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ECONOMIA DE MERCADO
Para terem novo status, chineses ameaçaram com soja
China "usa" Brasil contra a Argentina
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
A concessão do status de ""economia de mercado" à China pelo
Brasil e a ameaça de comprar apenas soja brasileira levaram a Argentina a também reconhecer
aquele país, na semana passada,
como um dos que respeitam o livre comércio. O novo status garante a abertura de novos mercados para a China.
O governo argentino não pretendia aceitar o pedido chinês,
mas se viu impelido pela atuação
brasileira, que dera à China o status por ela almejado.
A aceitação provocou protestos
de industriais dos dois países. A
sugestão de que a China poderia
deixar de comprar a soja argentina foi feita ao chefe de gabinete argentino, Alberto Fernández, durante reunião com a diplomacia
chinesa em Buenos Aires.
A Argentina estava disposta a
negociar essa declaração de que o
país asiático adotou o livre mercado, mas mediante compensações.
Em meio a uma discussão, os delegados chineses disseram que
passariam a comprar somente soja do Brasil e vinho do Chile.
Fernández classificou internamente a declaração como uma
ameaça e não teve outra atitude a
tomar que não fosse aceitar o novo status chinês.
Criou-se, a partir disso, um mal-estar: o Brasil, ao reconhecer a
China como economia de mercado (a visita da delegação chinesa
ocorreu antes para o Brasil), não
consultou os demais países do
Mercosul a respeito.
Resultado: a Argentina concedeu mais do que pretendia em
troca de US$ 19 bilhões apenas em
cartas de intenção.
Especialmente em razão do
comportamento chinês na importação da soja, Brasil e Argentina normalmente regateariam
mais para considerar o país asiático uma ""economia de mercado".
Supostamente para forçar a queda nos preços, os chineses, neste
ano, chegaram a bloquear navios
brasileiros com soja. As alegações
utilizadas foram fitossanitárias.
O ministro da Economia argentino, Roberto Lavagna, que era
contra a concessão do status aos
chineses, já planeja criar salvaguardas na forma de decretos para proteger produtos do seu país
em casos de prejuízo.
Como a China deixa de ser um
mercado em transição para o livre
comércio e passa a ser um livre
mercado, de acordo com o raciocínio da área econômica e de empresários argentinos, o país ficou
mais vulnerável a eventuais dumpings chineses.
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