São Paulo, terça-feira, 23 de novembro de 2004

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ECONOMIA DE MERCADO

Para terem novo status, chineses ameaçaram com soja

China "usa" Brasil contra a Argentina

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

A concessão do status de ""economia de mercado" à China pelo Brasil e a ameaça de comprar apenas soja brasileira levaram a Argentina a também reconhecer aquele país, na semana passada, como um dos que respeitam o livre comércio. O novo status garante a abertura de novos mercados para a China.
O governo argentino não pretendia aceitar o pedido chinês, mas se viu impelido pela atuação brasileira, que dera à China o status por ela almejado.
A aceitação provocou protestos de industriais dos dois países. A sugestão de que a China poderia deixar de comprar a soja argentina foi feita ao chefe de gabinete argentino, Alberto Fernández, durante reunião com a diplomacia chinesa em Buenos Aires.
A Argentina estava disposta a negociar essa declaração de que o país asiático adotou o livre mercado, mas mediante compensações. Em meio a uma discussão, os delegados chineses disseram que passariam a comprar somente soja do Brasil e vinho do Chile.
Fernández classificou internamente a declaração como uma ameaça e não teve outra atitude a tomar que não fosse aceitar o novo status chinês.
Criou-se, a partir disso, um mal-estar: o Brasil, ao reconhecer a China como economia de mercado (a visita da delegação chinesa ocorreu antes para o Brasil), não consultou os demais países do Mercosul a respeito.
Resultado: a Argentina concedeu mais do que pretendia em troca de US$ 19 bilhões apenas em cartas de intenção.
Especialmente em razão do comportamento chinês na importação da soja, Brasil e Argentina normalmente regateariam mais para considerar o país asiático uma ""economia de mercado". Supostamente para forçar a queda nos preços, os chineses, neste ano, chegaram a bloquear navios brasileiros com soja. As alegações utilizadas foram fitossanitárias.
O ministro da Economia argentino, Roberto Lavagna, que era contra a concessão do status aos chineses, já planeja criar salvaguardas na forma de decretos para proteger produtos do seu país em casos de prejuízo.
Como a China deixa de ser um mercado em transição para o livre comércio e passa a ser um livre mercado, de acordo com o raciocínio da área econômica e de empresários argentinos, o país ficou mais vulnerável a eventuais dumpings chineses.


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