São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Argentina já fatura mais com turismo que com carne

Setor deve gerar US$ 3,7 bi neste ano, superando ainda venda de automóveis e cereais

Brasileiros são os maiores responsáveis pelo "boom'; hotelaria teve investimento de US$ 456 mi em 2005, 40% a mais que em 2004

BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

O turismo na Argentina gera mais divisas do que a carne, a siderurgia e os cereais -e, neste ano, de acordo com estudo da consultoria Ecolatina, deve ultrapassar até mesmo o setor automotivo, atingindo a marca de US$ 3,7 bilhões de faturamento anual.
Entre os estrangeiros que visitam o país, os brasileiros são os principais responsáveis pelo bom desempenho da atividade turística.
Em 2005, o setor teve incremento de 9,7%, superando o próprio crescimento vigoroso da economia argentina, que atingiu 9,2%.
Além de ocuparem a primeira posição entre os turistas estrangeiros que desembarcam no aeroporto de Ezeiza, na Grande Buenos Aires, seguidos de americanos e chilenos, os viajantes brasileiros se tornaram em 2006 os principais compradores do país, se consideradas as vendas com "tax free", segundo a empresa Global Refound.

Compras
Em setembro, os turistas brasileiros fizeram 21% das compras. No acumulado de janeiro a agosto deste ano, respondem por 16% delas -um aumento de 128% com relação ao mesmo período do ano anterior. Em 2005, perdiam para os que vinham dos EUA, do Chile e da Espanha.
De janeiro a agosto, o gasto total dos turistas foi 62% maior do que nos oito primeiros meses de 2005. Os que mais gastam individualmente, em média, continuam a ser os americanos. Em seguida, respectivamente, vêm os mexicanos, os espanhóis, os colombianos e, no quinto lugar, os brasileiros, que compram em média 348 pesos por cabeça (R$ 240) e preferem os artigos esportivos, como tênis e roupas de marcas como Puma e Adidas.

Peso desvalorizado
A moeda local, o peso argentino, desvalorizado em relação ao dólar é o grande incentivador desse processo: os preços baixos fazem do tango, das medialunas e da carne argentina opções ainda mais atrativas para os turistas.
Em 2006, quebrando uma tradição histórica de mais de uma década, o número de estrangeiros que visitam o país deve superar o de argentinos que viajam ao exterior.
No ano passado, desembarcaram 304.914 brasileiros vindos dos aeroportos de São Paulo e do Rio de Janeiro -28% a mais do que em 2004. A expectativa é a de que a Argentina receba neste ano um total de 4,1 milhões de visitantes provenientes do exterior.

Buenos Aires
Buenos Aires, no primeiro semestre deste ano, recebeu 8,8% mais turistas que em igual período de 2005, e 10,5% mais, se tomados apenas os estrangeiros.
Animado com os números, o governo da cidade acaba de lançar um atlas, com mapas e calendários, dos eventos e festas culturais da capital. Também existe a promessa de lançar até o fim do ano um ônibus turístico circulando pelas principais atrações da cidade, a exemplo dos que já circulam por outras cidades do mundo.
Apesar do "boom", a capital argentina, com seus cerca de 180 mil turistas por mês, está longe da performance de cidades como Paris, com cerca de 2 milhões, e Barcelona, com 380 mil.

Mochileiros
Em média, segundo dados do governo municipal, metade dos turistas na capital argentina ficam hospedados em hotéis de quatro ou cinco estrelas. Além de receber bem os endinheirados, porém, Buenos Aires descobre como faturar com os chamados "mochileiros", em geral, jovens com orçamento baixo.
Entre 2005 e 2006, dobrou o número de albergues na cidade: são cerca de 120, com preços a partir de R$ 10 por noite, com café da manhã incluído.
Apesar das opções de hospedagem barata, estudo de comparação internacional de preços realizado pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial divulgado neste mês revelou que as diárias nos hotéis da Argentina estão entre as mais caras da América Latina, ao lado das cobradas no Paraguai e na Venezuela.
O setor hoteleiro, no entanto, não pára de crescer. Em 2005, os investimentos na construção de hotéis turísticos chegaram a US$ 456 milhões -40% a mais que em 2004, segundo os dados da IES Consultora. Os empreendimentos hoteleiros anunciados neste ano indicam investimento futuro de mais US$ 1,4 bilhão.


Texto Anterior: Nissan e Suzuki podem se aliar no Brasil
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.