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Gerente tem verba retida no caso Ipiranga
Executivo de uma das empresas compradoras de grupo tem R$ 295 mil bloqueados, sob suspeita de usar informação privilegiada
Gerente tem lucro de 70% com compra e venda de ação; já são 26 investidores, entre
pessoas físicas e jurídicas, sob investigação da CVM
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Mais dois investidores tiveram dinheiro bloqueado por liminar da Justiça Federal do
Rio de Janeiro, sob suspeita de
usar informações privilegiadas
sobre a venda do grupo Ipiranga para lucrarem com operações na Bolsa de Valores de São
Paulo. Um deles é gerente de
uma das empresas compradoras da Ipiranga: Petrobras, Ultra ou Braskem.
Os nomes dos investidores
não foram revelados, porque o
processo corre sob segredo de
Justiça. A CVM (Comissão de
Valores Mobiliários) não informou em qual empresa trabalha
o gerente. O outro investidor
também é pessoa física.
A Justiça Federal já havia
bloqueado, na quarta-feira à
noite, os pagamentos da venda
de ações de um fundo de investimento estrangeiro e de uma
pessoa física, para evitar que o
dinheiro trocasse de mãos ou
saísse do país. Ao todo, 26 investidores, entre pessoas físicas e jurídicas, estão sob investigação da CVM no caso.
O gerente
Em nota divulgada ontem à
noite, a CVM informou que o
gerente teve bloqueados R$
295 mil que seriam depositados
em sua conta pela Bovespa.
Ele é suspeito de uso indevido de informação privilegiada
porque comprou ações ordinárias da Refinaria de Petróleo
Ipiranga, no dias 13 e 14, e revendeu os papéis com lucro de
70% no dia 19, mesmo dia em
que foi feito o anúncio oficial da
venda.
Em fevereiro, ele havia comprado ações preferenciais da
Refinaria Ipiranga no mercado
a termo da Bovespa. A partir do
dia 13, desfez-se de todas as
ações preferenciais e comprou
ordinárias, que foram valorizadas com a venda da Ipiranga.
Ainda de acordo com a CVM,
o nome do gerente não constava das listas de pessoas que tinham conhecimento da venda
da Ipiranga, que foram informadas pelas empresas envolvidas na negociação.
O outro investidor teve bloqueados R$ 860 mil. De acordo
com o órgão regulador, ele se
tornou cliente da corretora no
último dia 14, cinco dias antes
de as empresas anunciarem oficialmente a venda do grupo Ipiranga.
Na terça-feira passada -dia
seguinte ao anúncio oficial-, o
investidor se desfez de todas as
ações, com lucro de 38%. A própria corretora tomou a iniciativa de informar o fato à CVM.
O bloqueio dos ganhos obtidos é o primeiro passo para
uma ação civil pública de indenização por perdas no mercado
de capitais, que será proposta
pelo Ministério Público Federal em até 30 dias.
O presidente da CVM, Marcelo Trindade, informou, anteontem, que mais de cem pessoas -entre acionistas das empresas envolvidas na negociação e empregados de bancos,
consultores, corretores e escritórios de advocacia- participaram das discussões para a venda da Ipiranga, de acordo com
informações das próprias empresas.
Trindade espera concluir as
investigações no prazo de 90
dias. Depois, deve ser aberto inquérito administrativo. Se forem comprovadas as suspeitas,
será aberto também processo
criminal contra os acusados. A
lei 10.303/2001 prevê prisão de
um a cinco anos e multa de até
três vezes o montante da vantagem ilícita obtida.
Empresas
O presidente da Petrobras,
José Sergio Gabrielli, disse que
não foi informado pela CVM da
identidade do gerente que teve
o dinheiro bloqueado. ""Se for
empregado da Petrobras, será
punido exemplarmente. Espero que a apuração seja a mais rigorosa possível", afirmou.
O Grupo Ultra, por sua vez,
afirmou esperar que a CVM
"aja com rigor, apure e puna os
transgressores".
A direção da Braskem não foi
localizada ontem.
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