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OPINIÃO ECONÔMICA
Minibolha ou degrau?
ANTONIO BARROS DE CASTRO
Que a economia brasileira
deu claros sinais de ter ingressado numa fase de retomada
no terceiro trimestre de 2003 não
cabem dúvidas. No momento de
maior vigor expansivo, o trimestre setembro-novembro, o produto industrial cresceu 5,5% (!) em
relação ao trimestre imediatamente anterior.
Ampliando o período de observação para a segunda metade de
2003, os resultados ainda permanecem bastante positivos: ao longo do segundo semestre, a produção industrial cresceu 5% -o que
equivale, em termos anuais, a um
crescimento de 10,3%. Essa foi,
aliás, convém registrar, a recuperação industrial mais vigorosa
observada desde 1995. Ou seja,
nem sequer a "retomada longa"
(como costuma dizer meu colega
Caio Prates), iniciada no segundo
trimestre de 1999 e concluída no
primeiro trimestre de 2001, apresentou o vigor inicial do surto que
teve sua partida em agosto/setembro de 2003.
Mas acontece que o impulso inicial aparentemente não vingou.
Os dados conhecidos sobre a indústria nos últimos meses revelam que ela se mantém praticamente estagnada desde novembro (sempre em médias móveis
trimestrais). Se assim é, caberia
talvez pensar que o movimento
iniciado em agosto de 2003 estaria mais para uma minibolha do
que para uma efetiva retomada
do crescimento. E, nesse caso, as
razões possivelmente seriam o
mau desempenho dos salários e
do emprego -já que as condições
externas têm se mantido indiscutivelmente muito favoráveis ao
país.
A primeira razão para colocar
em dúvida a interpretação que
acaba de ser invocada é o fato de
que as retomadas ocorridas no
passado foram sempre altamente
irregulares. Mesmo nas retomadas longas (as mais exitosas), os
avanços apresentam-se descontínuos. Por exemplo, o crescimento
industrial iniciado em 1999 foi interrompido de fevereiro a junho
de 2000 -não obstante novas reduções da Selic, verificadas ao
longo desses meses. Essa foi, no
entanto, uma retomada particularmente robusta, que se estendeu
por quase dois anos e foi atropelada nos primeiros meses de 2001
por uma dramática conjunção de
adversidades (colapso argentino,
colapso da Bolsa de Nova York e
crise energética). Entre outras
possibilidades, as referidas interrupções do crescimento podem refletir exageros na formação de estoques, seguidos de "freadinhas
de arrumação".
Uma segunda razão para que se
coloquem em dúvida as conclusões anteriormente referidas é
que, se tomarmos o período de julho de 2003 (antes de ter início a
retomada) a janeiro de 2004, último dado divulgado, a taxa de
crescimento seria de 5,6% (13,9%,
anualizada), um resultado bastante forte e comparável a melhores retomadas no passado.
Uma terceira razão é que diversos dados recentemente revelados
voltam a confirmar o movimento
expansivo. Em conseqüência disso, mesmo fontes que haviam se
rendido ao pessimismo têm recentemente chamado a atenção
para reações positivas, no tocante
às vendas da indústria (fonte
CNI), às vendas do comércio (fonte IBGE) e até mesmo ao emprego
formal, possivelmente o maior vilão da economia brasileira nos últimos tempos.
Tendo como pano de fundo as
ponderações que acabam de ser
feitas, deixo aqui um par de observações adicionais.
Se é verdade que estamos dando
prosseguimento à recuperação
iniciada no terceiro trimestre de
2003, os decepcionantes dados referentes a dezembro e janeiro denotam apenas a ultrapassagem
de um degrau, numa escalada
que prossegue não obstante o
denso pessimismo dos mais recentes meses. A economia estaria,
dessa forma, se revelando menos
suscetível a estados de espírito do
que costumam supor os analistas.
Por outro lado, é bom assinalar
que não há precedentes, desde
1983/4 (!), de uma retomada em
que, com a expansão doméstica,
as exportações cresçam vigorosamente e a balança comercial dê
saltos a favor do país.
Antonio Barros de Castro, 65, professor titular da UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro) e ex-presidente do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), escreve às
quartas, a cada 15 dias, nesta coluna.
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