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Argentina já fatura mais com turismo que com carne
Setor deve gerar US$ 3,7 bi neste ano, superando ainda venda de automóveis e cereais
Brasileiros são os maiores responsáveis pelo "boom'; hotelaria teve investimento de US$ 456 mi em 2005, 40% a mais que em 2004
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
O turismo na Argentina gera
mais divisas do que a carne, a siderurgia e os cereais -e, neste
ano, de acordo com estudo da
consultoria Ecolatina, deve ultrapassar até mesmo o setor
automotivo, atingindo a marca
de US$ 3,7 bilhões de faturamento anual.
Entre os estrangeiros que visitam o país, os brasileiros são
os principais responsáveis pelo
bom desempenho da atividade
turística.
Em 2005, o setor teve incremento de 9,7%, superando o
próprio crescimento vigoroso
da economia argentina, que
atingiu 9,2%.
Além de ocuparem a primeira posição entre os turistas estrangeiros que desembarcam
no aeroporto de Ezeiza, na
Grande Buenos Aires, seguidos
de americanos e chilenos, os
viajantes brasileiros se tornaram em 2006 os principais
compradores do país, se consideradas as vendas com "tax
free", segundo a empresa Global Refound.
Compras
Em setembro, os turistas
brasileiros fizeram 21% das
compras. No acumulado de janeiro a agosto deste ano, respondem por 16% delas -um
aumento de 128% com relação
ao mesmo período do ano anterior. Em 2005, perdiam para os
que vinham dos EUA, do Chile
e da Espanha.
De janeiro a agosto, o gasto
total dos turistas foi 62% maior
do que nos oito primeiros meses de 2005. Os que mais gastam individualmente, em média, continuam a ser os americanos. Em seguida, respectivamente, vêm os mexicanos, os
espanhóis, os colombianos e,
no quinto lugar, os brasileiros,
que compram em média 348
pesos por cabeça (R$ 240) e
preferem os artigos esportivos,
como tênis e roupas de marcas
como Puma e Adidas.
Peso desvalorizado
A moeda local, o peso argentino, desvalorizado em relação
ao dólar é o grande incentivador desse processo: os preços
baixos fazem do tango, das medialunas e da carne argentina
opções ainda mais atrativas para os turistas.
Em 2006, quebrando uma
tradição histórica de mais de
uma década, o número de estrangeiros que visitam o país
deve superar o de argentinos
que viajam ao exterior.
No ano passado, desembarcaram 304.914 brasileiros vindos dos aeroportos de São Paulo e do Rio de Janeiro -28% a
mais do que em 2004. A expectativa é a de que a Argentina receba neste ano um total de 4,1
milhões de visitantes provenientes do exterior.
Buenos Aires
Buenos Aires, no primeiro
semestre deste ano, recebeu
8,8% mais turistas que em igual
período de 2005, e 10,5% mais,
se tomados apenas os estrangeiros.
Animado com os números, o
governo da cidade acaba de lançar um atlas, com mapas e calendários, dos eventos e festas
culturais da capital. Também
existe a promessa de lançar até
o fim do ano um ônibus turístico circulando pelas principais
atrações da cidade, a exemplo
dos que já circulam por outras
cidades do mundo.
Apesar do "boom", a capital
argentina, com seus cerca de
180 mil turistas por mês, está
longe da performance de cidades como Paris, com cerca de 2
milhões, e Barcelona, com 380
mil.
Mochileiros
Em média, segundo dados do
governo municipal, metade dos
turistas na capital argentina ficam hospedados em hotéis de
quatro ou cinco estrelas. Além
de receber bem os endinheirados, porém, Buenos Aires descobre como faturar com os chamados "mochileiros", em geral,
jovens com orçamento baixo.
Entre 2005 e 2006, dobrou o
número de albergues na cidade:
são cerca de 120, com preços a
partir de R$ 10 por noite, com
café da manhã incluído.
Apesar das opções de hospedagem barata, estudo de comparação internacional de preços realizado pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), o FMI
(Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial divulgado neste mês revelou que as
diárias nos hotéis da Argentina
estão entre as mais caras da
América Latina, ao lado das cobradas no Paraguai e na Venezuela.
O setor hoteleiro, no entanto,
não pára de crescer. Em 2005,
os investimentos na construção de hotéis turísticos chegaram a US$ 456 milhões -40% a
mais que em 2004, segundo os
dados da IES Consultora. Os
empreendimentos hoteleiros
anunciados neste ano indicam
investimento futuro de mais
US$ 1,4 bilhão.
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