São Paulo, quinta-feira, 23 de novembro de 2006

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Sob Lula, consumo cresce mais entre pobres

Volume médio adquirido pelas classes D e E subiu 11%, contra média nacional de 5%, segundo estudo em 8.200 domicílios

Aumentaram também as compras de produtos práticos, como suco pronto e massa instantânea, entre a população de baixa renda

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Aumentou 5% o volume de produtos comprados pelos brasileiros na era Lula, de 2003 até agosto de 2006. Dessa cesta um pouco mais gorda, fazem parte os itens alimentícios, de limpeza e higiene e beleza. No mesmo período, os gastos (nominais) para compras dessas mercadorias cresceram 31%. Foram os mais pobres que compraram mais: há quatro anos, a lista de supermercado das classes D e E era composta por 21 categorias (como farinha, leite, sabão em pedra etc). Em 2006, o número de categorias subiu para 27 (alta de 29%).
Os dados fazem parte da pesquisa "O Consumidor na Era Lula", apresentada ontem, em São Paulo, pela consultoria LatinPanel. Foram visitados 8.200 domicílios semanalmente nos últimos anos no país, com análise de hábitos de consumo e gastos, em cidades com mais de 10 mil habitantes.
Essa alta de 29% no número de categorias compradas é a maior entre todas as classes de renda. Mais: nas camadas de menor poder de compra (D e E), o volume médio adquirido subiu 11% nos últimos quatro anos. Acima, portanto, da média de 5%. O gasto também teve elevação considerável entre os mais pobres, de 35%.
No alto da pirâmide social, o grupo de maior renda (A e B) apresentou aumentos mais discretos no consumo. A alta na quantidade de itens adquiridos por eles foi de 5% de 2003 a 2006, enquanto na classe C a expansão foi de 8%. Os gastos, porém, subiram na mesma velocidade (35% e 34%, respectivamente). "Percebeu-se não apenas uma elevação maior no volume comprado pelos grupos de renda menor como uma certa sofisticação nas compras. O acesso ao crédito fácil, inclusive no varejo de alimentos, e a deflação nos preços nos supermercados explicam, em parte, esse quadro", disse Margareth Utimura, diretora comercial da LatinPanel.

Consumo prático
Na lista de compras aparecem as mudanças. De 2003 para cá, os mais pobres passaram a gastar dinheiro com produtos classificados como práticos.
São itens como suco pronto para beber e massa instantânea, que respondiam por 24% dos gastos nas lojas há quatro anos e agora são 28%. Nessa mesma linha, os chamados produtos supérfluos ganharam espaço: são 33% dos gastos, contra 29% em 2001.
Para Denis Ribeiro, economista da Abia, que representa a indústria de alimentos, espera-se uma alta de 3,2% na produção do setor em 2006. A base é elevada: em 2005, o crescimento foi de 3,6%. "É preciso uma expansão sustentada. Crédito fácil precisa ser barato, com juros menores, resultado de um "spread" bancário menor. O dinamismo no consumo só vai continuar em 2007 se a expansão acontecer em cima de bases sólidas, com aumento na renda real, por exemplo", afirmou Ribeiro.
Ana Claudia Fioratti, diretora da LatinPanel, concorda. "Não há esgotamento no endividamento da população, o que poderia fazer o consumo perder vigor. Mas é claro que uma expansão no rendimento calcada em programas sociais [como o Bolsa Família] não dará gás ao mercado por tempo indeterminado."


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