São Paulo, sábado, 24 de março de 2007

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Gerente tem verba retida no caso Ipiranga

Executivo de uma das empresas compradoras de grupo tem R$ 295 mil bloqueados, sob suspeita de usar informação privilegiada

Gerente tem lucro de 70% com compra e venda de ação; já são 26 investidores, entre pessoas físicas e jurídicas, sob investigação da CVM


ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Mais dois investidores tiveram dinheiro bloqueado por liminar da Justiça Federal do Rio de Janeiro, sob suspeita de usar informações privilegiadas sobre a venda do grupo Ipiranga para lucrarem com operações na Bolsa de Valores de São Paulo. Um deles é gerente de uma das empresas compradoras da Ipiranga: Petrobras, Ultra ou Braskem.
Os nomes dos investidores não foram revelados, porque o processo corre sob segredo de Justiça. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) não informou em qual empresa trabalha o gerente. O outro investidor também é pessoa física.
A Justiça Federal já havia bloqueado, na quarta-feira à noite, os pagamentos da venda de ações de um fundo de investimento estrangeiro e de uma pessoa física, para evitar que o dinheiro trocasse de mãos ou saísse do país. Ao todo, 26 investidores, entre pessoas físicas e jurídicas, estão sob investigação da CVM no caso.

O gerente
Em nota divulgada ontem à noite, a CVM informou que o gerente teve bloqueados R$ 295 mil que seriam depositados em sua conta pela Bovespa.
Ele é suspeito de uso indevido de informação privilegiada porque comprou ações ordinárias da Refinaria de Petróleo Ipiranga, no dias 13 e 14, e revendeu os papéis com lucro de 70% no dia 19, mesmo dia em que foi feito o anúncio oficial da venda.
Em fevereiro, ele havia comprado ações preferenciais da Refinaria Ipiranga no mercado a termo da Bovespa. A partir do dia 13, desfez-se de todas as ações preferenciais e comprou ordinárias, que foram valorizadas com a venda da Ipiranga.
Ainda de acordo com a CVM, o nome do gerente não constava das listas de pessoas que tinham conhecimento da venda da Ipiranga, que foram informadas pelas empresas envolvidas na negociação.
O outro investidor teve bloqueados R$ 860 mil. De acordo com o órgão regulador, ele se tornou cliente da corretora no último dia 14, cinco dias antes de as empresas anunciarem oficialmente a venda do grupo Ipiranga.
Na terça-feira passada -dia seguinte ao anúncio oficial-, o investidor se desfez de todas as ações, com lucro de 38%. A própria corretora tomou a iniciativa de informar o fato à CVM.
O bloqueio dos ganhos obtidos é o primeiro passo para uma ação civil pública de indenização por perdas no mercado de capitais, que será proposta pelo Ministério Público Federal em até 30 dias.
O presidente da CVM, Marcelo Trindade, informou, anteontem, que mais de cem pessoas -entre acionistas das empresas envolvidas na negociação e empregados de bancos, consultores, corretores e escritórios de advocacia- participaram das discussões para a venda da Ipiranga, de acordo com informações das próprias empresas.
Trindade espera concluir as investigações no prazo de 90 dias. Depois, deve ser aberto inquérito administrativo. Se forem comprovadas as suspeitas, será aberto também processo criminal contra os acusados. A lei 10.303/2001 prevê prisão de um a cinco anos e multa de até três vezes o montante da vantagem ilícita obtida.

Empresas
O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse que não foi informado pela CVM da identidade do gerente que teve o dinheiro bloqueado. ""Se for empregado da Petrobras, será punido exemplarmente. Espero que a apuração seja a mais rigorosa possível", afirmou.
O Grupo Ultra, por sua vez, afirmou esperar que a CVM "aja com rigor, apure e puna os transgressores".
A direção da Braskem não foi localizada ontem.


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