|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Tesouro usará dólares em fundo soberano
Mantega afirma que governo quer criar fundo com a compra de moeda excedente no mercado e cita valor inicial de US$ 10 bi
BNDES será beneficiado, segundo ministro; idéia em
discussão na Fazenda é priorizar investimentos
de empresas brasileiras
SHEILA D'AMORIM
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Tesouro vai aumentar suas
intervenções no mercado câmbio e usará os dólares adquiridos para criar um fundo soberano no exterior que financiará
investimentos de empresas
brasileiras. Na prática, com a
medida que está sendo preparada pela equipe do ministro
Guido Mantega (Fazenda), o
Tesouro assumirá, ao longo do
tempo, o papel atualmente do
Banco Central de controlar o
excesso de moeda estrangeira
na economia que tem feito o
real se valorizar ante o dólar.
"Vamos criar um fundo soberano não com as reservas existentes. Mas com a aquisição de
dólares que estão sobrando no
mercado. Ainda não definimos
qual é o montante. Imagino algo como US$ 10 bilhões, para
começar", disse, ontem, Mantega, sem especificar a data de
criação do novo fundo.
Apesar de o ministro insistir
em que as reservas continuarão
aumentando, a atuação do Tesouro permitirá ao governo diminuir o ritmo de crescimento
desses recursos -uma espécie
de poupança pública importante para mostrar que o país tem
condições de honrar seus compromissos externos.
Somente neste ano, as reservas cresceram US$ 74 bilhões
com as compras de dólares feitas pelo BC e já somam US$ 176
bilhões. O problema é que manter um estoque tão elevado,
quase que integralmente aplicado em títulos do Tesouro
norte-americano, tem um custo fiscal alto para o governo.
Títulos públicos
O BC compra os dólares em
excesso na economia para evitar que o câmbio caia mais.
Com isso, retira a moeda estrangeira e aumenta a quantidade de reais em circulação. Para evitar pressão na inflação, o
governo emite títulos públicos
e diminui o total de reais disponíveis na economia. Como a
rentabilidade obtida com a
aplicação das reservas no exterior é menor que o custo da dívida interna oferecida no mercado, a diferença tem que ser
bancada pelos cofres públicos.
Segundo a Folha apurou, a
expectativa da equipe econômica é que, com o fundo, esse
impacto deverá ser minimizado porque as intervenções do
BC no mercado de câmbio tendem a ser menores do que as
atuais, ficando limitadas a "pequenos ajustes". Isso considerando que o fluxo de dólares
para o Brasil não manterá o ritmo verificado neste ano por
muito mais tempo.
O Tesouro comprará os dólares excedentes, que, em vez de
irem para as reservas, serão
transferidos para o fundo. Sem
a preocupação de um custo fiscal alto, a Fazenda terá mais liberdade para atuar ajudando a
puxar a cotação do real para cima da forma como definir o governo. Os recursos serão aplicados de forma mais agressiva
em projetos com retorno mais
elevado do que os 4,5% pagos
pelos títulos do Tesouro dos
EUA. Em compensação, também terão mais risco.
A idéia em discussão na Fazenda é priorizar investimentos de empresas brasileiras. Os
empresários nacionais que
precisam de dinheiro para realizar novos projetos poderão
emitir papéis no exterior, que
serão comprados pelo fundo.
O BNDES é um dos grandes
interessados na implementação desse novo fundo. Conforme Mantega confirmou, ontem, o banco da União será beneficiado. "O BNDES poderá se
beneficiar das aplicações que
esse fundo de reservas fará
porque ele vai comprar títulos.
Fazer operações financeiras. E
o BNDES é um forte candidato
a apresentar os seus títulos externos para que sejam comprados por esse fundo. É uma maneira de dar "funding" para o
BNDES", disse o ministro, referindo-se a fontes de recursos
para financiamentos.
Para evitar que as compras
feitas pelo novo fundo tenham
impacto na dívida líquida, segundo pessoas que participam
das discussões ouvidas pela
Folha, as aplicações deverão
ser concentradas em "ativos financeiros", e não em participações diretas nas empresas. Assim, ao comprar um bônus emitido lá fora pelo setor privado, a
operação não é contabilizada
como uma despesa.
Uma preocupação dos críticos do fundo é que, ao transferir para o Tesouro as intervenções no mercado de câmbio, o
governo diminuirá a transparência dessas operações. Hoje,
o BC anuncia quando realizará
os leilões de câmbio e o mercado estima o volume das compras a partir da variação das reservas internacionais, divulgadas no dia seguinte.
Já a atuação do Tesouro não
tem essa transparência e ninguém sabe ao certo quanto foi
adquirido. Hoje, porém, o Tesouro só realiza compras para
quitar dívidas externas -e isso
com um prazo de até 12 meses
de antecedência. Com o novo
fundo, aumentará o poder dessas intervenções.
Texto Anterior: Otimismo: Sobe índice de confiança do consumidor de SP Próximo Texto: Frase Índice
|