São Paulo, sábado, 24 de março de 2007

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Indústria vende menos a EUA e Europa

Produtos chineses, mais competitivos, ocupam espaço dos brasileiros nesses mercados; sobe venda para América Latina

Participação americana nas exportações está abaixo de 20% do total, apesar de ser o principal mercado externo para a indústria paulista


FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria paulista reduziu as exportações para Estados Unidos e União Européia, os seus principais mercados, e aumentou as vendas externas para países da América Latina.
Esse movimento é reflexo do aumento da competitividade dos produtos chineses nos mercados norte-americano e europeu e também do crescimento da demanda em alguns países da América Latina, como Argentina e Venezuela.
É o que constata levantamento do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) com 329 empresas paulistas, entre os dias 5 e 16 de fevereiro deste ano, para avaliar a atividade do comércio exterior nas indústrias do Estado de São Paulo, que representa cerca de 33% das exportações do país.
Das 329 empresas consultadas, 198 são exportadoras. Questionadas sobre para quais mercados elas enviam seus produtos, 23% delas citaram o Mercosul; 17,9%, a América Latina (excluindo o Mercosul); 12,5%, os EUA; 12,5%, a União Européia; 11%, a África; 8,7%, a Ásia (excluindo a China); 2,3%, a China e 6,8%, o Oriente Médio (excluindo Israel).
Na mesma pesquisa realizada em julho de 2006, o Mercosul foi citado por 21,5% das empresas; a América Latina, por 18,3%; os EUA, por 15,5% e a União Européia, por 14,8%.
"A indústria paulista está perdendo venda em dois importantes mercados: Estados Unidos e União Européia. Não é bom, porque o nosso espaço está sendo ocupado pelos chineses", afirma Humberto Barbato, diretor do Ciesp e candidato à presidência da Abinee.
Os Estados Unidos são o principal mercado dos exportadores paulistas. Em 2004, as vendas para os EUA representavam 24,9% das exportações totais do Estado de São Paulo. Em 2005, esse percentual caiu para 21,4% e, em 2006, para 19,8%, segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior).
Países da Aladi, que reúne Bolívia, Colômbia, Chile, Equador, México, Peru e Venezuela entre outros, aparecem em segundo lugar no ranking das exportações do Estado, com 17,13%, no ano passado. A União Européia aparece com 15,8%, e o Mercosul, com 14,2%. Em 2004, a União Européia chegou a deter 17,9%. E o Mercosul representava 12,7%.
"O país está tendo mais oportunidades de vendas nos países da América Latina que estão saindo de crises, como são os casos da Argentina e da Venezuela. E também tem mais dificuldade de se manter competitivo no exterior por causa do câmbio", diz Luis Suzigan, economista da LCA Consultores.
Diminuir vendas em mercados como Estados Unidos e União Européia, na avaliação e Suzigan, não é um bom sinal para o país, "pois o ritmo de crescimento de países da América Latina não deve se manter. É uma situação que preocupa."
Na avaliação de Carlos Cavalcanti, economista-chefe do Ciesp, a indústria paulista perdeu mercado nos Estados Unidos devido a ações protecionistas do governo norte-americano, que tornaram mais caras as exportações brasileiras de calçados, suco de laranja e máquinas agrícolas. "E, na Europa, o subsídio prejudicou a exportação paulista de açúcar, farelo de soja e produtos agrícolas."
As exportações paulistas de carnes, segundo informa Cavalcanti, também diminuíram por conta da gripe aviária e da febre aftosa. "As perdas por conta desses dois fatores são sentidas até hoje. Sem contar o problema do real valorizado."
A taxa de câmbio valorizada, porém, tem favorecido o aumento das importações. Questionada sobre itens importados, 45,5% das empresas consultadas que importam (173) citaram matérias-primas; 21,3%, produtos acabados; 29%, componentes e, 4,2%, serviços. No levantamento de julho de 2006; os percentuais mencionados pelas empresas foram 41,6%, 23,2%, 34,8% e 0,5%, respectivamente.
Os dados indicam que as indústrias paulistas estão importando mais matérias-primas. "O crescimento das importações de insumos e peças é tendência e está relacionado com o câmbio. É uma situação que leva à perda [de PIB] na indústria porque há menor agregação de valor na produção nacional", afirma Edgar Pereira, economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).


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