|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Equipe econômica diverge sobre aplicação
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A criação de um fundo para
diversificar a aplicação de dólares que sobram atualmente no
mercado e acabam engrossando as reservas internacionais é
o novo embate nos bastidores
da equipe econômica. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, até admitia a
idéia, mas vinha empurrando
qualquer definição sobre o assunto para um futuro distante.
O ministro Guido Mantega
(Fazenda) deu 30 dias para sua
equipe desenhar a proposta do
novo fundo, prazo já encerrado.
As divergência poderão fazer
com que o Brasil tenha dois
fundos soberanos. Um voltado
para investimentos produtivos,
controlado pela Fazenda, e outro para diversificar a aplicação
das reservas, que pode ser criado no futuro pelo BC.
O BC já tinha pronto esboço
de um projeto elaborado pelo
então diretor de Política Monetária, Rodrigo Azevedo, que
saiu do cargo no início do ano
deixando o assunto em banho
maria. A idéia com o fundo soberano era diversificar as moedas em que os recursos são investidos e aumentar o prazo
dos títulos atuais. Ao mesmo
tempo, o prejuízo no balanço
do banco causado pelas reservas internacionais seria parcialmente resolvido.
Como são incluídas na contabilidade do BC em reais, uma
valorização da moeda nacional
como vem ocorrendo, diminui
o valor das reservas e dá prejuízo ao BC. Se o real se desvaloriza, o BC lucra. Quanto maior o
montante das reservas maior o
impacto dessa oscilação.
Transferindo parte dos recursos para um fundo, o BC diminui o peso das reservas no
balanço. Se bem aplicado, dizem defensores da idéia, o fundo pode diminuir o custo fiscal
do governo para carregar um
volume tão elevado de reservas.
Aí estaria outro ponto de debate: o patamar ideal de reservas a
partir do qual o excedente de
recursos será direcionado para
o fundo soberano?
Mantega defende que isso
poderá acontecer quando as reservas atingirem US$ 180 bilhões, valor que cobre a dívida
externa pública que, em setembro, chegou a US$ 86 bilhões.
Meirelles é favorável que o fundo seja constituído com o que
exceder a soma da dívida externa pública e privada que chegam a US$ 193,7 bilhões.
Como as reservas atualmente estão em US$ 176 bilhões, seria preciso esperar elas crescerem mais de US$ 6 bilhões.
Meirelles queria que a gestão ficasse com o BC, defende aporte
inicial pequeno e uma aplicação mais conservadora.
Mantega disse que o aporte
inicial pode ser de US$ 10 bilhões e quer uma atuação mais
ousada do fundo, estimulando
investimentos e com administração por conta do Tesouro.
O tema está sendo encaminhado pela Fazenda e o BC tem
colaborado. No entanto, a situação desagrada diretores do
banco contrários à criação do
fundo neste momento e teria se
somado às insatisfações do diretor Paulo Vieira da Cunha
(Assunto Internacionais), que
pediu demissão do BC há duas
semanas.
(Sheila D'Amorim e Juliana Rocha)
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Fundo do FGTS pode ser usado pelo BNDES Índice
|