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UE também quer "parceria estratégica"
Assim como os EUA, europeus têm interesse pelos combustíveis alternativos devido à necessidade de reduzir poluição
Parceria deve ser anunciada em 5 de julho, em Bruxelas, quando o presidente Lula participará de conferência sobre biocombustíveis
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
A União Européia está analisando cuidadosamente a idéia
de lançar uma parceria estratégica com o Brasil, expressão
que, coincidência ou não, foi
utilizada pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva para definir a relação com os Estados
Unidos, durante a recente visita ao país de seu colega norte-americano George W. Bush.
Outra coincidência (ou não)
se dá pelo fato de que a parceria
estratégica tende a ser anunciada também em um evento em
que os biocombustíveis serão a
grande estrela, tal como ocorreu durante a reunião entre Lula e Bush. No dia 5 de julho, em
Bruxelas, o presidente Lula
participará como convidado
principal de uma conferência
sobre biocombustíveis.
"O presidente explicará o que
o Brasil está fazendo e o que
pretende fazer nessa área, que
não é ainda tão conhecida na
Europa", antecipa o embaixador da União Européia no Brasil, o português João Pacheco.
O interesse tanto de europeus como de norte-americanos pelos combustíveis alternativos é decorrência de dois
fatores principais: a necessidade de reduzir a emissão de gases poluentes que ajudam no
aquecimento global e o fato de
que o petróleo/gás tem fornecedores não confiáveis do ponto de vista político.
O potencial para a expansão
dos combustíveis alternativos
nas duas áreas mais ricas do
mundo é formidável, conforme
as contas de Marcos Jank, um
dos maiores especialistas brasileiros em agronegócio e negociações comerciais.
"Em janeiro último, o presidente Bush anunciou a meta de
substituir 15% da gasolina
[consumida nos EUA] por combustíveis renováveis e alternativos, o que representa a cifra
de 132 bilhões de litros (hoje a
produção mundial de etanol
não passa de 50 bilhões de litros). Já a União Européia está
mais preocupada em substituir
o óleo diesel e se auto-impôs a
meta de 5,75% de uso de combustíveis renováveis até 2010,
atingindo um consumo de 10
bilhões de litros de biodiesel
naquele ano", escreve Jank.
Como o Brasil divide com os
Estados Unidos o papel de
maior produtor mundial de
etanol, hoje o combustível alternativo mais desenvolvido, é
fácil calcular o interesse do governo brasileiro em estender
aos europeus a "parceria estratégica" que Lula já antecipou
em relação aos Estados Unidos.
É até possível que, aproveitando a viagem de Lula para a
conferência sobre biocombustíveis, se realize, sempre em
Bruxelas, a primeira reunião de
cúpula entre o Brasil e a UE.
Antes, no entanto, o primeiro
passo para a parceria estratégica será dado em Brasília, no dia
2 de maio, por meio do que o
jargão diplomático chama de
"diálogo de alto nível". Trata-se
de uma reunião entre funcionários graduados dos dois lados, imediatamente abaixo do
nível ministerial.
Pela União Européia, participa a "troika", como o vocabulário europeu designa o presidente de turno do conglomerado (hoje é a Alemanha), o futuro presidente (será Portugal) e
a Comissão Européia, que é o
braço executivo do bloco de 27
países.
O objetivo do diálogo é "passar em revista as áreas em que
os dois lados podem cooperar
no mundo", diz o embaixador
Pacheco.
A idéia de uma parceria estratégica já consta da negociação entre a União Européia e o
Mercosul. Mas o foco principal
nesse caso tem sido um acordo
comercial que criaria uma zona
de livre comércio entre os dois
blocos, que seria a maior do
mundo e a primeira entre países que não fazem fronteira.
Mas a negociação comercial
está estancada há três anos e
não dá sinais de que possa sair
do impasse antes da ida de Lula
a Bruxelas.
Pinçar, portanto, o Brasil entre os cinco países do bloco sul-americano para uma parceria
estratégica faz todo sentido,
por ser de longe o maior do
Mercosul (e da América do
Sul).
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