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BC vê demanda alta e indica juro maior
Autoridade monetária aponta economia aquecida e acentua necessidade de agir preventivamente contra a inflação
BC estima crescimento
de 5,8% em 2010, índice
maior que o previsto pelo
mercado, e inflação de 4,6%,
acima do centro da meta
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a projeção de crescimento para 2010 mais otimista
que a dos economistas do setor
privado e as do próprio governo, inflação ligeiramente acima
do centro da meta de 4,5% e risco de pressão ainda maior nos
preços, o Banco Central reforçou ontem o discurso conservador. Acentuou a necessidade
de agir preventivamente para
conter picos inflacionários e indicou que está com o dedo no
gatilho para aumentar os juros
se a inflação subir mais.
"A inflação brasileira tem
persistência acima da média internacional, o que sugere que a
autoridade monetária tem
sempre que ter em mente que
prevenir é melhor do que remediar", disse o diretor de Política
Econômica do BC, Mário Mesquita, ao iniciar os comentários
sobre as novas projeções da autoridade monetária.
A taxa básica de juros está em
8,75%, menor nível da história.
Instituições financeiras consultadas semanalmente pelo
BC estimam que a Selic estará
em 10,75% ao final de 2009.
No último relatório trimestral de inflação deste ano, os diretores do BC projetam crescimento de 5,8% para 2010, valor
acima dos 5% estimados pelos
analistas e até pelo ministro
Guido Mantega (Fazenda), tradicionalmente a voz mais otimista do governo quando o assunto é nível de atividade.
Esse crescimento virá depois
de um desempenho pífio em
2009, próximo de zero: 0,2% e
inflação de 4,3%. O cenário traçado por Mesquita, no entanto,
sugere que os sinais até agora
de que a economia poderá ter
um crescimento mais lento não
estão corretos. O frustrante desempenho do terceiro trimestre, quando o IBGE registrou
que a economia cresceu menos
que o esperado (apenas 1,3%
ante o trimestre anterior), pode
se transformar em uma elevação de 2% após revisão.
"Não é uma crítica ao IBGE.
É normal as agências de estatísticas fazerem revisões", disse o
diretor. No relatório, porém, o
BC diz ainda que "análises
apressadas de estimativas em
tempo real do PIB podem levar
a conclusões equivocadas". Por
isso, defende Mesquita, "os BCs
olham uma ampla gama de indicadores, e não só o PIB".
E os outros dados acompanhados pelos diretores do BC
para definir o rumo da taxa de
juro no país apontam uma aceleração da atividade. Entre eles,
estão evolução da renda, das
vendas e da taxa de desemprego e a utilização da capacidade
instalada na indústria.
Por isso, apesar de o retrato
atual do BC ainda mostrar uma
inflação na meta (4,6% para
2010), todos os riscos são que
ela suba mais, sem que haja atenuantes no horizonte traçado
no relatório de inflação.
Estímulos
"O único ponto destacado
que poderia agir para amenizar
uma possível pressão nos preços é a retirada de estímulos
tributários. Mas isso não depende do BC. Todos os demais
riscos estão para cima", avalia a
economista-chefe do banco
ING, Zeina Latif.
Nos cálculos do BC, os gastos
do governo deverão crescer
2,9% em 2010, ante 3,5% neste
ano. Enquanto isso, o consumo
das famílias deve subir 6,1% no
ano que vem (3,8% em 2009).
Uma das principais preocupações do BC -o descasamento entre o aumento da demanda por bens e serviços e a capacidade de as empresas produzirem o suficiente para atender
esse maior consumo- foi reforçada com o relatório.
Segundo Mesquita, os investimentos devem subir 15,8%
em 2010, depois de uma queda
de 9,9% neste ano. Se isso se
confirmar, a taxa de investimento do país sairá do patamar
atual de 17,7% do PIB para
18,6% do PIB no ano que vem.
Esse nível, porém, está abaixo dos 20% do PIB que o governo sempre destacou como importante para sustentar um
crescimento da economia em
torno de 5%. A combinação de
uma economia crescendo quase 6% no ano com uma taxa de
investimento ainda baixa pode
reforçar a pressão na inflação.
"Isso é algo que temos que
observar", afirmou.
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