São Paulo, quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

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BC vê demanda alta e indica juro maior

Autoridade monetária aponta economia aquecida e acentua necessidade de agir preventivamente contra a inflação

BC estima crescimento de 5,8% em 2010, índice maior que o previsto pelo mercado, e inflação de 4,6%, acima do centro da meta

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com a projeção de crescimento para 2010 mais otimista que a dos economistas do setor privado e as do próprio governo, inflação ligeiramente acima do centro da meta de 4,5% e risco de pressão ainda maior nos preços, o Banco Central reforçou ontem o discurso conservador. Acentuou a necessidade de agir preventivamente para conter picos inflacionários e indicou que está com o dedo no gatilho para aumentar os juros se a inflação subir mais.
"A inflação brasileira tem persistência acima da média internacional, o que sugere que a autoridade monetária tem sempre que ter em mente que prevenir é melhor do que remediar", disse o diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, ao iniciar os comentários sobre as novas projeções da autoridade monetária.
A taxa básica de juros está em 8,75%, menor nível da história. Instituições financeiras consultadas semanalmente pelo BC estimam que a Selic estará em 10,75% ao final de 2009.
No último relatório trimestral de inflação deste ano, os diretores do BC projetam crescimento de 5,8% para 2010, valor acima dos 5% estimados pelos analistas e até pelo ministro Guido Mantega (Fazenda), tradicionalmente a voz mais otimista do governo quando o assunto é nível de atividade.
Esse crescimento virá depois de um desempenho pífio em 2009, próximo de zero: 0,2% e inflação de 4,3%. O cenário traçado por Mesquita, no entanto, sugere que os sinais até agora de que a economia poderá ter um crescimento mais lento não estão corretos. O frustrante desempenho do terceiro trimestre, quando o IBGE registrou que a economia cresceu menos que o esperado (apenas 1,3% ante o trimestre anterior), pode se transformar em uma elevação de 2% após revisão.
"Não é uma crítica ao IBGE. É normal as agências de estatísticas fazerem revisões", disse o diretor. No relatório, porém, o BC diz ainda que "análises apressadas de estimativas em tempo real do PIB podem levar a conclusões equivocadas". Por isso, defende Mesquita, "os BCs olham uma ampla gama de indicadores, e não só o PIB".
E os outros dados acompanhados pelos diretores do BC para definir o rumo da taxa de juro no país apontam uma aceleração da atividade. Entre eles, estão evolução da renda, das vendas e da taxa de desemprego e a utilização da capacidade instalada na indústria.
Por isso, apesar de o retrato atual do BC ainda mostrar uma inflação na meta (4,6% para 2010), todos os riscos são que ela suba mais, sem que haja atenuantes no horizonte traçado no relatório de inflação.

Estímulos
"O único ponto destacado que poderia agir para amenizar uma possível pressão nos preços é a retirada de estímulos tributários. Mas isso não depende do BC. Todos os demais riscos estão para cima", avalia a economista-chefe do banco ING, Zeina Latif.
Nos cálculos do BC, os gastos do governo deverão crescer 2,9% em 2010, ante 3,5% neste ano. Enquanto isso, o consumo das famílias deve subir 6,1% no ano que vem (3,8% em 2009).
Uma das principais preocupações do BC -o descasamento entre o aumento da demanda por bens e serviços e a capacidade de as empresas produzirem o suficiente para atender esse maior consumo- foi reforçada com o relatório.
Segundo Mesquita, os investimentos devem subir 15,8% em 2010, depois de uma queda de 9,9% neste ano. Se isso se confirmar, a taxa de investimento do país sairá do patamar atual de 17,7% do PIB para 18,6% do PIB no ano que vem.
Esse nível, porém, está abaixo dos 20% do PIB que o governo sempre destacou como importante para sustentar um crescimento da economia em torno de 5%. A combinação de uma economia crescendo quase 6% no ano com uma taxa de investimento ainda baixa pode reforçar a pressão na inflação.
"Isso é algo que temos que observar", afirmou.


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