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Dólar sobe 6,7% e acumula alta de 52% desde agosto
Moeda, que sobe em todo o mundo, atinge maior cotação em dois anos e meio
Queda dos preços das commodities, notícia sobre fluxo cambial negativo e nova MP contribuíram para enfraquecer mais o real
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
O dólar comercial subiu
6,68% ontem -após ter subido
4,99% anteontem- e chegou a
R$ 2,38, seu maior valor desde
24 de maio de 2006. A moeda
dos EUA acumula elevação de
33,9% no ano e de 52,6% desde
1º de agosto, quando havia alcançando a cotação mínima de
2008, R$ 1,559.
A medida provisória editada
ontem que permite ao governo
comprar empresas e a notícia
de que o fluxo cambial no país
ficou negativo em US$ 3,751 bilhões nas primeiras três semanas de outubro já azedaram os
ânimos no câmbio logo pela
manhã. Mas são vários os fatores que explicam a disparada da
moeda americana ontem.
O movimento foi global. O
dólar avançou contra praticamente todas as moedas devido
ao crescimento dos temores de
uma recessão planetária. Os
economistas prevêem que muitos países -os europeus, por
exemplo- terão que cortar a
sua taxa básica de juros em breve para enfrentar a já prevista
recessão. Diante da perspectiva
de menores ganhos, os investidores preferem correr para os
EUA e comprar os títulos do
seu Tesouro, tradicional refúgio em momentos de crise,
mesmo que as turbulências tenham tido início justamente
em solo americano.
A forte queda dos preços das
commodities metálicas -ferro,
ouro- e agrícolas -milho, soja,
trigo- no mercado internacional ajudou a derrubar o real.
Boa parte da pauta de exportações brasileira é composta
por essas matérias-primas, cuja
demanda cresceu bastante nos
últimos anos enquanto o mundo progredia. Uma diminuição
do consumo com o desaquecimento global significaria menos dólares entrando no Brasil.
O cenário negativo fez alguns
bancos e investidores aumentarem as suas compras de divisas para estocar -eles apostam
que a situação pode se deteriorar ainda mais, também fazendo a moeda americana subir.
Esse componente especulativo impediu que a intervenção
do Banco Central ontem tivesse efeito em segurar as cotações. A instituição realizou dois
leilões de moeda no mercado à
vista e também ofereceu US$
515 milhões em contratos de
"swap" cambial. No total, até
segunda-feira, o BC já havia
empregado US$ 22,8 bilhões
por meio de diversos instrumentos para tentar impedir a
disparada do dólar.
Nesse contexto de medo e de
desconfiança, a edição da Medida Provisória 443 -que permite que o Banco do Brasil e a
Nossa Caixa adquiram participação em outros bancos e empresas sem licitação- contribuiu para piorar o clima. "O entendimento é que as condições
do sistema bancário brasileiro
podem ser um pouco mais
complicadas", comenta Alessandra Ribeiro, analista da
Tendências Consultoria, para
ressaltar em seguida: "É verdade que a regulação é rígida, que
a alavancagem é pequena, as
instituições estão capitalizadas; porém, o BC pode estar
mais preocupado com as menores. As grandes são sólidas".
Para ela, o governo deveria
ser mais cuidadoso na comunicação de suas ações para não
mandar mensagens erradas e
deixar o mercado ainda mais
nervoso.
No entanto, de acordo com
especialistas, a elevação observada nas últimas semanas é
fruto apenas do pânico e não de
uma piora do país, por isso não
se sustentaria por muito tempo. Na bonança, o Brasil aproveitou para melhorar as suas
contas externas -agora é credor e não devedor- e construir
uma reserva de dólares de mais
de US$ 200 bilhões. A projeção
da Tendências é que o dólar
volte a R$ 1,95 no final do ano.
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