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Petrobras fala em "cogestão" na Braskem
Idealizador do retorno da estatal à petroquímica, diretor de Abastecimento afirma que não era orientação da Petrobras estatizar setor
Paulo Roberto Costa diz que
empresa formada após
aquisição da Quattor terá
gestão compartilhada com
Odebrecht e nega monopólio
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Idealizador da aquisição da
Quattor e da volta da Petrobras
à petroquímica nacional, o diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, disse que a "nova" Braskem será
administrada num regime de
"cogestão" com a Odebrecht.
Ele afirmou que a companhia
não se tornou majoritária porque "não era orientação do nosso acionista majoritário [a
União] estatizar o setor". A seguir, trechos da entrevista.
FOLHA - A Petrobras aportou R$ 2,5
bilhões na Braskem, mas será minoritária no Conselho de Administração e na diretoria. A gestão, então,
será da Odebrecht?
PAULO ROBERTO COSTA - Na realidade, a posição nossa agora é de
cogestão: todos os pontos relevantes têm de ser aprovados
por voto qualificado, por maioria [absoluta]. É uma mudança
radical do que nós tínhamos na
Braskem ou na Quattor. Continua sendo uma empresa privada, zelando pelas boas práticas,
mas com a participação agora
ativa da Petrobras na gestão.
FOLHA - O que levou a Petrobras a
fazer esse investimento?
COSTA - As empresas de petróleo estão todas atuando muito
na área petroquímica. A Petrobras não podia ficar atrás. Estávamos em duas empresas
[Braskem e Quattor], mas entendemos que uma empresa só
seria mais forte para competir
no mercado internacional.
Essa união torna a Braskem a
primeira empresa das Américas. Fica ainda como oitava
companhia do mundo, mas a
estratégia é torná-la a quinta do
mundo nos próximos anos.
FOLHA - Essa meta inclui investimentos em novas unidades?
COSTA - Sim. Temos o Comperj
[central de matérias-primas,
no Rio] e a petroquímica de
Suape [PE]. Esses projetos serão integrados na Braskem.
FOLHA - Não pode haver impasse
no conselho, dominado pela Odebrecht com seis representantes?
COSTA - Todos os pontos importantes de investimento e
desinvestimento e uma série de
pontos são por voto qualificado
e têm de ter aprovação nossa.
FOLHA - E isso estará num acordo
de acionistas?
COSTA - Já está. E tem direito
de veto. Se não for consenso,
veta. Teremos um diretor de investimento e portfólio na Braskem. E já temos um diretor de
tecnologia e materiais e vamos
criar uma diretoria na Braskem
só para o Comperj.
FOLHA - O que levou a Petrobras a
não querer ser majoritária?
COSTA - A gente entende que
uma empresa de capital privado tem mais agilidade. E não é
orientação do nosso acionista
majoritário [o governo federal]
estatizar o setor. Vamos ter um
sistema em que vamos gerir,
juntos, a companhia. Com essa
decisão da Petrobras, a Braskem passa a ser o veículo petroquímico da Petrobras.
FOLHA - A Petroquisa será extinta?
COSTA - A Petroquisa tem
ações da Braskem. Vai continuar, como hoje, sendo uma
empresa de papel.
FOLHA - E como será a divisão dos
investimentos no Comperj?
COSTA - A refinaria será só da
Petrobras. A Braskem estará na
primeira geração [petroquímicos básicos, matérias-primas] e
em toda a segunda geração [resinas plásticas].
FOLHA - Analistas dizem que o negócio cria um monopólio.
COSTA - A gente acha que não
[há monopólio]. Hoje, 30% das
resinas são importadas. Se a
Braskem não tiver preço competitivo, vão importar, como
hoje já se importa. Vamos fazer
um trabalho para ganhar essa
clientela [que importa] e vender o máximo possível aqui,
mas mesmo assim vamos ter
excedente para a venda no exterior. Não há nenhum problema de monopólio.
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