando a taxa começou a subir."
Para ele, o compatível para uma previsão de inflação de 6% em 2004 é uma taxa de juros real de 10%. "Ou seja, uma Selic a 16%, que é quanto esperamos chegar no final do ano".
O comércio também não aprovou o tamanho do corte, que classificou como conservador. O presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Guilherme Afif Domingos, defendeu uma nova redução no compulsório (valor que os bancos são obrigados a depositar no BC).
O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, disse que a redução de um ponto percentual é "lamentável". "Depois de dez meses de governo Lula, estamos em situação pior do que no governo FHC", disse. "Esperávamos que o Copom mantivesse o ritmo de redução em dois pontos percentuais para que houvesse pelo menos a expectativa de crescimento no final do ano."
O presidente da CUT, Luiz Marinho, afirmou que essa redução era esperada, mas é insuficiente para a retomada do crescimento da economia.


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