São Paulo, terça, 24 de fevereiro de 1998

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COMÉRCIO EXTERIOR
Apenas 153 companhias respondem por mais da metade (US$ 26 bilhões) das vendas externas do país
Exportação depende de poucas empresas

MAURO ARBEX
da Reportagem Local

Somente 153 empresas foram responsáveis por mais da metade da receita obtida com as exportações brasileiras em 96, ou seja, quase US$ 26 bilhões.
Cerca de 500, de um universo total de mais de 13 mil empresas que participaram do comércio externo do país em 96, responderam por mais de 70% do total das exportações, que alcançaram naquele ano US$ 47,7 bilhões.
Estas são algumas das principais conclusões de um estudo preparado pela Funcex (Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior) e que deverá ser encaminhando ao Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo em março.
O estudo, encomendado pelo MICT à Funcex, é uma das iniciativas do governo visando incrementar as vendas externas do país.
"É um mapeamento atualizado das exportações brasileiras por segmentos e regiões do país", afirma Roberto Giannetti da Fonseca, vice-presidente da Funcex.
O levantamento, segundo ele, servirá para se conhecer melhor o setor exportador brasileiro. "O conhecimento mais detalhado dos exportadores é uma das formas de o Brasil conseguir atingir a meta de dobrar o valor exportado", diz.
O objetivo do governo é que as exportações cresçam a uma taxa anual média de 15% nos próximos anos, de forma que o país alcance US$ 100 bilhões em vendas externas até o ano 2002 e consiga, com isso, equilibrar as suas contas externas.
O estudo separou as empresas em quatro categorias de exportadoras -as contínuas, as intermitentes, as iniciantes e as desistentes- e analisou o desempenho de cada grupo entre os anos de 1990 e 1996.
Na categoria das exportadoras "contínuas", por exemplo -aquelas que estão sempre presentes na pauta brasileira-, foram identificadas 3.749 empresas.
US$ 50 milhões
No total, em 96, elas representaram mais de 80% (US$ 38,8 bilhões) da receita com exportações brasileiras, conforme o levantamento realizado pela Funcex.
Nesse grupo, 153 exportaram mais de US$ 50 milhões cada uma e responderam por mais da metade do valor total da pauta brasileira naquele ano.
No grupo das "intermitentes" (empresas que em alguns anos exportam e em outras não), a Funcex listou 4.255 em 96. Elas foram responsáveis por US$ 5,4 bilhões das exportações brasileiras.
As "iniciantes" em 96 somaram 5.393, com vendas externas de US$ 3,43 bilhões.
Conforme o estudo da Funcex, no período de 90 a 93 chegou-se a verificar um aumento da participação das empresas menores no total exportado, o que poderia indicar um início de desconcentração das vendas externas. As empresas que exportaram abaixo de US$ 1 milhão, por exemplo, aumentaram naquele período a participação de 8,4% para 9,4% do total da receita.
Essa tendência, porém, conforme Giannetti da Fonseca, se reverteu entre 93 e 96. "Nesse período, caiu o número de empresas exportadoras e cresceu o número das que exportam mais de US$ 10 milhões por ano", diz. Ou seja, a concentração do valor exportado em poucas empresas voltou a crescer.
Pouca experiência
Para Márcio Fortes de Almeida, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), algumas razões explicam essa concentração das vendas externas em grandes empresas.
Segundo ele, as empresas menores têm pouca experiência no mercado externo e dificuldade de obtenção de crédito para exportação. "Faltam também treinamento e contatos lá fora", diz ele.
Ele lembra que há cerca de dois anos o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) anunciou uma linha de crédito de US$ 1 bilhão às pequenas e médias empresas para incrementar as exportações, mas praticamente não houve interesse. "As empresas não tinham garantias para avalizar o empréstimo", afirma Fortes de Almeida.
Uma das alternativas para resolver esse problema é o fundo de aval, anunciado em novembro do ano passado e que deve sair do papel em março.
O fundo terá um total de R$ 300 milhões para financiar as exportações - com garantia do governo- de micro, pequenas e médias empresas.



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