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ARTIGO
Os atos são o que contam agora
GILLIAN TETT
DO "FINANCIAL TIMES"
QUANDO UM ativo tóxico não é de fato "tóxico"? Quando está nas
mãos da máquina de manipulação de Wall Street e Washington, ao que parece.
Um ano atrás, quando os Estados Unidos primeiro vieram
a compreender a escala horrenda de seus problemas financeiros, políticos e financistas não
tinham vergonha em pronunciar a palavra "tóxico" para definir os maus ativos. Mas, em
seguida, as melhores mentes de
Washington e de Wall Street
vieram a considerar o termo
como muito alarmista e passaram a utilizar o termo ativo
"problemático".
Agora, Tim Geithner, o secretário do Tesouro dos EUA, parece sentir que até mesmo a palavra "problemático" é assustadora demais. O novo mote do
Tesouro é "ativos legados".
A questão, porém, é determinar se um novo plano e uma
mudança de nome são capazes
de corrigir os problemas. Caso
a mais recente iniciativa de
Geithner fracasse, o dano causado à economia e à confiança
do mercado poderá ser de fato
devastador. Raramente houve
tanto em jogo, não importa que
palavra seja utilizada.
No papel, ao menos, decerto
existe motivo para um pouco
mais de esperança. Se nada
mais, o plano demonstra que o
Tesouro compreendeu a raiz
do problema -a saber, a incapacidade dos bancos para lancetar a venenosa inflamação
criada por seus ativos meio tóxicos, meio "legados".
Quando começaram a surgir
inadimplências no mercado de
hipotecas de risco ("subprime") americano, dois anos
atrás, a suposição generalizada
era a de que os bancos simplesmente absorveriam quaisquer
prejuízos com esses papéis. Depois, no fim de 2007, quando os
problemas do setor "subprime"
se agravaram, os bancos saíram
em busca de alguém que tirasse
esses ativos de suas mãos.
Mas, quando os bancos enfim
reconheceram a necessidade
de vender os papéis a preços
pelo menos um pouco realistas,
o sistema estava em tamanho
choque que ninguém mais dispunha do capital, ou apetite por
risco, necessário para comprar.
O plano de Geithner tenta resolver esse problema essencialmente oferecendo dinheiro do
governo a investidores privados. A intenção é usar a livre
concorrência para estabelecer
um preço para os ativos. Assim,
ninguém poderá alegar que o
preço foi "manipulado" de forma a beneficiar bancos e investidores, ou assim se espera.
Mas o problema central continua. Está longe de claro que o
novo plano seja capaz de produzir um mercado "real" para
esses ativos (ou real o bastante
para impedir queixas de práticas indevidas). Tampouco se
sabe quantos investidores entrariam na parada, dada a reação feroz e imprevisível contra
os financistas de todo naipe.
O simples volume de dinheiro público que está sendo entregue a investidores privados
poderia bastar para despertar
indignação pública. O mesmo
se aplica à ideia de que os bancos podem precisar de ainda
mais capital. Além disso, em
um mundo no qual a maioria
dos investidores se sente completamente confusa, a simples
complexidade do mais recente
plano representa um novo risco em termos de confiança.
Mas, em última análise, o teste será descobrir se transações
reais estão ou não sendo conduzidas. Caso surjam vendas
rapidamente, um círculo virtuoso de otimismo pode se iniciar. Mas, se nada acontecer
por algumas semanas, o cinismo do mercado uma vez mais
afogará o plano. De qualquer
forma, são os atos, e não as palavras (politicamente corretas),
que contam, agora. Os ponteiros estão correndo, para Geithner e todo o sistema.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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