São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2008

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Crédito a pessoa física encarece novamente

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Além de mostrar sinais de retração em alguns segmentos específicos, o crédito disponível no Brasil está cada vez mais caro. Segundo levantamento do Banco Central, de agosto a setembro, a taxa média cobrada nos empréstimos bancários passou de 40,1% ao ano para 40,4%, a mais alta desde novembro de 2006.
Foi o quinto mês seguido de alta dos juros, que se concentrou nas operações com pessoas físicas. Nesse segmento, a taxa média praticada pelos bancos foi de 52,1% ao ano para 53,1%. Entre as empresas, o custo dos financiamentos ficou estável em 28,3%. O movimento de alta dos juros bancários coincide com a alta da Selic, que começou a subir em em abril e hoje está em 13,75% ao ano.
Mesmo com juros mais altos e crise nos mercados financeiros, porém, os números do BC mostram que o crédito se mantém em expansão no país. No mês passado, o total de empréstimos disponibilizado pelo sistema financeiro foi a R$ 1,149 trilhão, valor que corresponde a 39,1% do PIB (Produto Interno Bruto), nível mais alto já registrado pela série estatística do BC, que começa em 1994.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que parte do crescimento no saldo de financiamentos é explicada pela alta do dólar, que corrige parte dos empréstimos contraídos por empresas. No mês passado, a alta da moeda dos EUA foi de 17%, o que fez com que o total de empréstimos em dólar liberados pelos bancos aumentasse 12%.
Se desconsiderado o efeito do câmbio, a alta no volume de crédito teria sido de 2,2% em setembro, em vez dos 3,5% efetivamente apurados. Ainda assim, Lopes diz que o resultado é bom, mas que os efeitos da crise sobre a oferta de financiamentos só devem ser sentidos nos dados deste mês. "Eu diria que já há uma acomodação, especialmente [no crédito] a pessoas físicas. Em outubro reside o maior impacto da crise." Nos primeiros oito dias úteis deste mês, segundo o BC, a concessão de empréstimos sofreu redução de 13% ante os números do início de setembro. Os dados do BC mostram ainda que houve alta de 2% nos empréstimos por meio de cheque especial e 1,7% nas compras com cartão de crédito em setembro.
Para Marcelo Moura, professor do Ibmec SP, a crise pode afetar a oferta de crédito no curto prazo, mas não deve reverter a tendência de expansão dos empréstimos observada de uns anos para cá. "O mercado [de crédito] brasileiro não deixou de ser atrativo. Emprestar com taxa de juros como as observadas hoje continua sendo atrativo." Para Moura, o crédito deve continuar em alta porque a economia brasileira continua crescendo mesmo com a crise, embora a expansão possa acontecer a taxas mais modestas.


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