São Paulo, sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Equipe econômica diverge sobre aplicação

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A criação de um fundo para diversificar a aplicação de dólares que sobram atualmente no mercado e acabam engrossando as reservas internacionais é o novo embate nos bastidores da equipe econômica. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, até admitia a idéia, mas vinha empurrando qualquer definição sobre o assunto para um futuro distante. O ministro Guido Mantega (Fazenda) deu 30 dias para sua equipe desenhar a proposta do novo fundo, prazo já encerrado.
As divergência poderão fazer com que o Brasil tenha dois fundos soberanos. Um voltado para investimentos produtivos, controlado pela Fazenda, e outro para diversificar a aplicação das reservas, que pode ser criado no futuro pelo BC.
O BC já tinha pronto esboço de um projeto elaborado pelo então diretor de Política Monetária, Rodrigo Azevedo, que saiu do cargo no início do ano deixando o assunto em banho maria. A idéia com o fundo soberano era diversificar as moedas em que os recursos são investidos e aumentar o prazo dos títulos atuais. Ao mesmo tempo, o prejuízo no balanço do banco causado pelas reservas internacionais seria parcialmente resolvido.
Como são incluídas na contabilidade do BC em reais, uma valorização da moeda nacional como vem ocorrendo, diminui o valor das reservas e dá prejuízo ao BC. Se o real se desvaloriza, o BC lucra. Quanto maior o montante das reservas maior o impacto dessa oscilação.
Transferindo parte dos recursos para um fundo, o BC diminui o peso das reservas no balanço. Se bem aplicado, dizem defensores da idéia, o fundo pode diminuir o custo fiscal do governo para carregar um volume tão elevado de reservas. Aí estaria outro ponto de debate: o patamar ideal de reservas a partir do qual o excedente de recursos será direcionado para o fundo soberano?
Mantega defende que isso poderá acontecer quando as reservas atingirem US$ 180 bilhões, valor que cobre a dívida externa pública que, em setembro, chegou a US$ 86 bilhões. Meirelles é favorável que o fundo seja constituído com o que exceder a soma da dívida externa pública e privada que chegam a US$ 193,7 bilhões.
Como as reservas atualmente estão em US$ 176 bilhões, seria preciso esperar elas crescerem mais de US$ 6 bilhões. Meirelles queria que a gestão ficasse com o BC, defende aporte inicial pequeno e uma aplicação mais conservadora.
Mantega disse que o aporte inicial pode ser de US$ 10 bilhões e quer uma atuação mais ousada do fundo, estimulando investimentos e com administração por conta do Tesouro.
O tema está sendo encaminhado pela Fazenda e o BC tem colaborado. No entanto, a situação desagrada diretores do banco contrários à criação do fundo neste momento e teria se somado às insatisfações do diretor Paulo Vieira da Cunha (Assunto Internacionais), que pediu demissão do BC há duas semanas.
(Sheila D'Amorim e Juliana Rocha)


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Fundo do FGTS pode ser usado pelo BNDES
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.