|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mulheres ricas estão mais pessimistas com a crise
Consumidoras das classes C e D esperam não parar de viver sonho do crédito
Pesquisa do Ibope mostra
que mulheres de menor
poder aquisitivo acreditam
que crise acabe em 2008 e
confiam mais no governo
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
A dona de casa Catherine
Moura reparou que as vitrines
da rua Oscar Freire, onde fazia
compras na última quarta-feira, estão menos ostentatórias
neste Natal. Já a promotora de
vendas Luciana da Silva, que foi
de Guarulhos à 25 de Março
também para as compras, notou o oposto: suas amigas têm
se preocupado em montar arvorezinhas e fazer a decoração
natalina em casa, fato que não
acontecia em anos anteriores.
Apesar da realidade oposta
da classe que está acostumada a
consumir o que deseja e da que
acabou de conquistar o poder
de compra, as duas sabem da
ameaça da crise. Como elas,
42% das mulheres brasileiras
esperam um Natal mais magro,
segundo pesquisa do instituto
de pesquisa Ibope Inteligência.
Tanto Catherine quanto Luciana poupam como podem.
Catherine tem filhos na Espanha, na Suíça e no Chile e tenta
o Skype antes de pegar o telefone. Já Luciana deixou a troca
do fogão para o ano que vem.
Esse retrato também foi
mostrado por quase 70% das
mulheres, que dizem estar
usando a razão na hora das
compras. Das 550 entrevistadas nos dias 12 e 13 de novembro, em seis capitais, 17% terão
um Natal dentro do orçamento.
"Vou bater mais perna neste
ano", diz Marcela Fongaro, 26,
sócia da empresa de design de
interiores Bendita Festa. "Na
área em que trabalho, os cortes
aparecem primeiro. Conheço
muita gente que trabalha com
arquitetura que foi demitida."
As semelhanças na visão que
as mulheres de classes sociais
diferentes têm da crise, no entanto, terminam aí. As que pertencem às classes C e D não só
estão mais otimistas como
acreditam que a crise durará
menos e esperam voltar a consumir em menos tempo. Elas
também acreditam que o país e
o governo estão mais bem preparados para lidar com a crise.
A pesquisa mostrou, por
exemplo, que cerca de 40% das
mulheres da classe A acreditam
que o Brasil não está bem, mas
vai melhorar. Na classe C, o
percentual sobe para 46%.
Já 52% das mulheres com
maior poder aquisitivo acreditam que, apesar de sólida, a economia brasileira irá sofrer com
a crise. "Não adianta tapar o sol
com a peneira", diz Catherine,
que estava nos EUA durante a
quebra do Lehman Brothers.
"A crise está aí e virá forte."
Na classe C, 41% esperam impacto na economia; na D, o percentual é de 36%. "Espero um
ano novo muito melhor, cheio
de coisas boas", afirma a comerciante Aleida Queiróz, que
foi à 25 de Março comprar a decoração para sua loja, Parole
Moda Jovem, em Vitória.
Segundo Mauro Motoryn,
presidente da agência de propaganda 141 Soho Square, que
encomendou a pesquisa ao Ibope, as mulheres de menor poder aquisitivo parecem não
querer acreditar na crise.
"Elas estão tão felizes de finalmente terem entrado no
mercado de consumo que até
fecham o bolso agora", diz Motoryn. "Mas estão esperando
muito a volta do crédito no início do ano para poder continuar comprando."
Isso porque, acredita Motoryn, a crise ainda não chegou
a suas casas. As mulheres ainda
não viram na vizinhança ou na
família a perda do emprego ou
o atraso nas prestações.
É o caso da professora Daiane Rodrigues, 20. Em São Mateus, onde mora, ela não conhece ninguém que perdeu o emprego. Sabe, no entanto, da crise e, se no ano passado comprou os presentes perto de casa, neste ano foi à 25 de Março.
"Eu precisava também de um
notebook, mas, com o dólar subindo, vou esperar mais um
pouquinho", diz Daiane.
Medo do carnê
A estratégia faz sentido, principalmente quando se leva em
conta que o temor das classes C
e D que mais cresceu em relação à última pesquisa, de outubro, é de, com a crise, não conseguir pagar as prestações devidas. Em outubro, 13% das mulheres de menor renda tinham
esse temor. Já em novembro, o
percentual estava em 18%.
Com as notícias dos investimentos do governo em setores
variados para tentar minimizar
o impacto da ameaça, as mulheres das classes C e D também
melhoraram suas expectativas
em relação ao preparo do poder
público para lidar com a crise.
Na versão anterior da pesquisa, só 8% achavam que o governo estava bastante preparado e
conseguirá resolver a crise. Em
novembro, o percentual saltou
para 18%. Em outubro, 43%
achavam que o governo não estava preparado para enfrentar
a crise. Em novembro, 31% tinham essa percepção. A margem de erro da pesquisa é de 4
pontos percentuais.
Texto Anterior: Conjunto de erros levou setor à penúria nos EUA, diz especialista Próximo Texto: Intenção de consumo cresce em 2009; para 80% das mulheres, ano será melhor Índice
|