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OPINIÃO ECONÔMICA
Gastando menos para gastar mais
ROBERTO LUIS TROSTER
A raiz do fracasso de tentativas anteriores de retomada
do crescimento sustentado da
economia brasileira está no déficit
público. Nossa história econômica está permeada de relatos de inflação corroendo nossa poupança, de moratórias manchando
nossa reputação externa, de crises
cambiais paralisando nossa economia e de surtos de crescimento
seguidos de recessões. Todos são
sintomas do mesmo mal: o descontrole das finanças do governo.
Desde a vinda de dom João 6º,
com honrosas exceções, a dificuldade em controlar as contas públicas minou -e segue minando- o nosso desenvolvimento.
Nosso desempenho econômico
é pífio. Apesar do nosso potencial,
somos apenas a 78ª renda per capita do planeta. Para crescer, é necessário produzir, mas o excesso
de impostos emperra a atividade
das empresas. Atualmente, os tributos representam 36% do PIB e,
como não estão uniformemente
distribuídos, os impostos em alguns setores são superiores a
50%. É caro produzir com impostos tão altos. Não só a tributação é
elevada; no mercado de crédito, a
situação é mais grave. Atualmente, um só credor -o governo-
detém mais de dois terços de todo
o crédito disponível. Ou seja, somando-se os créditos de todas as
empresas e pessoas, não se chega
sequer à metade da dívida pública. É demais.
O efeito da voracidade fiscal na
intermediação bancária é emblemático. O governo retira recursos
em todas as fases, atravancando o
processo. Na primeira, quando
um poupador posterga seu consumo e deposita suas economias
numa instituição bancária, o governo fica com 20% de Imposto
de Renda e a CPMF do rendimento do aplicador. Na segunda fase,
os bancos não podem emprestar
o total dos recursos captados, pois
parte dos mesmos é depositada
compulsoriamente no Banco
Central e parte expressiva deles
não é sequer remunerada. E, finalmente, na fase de emprestar o
saldo remanescente, o banco tem
de recolher IOF sobre o principal,
além de PIS e Cofins sobre os juros recebidos.
Após todas as retiradas e cobrindo seus custos, destinará 34%
do lucro para o Imposto de Renda
e contribuição social. É nítido que
a atuação do governo nesse processo inviabiliza o crédito abundante e barato para o investimento e o consumo.
O crédito é caro tanto para o setor privado como para o governo.
A dívida pública encontra-se numa armadilha -como está elevada, os investidores cobram um
prêmio de risco alto para rolá-la, o
que, por sua vez, contribui para
que continue aumentando. Para
agravar a situação, o cenário internacional se apresenta turbulento, em razão da possibilidade
de guerra entre Estados Unidos e
Iraque. Teme-se um círculo vicioso em que câmbio e juros aumentem, a dívida cresça, o risco-país
suba, os prazos encurtem e os
vencimentos se avolumem. Trata-se de um quadro perverso, que é
imperioso inverter.
O controle fiscal é condição necessária para voltar a crescer. Nesse sentido, o aumento da meta de
superávit primário de 3,75% para
4,25%, anunciado neste mês pela
equipe econômica, se mostrou
oportuno e adequado. A elevação
de 0,50 ponto percentual do PIB
mostra de maneira incisiva o esforço do governo para garantir
sua própria solvabilidade e para
inverter o gasto excessivo de recursos públicos. O corte de R$ 14
bilhões sinaliza o comprometimento com uma política macroeconômica adequada para promover o desenvolvimento. É um primeiro passo importante.
Paradoxalmente, o esforço fiscal anunciado não é necessariamente recessivo e poderá ser menor no decorrer do tempo. Se
analisado apenas de maneira estática, um corte de gastos é uma
contração na demanda agregada.
Entretanto, numa visão dinâmica,
o aperto anunciado pode ter o
efeito inverso e ser expansivo,
pois a ação dos demais agentes
nacionais e estrangeiros poderá
superar o impacto contracionista
dos cortes com novos investimentos produtivos, invertendo
expectativas negativas, baixando
juros e colocando a dívida pública
num circulo virtuoso, com prêmios de risco declinantes.
É um passo importante, mas
um primeiro passo apenas, já que
há outros obstáculos a serem superados. A lista é extensa. Reequacionar a Previdência é fundamental, assim como as reformas
tributária, trabalhista e do Judiciário. Geraríamos, dessa forma,
ganhos de produtividade que se
refletiriam de forma duradoura
no desenvolvimento do país e poderíamos ter uma fonte de impostos maior no futuro. A maior barreira a ser superada é a crença de
que nossas dificuldades são insuperáveis. Não são. O Brasil tem
excelentes condições de prosperidade, que não devem mais ser
desperdiçadas.
Roberto Luis Troster é economista-chefe da Febraban e professor titular da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
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