São Paulo, terça-feira, 23 de novembro de 2004

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LUÍS NASSIF

Furtado e o Plano de Metas

Morto no sábado, o economista Celso Furtado tornou-se uma lenda em vida, como dos maiores (se não o maior) economistas brasileiros da história.
Na historiografia, tornou-se um dos intérpretes do país, com "A Formação Econômica do Brasil", de 1957.
Na teoria econômica, ao lado do argentino Raúl Prebisch -ambos lotados na Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe) órgão da ONU-, desenvolveu estudos que serviram de base para a aceleração dos programas de industrialização por substituição de importações no continente.
Depois, dando-se conta de que a industrialização, por si, não resolveria problemas de desigualdade regional, Furtado ajudou a pensar o Nordeste e se tornou o primeiro superintendente da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), no governo Juscelino Kubitschek. Foi nessa condição que se transformou na grande referência intelectual da geração estudantil dos anos 60.
O lado menos conhecido de Furtado -e dos mais relevantes- é o do economista que trouxe para a política econômica brasileira a noção de planejamento macroeconômico. Esse arcabouço foi fundamental para o Plano de Metas, de JK, conforme relato do próprio Furtado publicado no livro "JK, O Estadista do Desenvolvimento" (1991).
Em geral, pensa-se no Plano de Metas como uma sucessão de projetos setoriais independentes, nos quais se utilizou o novo ferramental de análise de projetos, que chegou ao país no bojo da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos.
Mas, por trás dos projetos setoriais, havia uma amarração macroeconômica sofisticada.
Funcionário do BNDE, Celso Furtado foi trabalhar na Cepal. Lá, no início dos anos 50, montou um grupo que começou a desenvolver técnicas de análises econômicas baseada em modelos macroeconômicos, que permitiam projeções e correlações entre metas de produção setorial.
De volta ao BNDE, constituiu um grupo de trabalho para estudar a aplicação desses métodos no Brasil. Sua equipe era constituída por Américo Barbosa de Oliveira, Pelúcio Ferreira, Regino Botti, entre outros.
De 1953 a 1955, o grupo trabalhou em cima de projeções da economia brasileira. Não se tratava de meros exercícios matemáticos, mas de identificar formas de aumentar a taxa de crescimento, definindo cenários, constrangimentos para cada caso, identificando o que era necessário para que as taxas de crescimento alcançassem os limites propostos, dentro de um esforço sistemático de muitos anos.
Os modelos levavam em conta hipóteses sobre o comércio internacional, produtividade dos investimentos, taxa de investimento, a partir daí sobre as necessidades de poupança interna, impactos sobre o balanço de pagamentos etc.
Foram esses estudos que serviram de amarração para os projetos setoriais do Plano de Metas. Pouco antes de JK assumir, Furtado foi passar uma temporada em Paris, o que explica o fato de seu nome ser pouco associado ao Plano de Metas.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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