São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2008

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Mulheres ricas estão mais pessimistas com a crise

Consumidoras das classes C e D esperam não parar de viver sonho do crédito

Pesquisa do Ibope mostra que mulheres de menor poder aquisitivo acreditam que crise acabe em 2008 e confiam mais no governo


CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

A dona de casa Catherine Moura reparou que as vitrines da rua Oscar Freire, onde fazia compras na última quarta-feira, estão menos ostentatórias neste Natal. Já a promotora de vendas Luciana da Silva, que foi de Guarulhos à 25 de Março também para as compras, notou o oposto: suas amigas têm se preocupado em montar arvorezinhas e fazer a decoração natalina em casa, fato que não acontecia em anos anteriores.
Apesar da realidade oposta da classe que está acostumada a consumir o que deseja e da que acabou de conquistar o poder de compra, as duas sabem da ameaça da crise. Como elas, 42% das mulheres brasileiras esperam um Natal mais magro, segundo pesquisa do instituto de pesquisa Ibope Inteligência.
Tanto Catherine quanto Luciana poupam como podem. Catherine tem filhos na Espanha, na Suíça e no Chile e tenta o Skype antes de pegar o telefone. Já Luciana deixou a troca do fogão para o ano que vem.
Esse retrato também foi mostrado por quase 70% das mulheres, que dizem estar usando a razão na hora das compras. Das 550 entrevistadas nos dias 12 e 13 de novembro, em seis capitais, 17% terão um Natal dentro do orçamento.
"Vou bater mais perna neste ano", diz Marcela Fongaro, 26, sócia da empresa de design de interiores Bendita Festa. "Na área em que trabalho, os cortes aparecem primeiro. Conheço muita gente que trabalha com arquitetura que foi demitida."
As semelhanças na visão que as mulheres de classes sociais diferentes têm da crise, no entanto, terminam aí. As que pertencem às classes C e D não só estão mais otimistas como acreditam que a crise durará menos e esperam voltar a consumir em menos tempo. Elas também acreditam que o país e o governo estão mais bem preparados para lidar com a crise.
A pesquisa mostrou, por exemplo, que cerca de 40% das mulheres da classe A acreditam que o Brasil não está bem, mas vai melhorar. Na classe C, o percentual sobe para 46%.
Já 52% das mulheres com maior poder aquisitivo acreditam que, apesar de sólida, a economia brasileira irá sofrer com a crise. "Não adianta tapar o sol com a peneira", diz Catherine, que estava nos EUA durante a quebra do Lehman Brothers. "A crise está aí e virá forte."
Na classe C, 41% esperam impacto na economia; na D, o percentual é de 36%. "Espero um ano novo muito melhor, cheio de coisas boas", afirma a comerciante Aleida Queiróz, que foi à 25 de Março comprar a decoração para sua loja, Parole Moda Jovem, em Vitória.
Segundo Mauro Motoryn, presidente da agência de propaganda 141 Soho Square, que encomendou a pesquisa ao Ibope, as mulheres de menor poder aquisitivo parecem não querer acreditar na crise.
"Elas estão tão felizes de finalmente terem entrado no mercado de consumo que até fecham o bolso agora", diz Motoryn. "Mas estão esperando muito a volta do crédito no início do ano para poder continuar comprando."
Isso porque, acredita Motoryn, a crise ainda não chegou a suas casas. As mulheres ainda não viram na vizinhança ou na família a perda do emprego ou o atraso nas prestações.
É o caso da professora Daiane Rodrigues, 20. Em São Mateus, onde mora, ela não conhece ninguém que perdeu o emprego. Sabe, no entanto, da crise e, se no ano passado comprou os presentes perto de casa, neste ano foi à 25 de Março.
"Eu precisava também de um notebook, mas, com o dólar subindo, vou esperar mais um pouquinho", diz Daiane.

Medo do carnê
A estratégia faz sentido, principalmente quando se leva em conta que o temor das classes C e D que mais cresceu em relação à última pesquisa, de outubro, é de, com a crise, não conseguir pagar as prestações devidas. Em outubro, 13% das mulheres de menor renda tinham esse temor. Já em novembro, o percentual estava em 18%.
Com as notícias dos investimentos do governo em setores variados para tentar minimizar o impacto da ameaça, as mulheres das classes C e D também melhoraram suas expectativas em relação ao preparo do poder público para lidar com a crise.
Na versão anterior da pesquisa, só 8% achavam que o governo estava bastante preparado e conseguirá resolver a crise. Em novembro, o percentual saltou para 18%. Em outubro, 43% achavam que o governo não estava preparado para enfrentar a crise. Em novembro, 31% tinham essa percepção. A margem de erro da pesquisa é de 4 pontos percentuais.


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