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LUÍS NASSIF
Furtado e o
Plano de Metas
Morto no sábado, o economista Celso Furtado
tornou-se uma lenda em vida,
como dos maiores (se não o
maior) economistas brasileiros da história.
Na historiografia, tornou-se
um dos intérpretes do país,
com "A Formação Econômica
do Brasil", de 1957.
Na teoria econômica, ao lado do argentino Raúl Prebisch
-ambos lotados na Cepal
(Comissão Econômica para a
América Latina e Caribe) órgão da ONU-, desenvolveu
estudos que serviram de base
para a aceleração dos programas de industrialização por
substituição de importações
no continente.
Depois, dando-se conta de
que a industrialização, por si,
não resolveria problemas de
desigualdade regional, Furtado ajudou a pensar o Nordeste
e se tornou o primeiro superintendente da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), no governo Juscelino Kubitschek. Foi
nessa condição que se transformou na grande referência
intelectual da geração estudantil dos anos 60.
O lado menos conhecido de
Furtado -e dos mais relevantes- é o do economista que
trouxe para a política econômica brasileira a noção de
planejamento macroeconômico. Esse arcabouço foi fundamental para o Plano de Metas,
de JK, conforme relato do próprio Furtado publicado no livro "JK, O Estadista do Desenvolvimento" (1991).
Em geral, pensa-se no Plano
de Metas como uma sucessão
de projetos setoriais independentes, nos quais se utilizou o
novo ferramental de análise
de projetos, que chegou ao
país no bojo da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos.
Mas, por trás dos projetos setoriais, havia uma amarração
macroeconômica sofisticada.
Funcionário do BNDE, Celso
Furtado foi trabalhar na Cepal. Lá, no início dos anos 50,
montou um grupo que começou a desenvolver técnicas de
análises econômicas baseada
em modelos macroeconômicos, que permitiam projeções e
correlações entre metas de
produção setorial.
De volta ao BNDE, constituiu um grupo de trabalho para estudar a aplicação desses
métodos no Brasil. Sua equipe
era constituída por Américo
Barbosa de Oliveira, Pelúcio
Ferreira, Regino Botti, entre
outros.
De 1953 a 1955, o grupo trabalhou em cima de projeções
da economia brasileira. Não
se tratava de meros exercícios
matemáticos, mas de identificar formas de aumentar a taxa de crescimento, definindo
cenários, constrangimentos
para cada caso, identificando
o que era necessário para que
as taxas de crescimento alcançassem os limites propostos,
dentro de um esforço sistemático de muitos anos.
Os modelos levavam em
conta hipóteses sobre o comércio internacional, produtividade dos investimentos, taxa
de investimento, a partir daí
sobre as necessidades de poupança interna, impactos sobre
o balanço de pagamentos etc.
Foram esses estudos que serviram de amarração para os
projetos setoriais do Plano de
Metas. Pouco antes de JK assumir, Furtado foi passar uma
temporada em Paris, o que explica o fato de seu nome ser
pouco associado ao Plano de
Metas.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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