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Nova série americana, com foco em jovens e adultos, trará menções a marcas de fast food, bebida energética e calçados
Merchandising chega aos desenhos animados
STUART ELLIOTT
DO "NEW YORK TIMES"
Não é brincadeira. Uma nova
série de animação do canal Comedy Central, nos EUA, vai incorporar nomes e produtos de patrocinadores à ação dos desenhos.
O primeiro episódio da série,
um desenho animado adulto chamado "Shorties Watchin" Shorties" [baixinhos assistindo a curtas], deve estrear na próxima terça-feira na rede de cabo, controlada pela Viacom. Os telespectadores verão merchandising de produtos em versões de animação,
variando de sutil a escancarado,
em três dos sete episódios de 30
minutos, envolvendo três anunciantes: Domino's Pizza, a bebida
energética Red Bull e os calçados
esportivos Vans.
Um quarto anunciante, Activision, não terá seus videogames inseridos nos episódios, mas usará
os personagens -dois bebês que
se comportam como jovens adultos baderneiros, a faixa etária visada pela série- estrelando comerciais para um videogame com
o skatista Tony Hawk.
A Comedy Central e outros
anunciantes se recusam a discutir
os termos financeiros do acordo e
se limitam a descrever o arranjo
como uma espécie de bônus
-valor adicionado, no jargão do
setor- por terem fechado acordo
para adquirir um determinado
volume de comerciais em diversos programas da rede. O valor
desses pacotes pode chegar à casa
dos milhões de dólares.
Ainda que seja difícil identificar
os responsáveis por idéias pioneiras em marketing, acredita-se que
seja a primeira vez que merchandising pago será parte regular de
uma série de animação. Personagens de desenhos animados apareceram em comerciais ao longo
das décadas, dos Flintstones,
anunciando os cigarros Winston,
aos Simpsons, que são garotos-propaganda dos confeitos Butterfingers, mas os produtos não foram incorporados aos desenhos.
Recentemente, certos produtos,
como o refrigerante Sprite, apareceram em episódios da série de
animação "Father of the Pride",
na rede de televisão NBC, mas
não foram usados, como resultado de acordos de merchandising.
Controle remoto
O merchandising de produtos
conhecidos em séries de TV e filmes vem se tornando cada vez
mais popular, à medida que as
empresas procuram mais maneiras alternativas de atingir os consumidores -que hoje conseguem facilmente evitar comerciais tradicionais, usando controles remotos para mudar de canal
ou gravadores de vídeo digitais
que permitem editar os programas e eliminá-los. À medida que
o merchandising ganha popularidade, críticos intensificam os protestos, dizendo que a prática obscurece de maneira desleal o limite
entre programação e publicidade.
As empresas e as redes de TV
"adotaram uma estratégia de negócios que transforma programas
em comerciais", disse Gary Ruskin, diretor-executivo da Commercial Alert, uma organização
de Portland (Oregon) que tenta limitar o que seus membros consideram comercialização gradual
da cultura norte-americana.
"Ainda que os personagens do
programa sejam "baixinhos'", disse ele, "a publicidade terá 30 minutos de duração".
Outros críticos estão preocupados com a prática das redes de fazer merchandising em uma série
de animação mesmo que os programas sejam dirigidos a adultos.
"Shorties Watchin" Shorties", que
inclui uso moderado de palavrões
e comportamento rude, será exibida às 22h30.
"Embora a Comedy Central seja
claramente uma rede adulta, as
pessoas pensam em desenhos
animados como coisa para crianças", disse James Steyer, presidente-executivo da Commonsense
Media, em San Francisco, uma organização sem fins lucrativos que
defende os direitos das crianças.
"Isso suscita uma questão realmente interessante, a de determinar se o merchandising em programas adultos que as crianças
venham a assistir será ou não utilizado", disse, "bem como a questão das restrições, se alguma, que
serão adotadas ao merchandising
de produtos em videogames".
Os envolvidos na criação de
"Shorties Watchin" Shorties" dizem que levam em conta as preocupações dos críticos. "É um verdadeiro desafio para nós trabalhar com anunciantes para a realização do merchandising", disse
Mitch Fried, vice-presidente da
Comedy Central em Nova York.
Um dos objetivos "é integrar o
merchandising organicamente ao
programa", disse Fried, em lugar
de usá-lo de maneira ostensiva.
Em alguns casos, acrescentou, depois de ver uma versão inicial do
episódio em produção, "nós os
informamos de que mais discrição seria melhor, que a presença
dos produtos era exagerada".
Jim Serpico, produtor executivo
e criador da "Shorties Watchin"
Shorties" e presidente da Apostle,
a empresa que produz a série, disse que "é preciso ser cuidadoso.
Não queremos um episódio de
meia hora dedicado integralmente à promoção de um produto".
A Domino's está presente em
dois episódios que incluem cenas
dos dois baixinhos Nick e Patrice
comendo pizza e se lambuzando
inteiros e também em uma cena
em que um entregador da Domino's leva pizza a agentes do Serviço Federal de Investigações (FBI)
que estão fazendo uma campana.
Os calçados Vans e o Red Bull dividem um terceiro episódio, em
cenas que incluem um Volkswagen New Beetle decorado com as
cores da Red Bull chegando à escolinha que os baixinhos freqüentam. Um dos personagens usa tênis Vans para jogar basquete e andar de skate.
Algumas das ações de merchandising, como a envolvendo os tênis quadriculados Vans são breves e pouco perceptíveis, mas outras, como as imagens de caixas
de pizza Domino's, parecem
constantes e intrusivas.
"Nós achamos que era satírico",
disse Ken Calwell, vice-presidente
executivo e de marketing da Domino's Pizza. "A presença é tão
óbvia que, se for mostrada criativamente, de um jeito brincalhão,
funcionará melhor". "E podemos
agir diferente nos programas da
Comedy Central, se comparados
ao patrocínio do futebol americano, por exemplo", acrescentou.
Quanto às preocupações sobre
o apelo da série junto às crianças,
que talvez não compreendam que
estão assistindo a ações de merchandising, Calwell diz, "o programa tem natureza adulta, especialmente exibido às 22h30, o que
em nossa opinião nos isola das
crianças".
Soluções criativas
Chris Overholser, gerente sênior de comunicações na Vans, da
Califórnia, disse que estão sempre
"à procura de maneiras criativas
de levar a mensagem ao mercado.
Falamos de marketing com os
consumidores, não de marketing
para eles, e eles gostarão do marketing se for de maneira divertida
e relevante e que os respeite".
Quanto ao medo de obscurecer
a distinção entre conteúdo e publicidade, diz não ter essa preocupação, porque "os consumidores
são espertos o bastante, hoje, para
perceber a diferença", especialmente os homens entre os 12 e os
24 anos, a faixa etária preferencial
para a Vans.
O motivo primordial para que a
Comedy Central recorra ao merchandising, disse Fried, é que os
comediantes humanos da rede
"por natureza zombam das coisas", de modo que "você está se
arriscando, quando pede que falam merchandising".
De fato, um dos comediantes
mais populares da Comedy Central já afirmou que não é "muito
fã" de entretenimento que use esse tipo de recurso. "Creio que comerciais são comerciais, e devam
ser identificados como tal", disse
Jon Stewart, apresentador do
"The Daily Show".
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