São Paulo, domingo, 24 de janeiro de 2010

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Petrobras fala em "cogestão" na Braskem

Idealizador do retorno da estatal à petroquímica, diretor de Abastecimento afirma que não era orientação da Petrobras estatizar setor

Paulo Roberto Costa diz que empresa formada após aquisição da Quattor terá gestão compartilhada com Odebrecht e nega monopólio

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Idealizador da aquisição da Quattor e da volta da Petrobras à petroquímica nacional, o diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, disse que a "nova" Braskem será administrada num regime de "cogestão" com a Odebrecht. Ele afirmou que a companhia não se tornou majoritária porque "não era orientação do nosso acionista majoritário [a União] estatizar o setor". A seguir, trechos da entrevista.

 

FOLHA - A Petrobras aportou R$ 2,5 bilhões na Braskem, mas será minoritária no Conselho de Administração e na diretoria. A gestão, então, será da Odebrecht?
PAULO ROBERTO COSTA - Na realidade, a posição nossa agora é de cogestão: todos os pontos relevantes têm de ser aprovados por voto qualificado, por maioria [absoluta]. É uma mudança radical do que nós tínhamos na Braskem ou na Quattor. Continua sendo uma empresa privada, zelando pelas boas práticas, mas com a participação agora ativa da Petrobras na gestão.

FOLHA - O que levou a Petrobras a fazer esse investimento?
COSTA - As empresas de petróleo estão todas atuando muito na área petroquímica. A Petrobras não podia ficar atrás. Estávamos em duas empresas [Braskem e Quattor], mas entendemos que uma empresa só seria mais forte para competir no mercado internacional. Essa união torna a Braskem a primeira empresa das Américas. Fica ainda como oitava companhia do mundo, mas a estratégia é torná-la a quinta do mundo nos próximos anos.

FOLHA - Essa meta inclui investimentos em novas unidades?
COSTA - Sim. Temos o Comperj [central de matérias-primas, no Rio] e a petroquímica de Suape [PE]. Esses projetos serão integrados na Braskem.

FOLHA - Não pode haver impasse no conselho, dominado pela Odebrecht com seis representantes?
COSTA - Todos os pontos importantes de investimento e desinvestimento e uma série de pontos são por voto qualificado e têm de ter aprovação nossa.

FOLHA - E isso estará num acordo de acionistas?
COSTA - Já está. E tem direito de veto. Se não for consenso, veta. Teremos um diretor de investimento e portfólio na Braskem. E já temos um diretor de tecnologia e materiais e vamos criar uma diretoria na Braskem só para o Comperj.

FOLHA - O que levou a Petrobras a não querer ser majoritária?
COSTA - A gente entende que uma empresa de capital privado tem mais agilidade. E não é orientação do nosso acionista majoritário [o governo federal] estatizar o setor. Vamos ter um sistema em que vamos gerir, juntos, a companhia. Com essa decisão da Petrobras, a Braskem passa a ser o veículo petroquímico da Petrobras.

FOLHA - A Petroquisa será extinta?
COSTA - A Petroquisa tem ações da Braskem. Vai continuar, como hoje, sendo uma empresa de papel.

FOLHA - E como será a divisão dos investimentos no Comperj?
COSTA - A refinaria será só da Petrobras. A Braskem estará na primeira geração [petroquímicos básicos, matérias-primas] e em toda a segunda geração [resinas plásticas].

FOLHA - Analistas dizem que o negócio cria um monopólio.
COSTA - A gente acha que não [há monopólio]. Hoje, 30% das resinas são importadas. Se a Braskem não tiver preço competitivo, vão importar, como hoje já se importa. Vamos fazer um trabalho para ganhar essa clientela [que importa] e vender o máximo possível aqui, mas mesmo assim vamos ter excedente para a venda no exterior. Não há nenhum problema de monopólio.


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