São Paulo, sábado, 24 de março de 2007

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UE também quer "parceria estratégica"

Assim como os EUA, europeus têm interesse pelos combustíveis alternativos devido à necessidade de reduzir poluição

Parceria deve ser anunciada em 5 de julho, em Bruxelas, quando o presidente Lula participará de conferência sobre biocombustíveis


CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

A União Européia está analisando cuidadosamente a idéia de lançar uma parceria estratégica com o Brasil, expressão que, coincidência ou não, foi utilizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para definir a relação com os Estados Unidos, durante a recente visita ao país de seu colega norte-americano George W. Bush.
Outra coincidência (ou não) se dá pelo fato de que a parceria estratégica tende a ser anunciada também em um evento em que os biocombustíveis serão a grande estrela, tal como ocorreu durante a reunião entre Lula e Bush. No dia 5 de julho, em Bruxelas, o presidente Lula participará como convidado principal de uma conferência sobre biocombustíveis.
"O presidente explicará o que o Brasil está fazendo e o que pretende fazer nessa área, que não é ainda tão conhecida na Europa", antecipa o embaixador da União Européia no Brasil, o português João Pacheco.
O interesse tanto de europeus como de norte-americanos pelos combustíveis alternativos é decorrência de dois fatores principais: a necessidade de reduzir a emissão de gases poluentes que ajudam no aquecimento global e o fato de que o petróleo/gás tem fornecedores não confiáveis do ponto de vista político.
O potencial para a expansão dos combustíveis alternativos nas duas áreas mais ricas do mundo é formidável, conforme as contas de Marcos Jank, um dos maiores especialistas brasileiros em agronegócio e negociações comerciais.
"Em janeiro último, o presidente Bush anunciou a meta de substituir 15% da gasolina [consumida nos EUA] por combustíveis renováveis e alternativos, o que representa a cifra de 132 bilhões de litros (hoje a produção mundial de etanol não passa de 50 bilhões de litros). Já a União Européia está mais preocupada em substituir o óleo diesel e se auto-impôs a meta de 5,75% de uso de combustíveis renováveis até 2010, atingindo um consumo de 10 bilhões de litros de biodiesel naquele ano", escreve Jank.
Como o Brasil divide com os Estados Unidos o papel de maior produtor mundial de etanol, hoje o combustível alternativo mais desenvolvido, é fácil calcular o interesse do governo brasileiro em estender aos europeus a "parceria estratégica" que Lula já antecipou em relação aos Estados Unidos.
É até possível que, aproveitando a viagem de Lula para a conferência sobre biocombustíveis, se realize, sempre em Bruxelas, a primeira reunião de cúpula entre o Brasil e a UE.
Antes, no entanto, o primeiro passo para a parceria estratégica será dado em Brasília, no dia 2 de maio, por meio do que o jargão diplomático chama de "diálogo de alto nível". Trata-se de uma reunião entre funcionários graduados dos dois lados, imediatamente abaixo do nível ministerial.
Pela União Européia, participa a "troika", como o vocabulário europeu designa o presidente de turno do conglomerado (hoje é a Alemanha), o futuro presidente (será Portugal) e a Comissão Européia, que é o braço executivo do bloco de 27 países.
O objetivo do diálogo é "passar em revista as áreas em que os dois lados podem cooperar no mundo", diz o embaixador Pacheco.
A idéia de uma parceria estratégica já consta da negociação entre a União Européia e o Mercosul. Mas o foco principal nesse caso tem sido um acordo comercial que criaria uma zona de livre comércio entre os dois blocos, que seria a maior do mundo e a primeira entre países que não fazem fronteira.
Mas a negociação comercial está estancada há três anos e não dá sinais de que possa sair do impasse antes da ida de Lula a Bruxelas.
Pinçar, portanto, o Brasil entre os cinco países do bloco sul-americano para uma parceria estratégica faz todo sentido, por ser de longe o maior do Mercosul (e da América do Sul).


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