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COMÉRCIO
Principais fornecedores de eletroeletrônicos suspendem vendas; Mappin e Mesbla têm aluguéis em atraso
Decisão do BC prejudica Mappin e Mesbla
VANESSA ADACHI
FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local
A liquidação do banco Crefisul
vai dificultar a solução para a crise
financeira enfrentada pelas redes
Mappin e Mesbla, do empresário
Ricardo Mansur.
Na avaliação de profissionais do
mercado financeiro e de varejo ouvidos pela Folha, ficará ainda mais
difícil negociar com credores e,
pior, encontrar interessados em
adquirir a totalidade ou parte das
lojas.
Devido ao grande endividamento das redes, desde o ano passado
Mansur vem tentando encontrar
compradores para metade do
Mappin e da Mesbla. Sua intenção
era conseguir dinheiro novo para
oxigenar as empresas, mantendo o
controle acionário.
A partir do início deste ano,
Mansur passou a buscar compradores interessados na totalidade
das empresas. Agora admite vender alguns pontos-de-venda separadamente, mas não tem encontrado compradores.
Estimar a dívida total das empresas é quase impossível para o mercado, já que ambas não publicaram nem os balanços de 98.
As dívidas da Mesbla e do Mappin já levaram os tradicionais fornecedores de eletroeletrônicos a
suspender as vendas para as redes.
Desde o início do ano, a Multibrás, dona das marcas Brastemp e
Consul, a Philips, a Sharp, a Electrolux, a Arno e a Walita pararam
de entregar seus produtos.
As indústrias interromperam as
entregas de mercadorias assim que
surgiram os primeiros sinais de
que Mappin e Mesbla estavam com
problemas financeiros, como atraso no pagamento de produtos e
também de aluguéis de lojas.
A coreana LG continua a vender
televisores e fornos microondas
para as lojas de Mansur, mas diz
que "volume e prazo de pagamento são estudados com cuidado". A
preferência é pelo pagamento à
vista. Mário Kudo, diretor de marketing da LG, diz que os casos Arapuã e G. Aronson deixaram sequelas, pois boa parte das indústrias
de eletroeletrônicos teve de arcar
com prejuízos.
"O medo é ainda maior neste
momento porque os juros são agora mais altos e persiste a dificuldade para negociar preços", diz.
A dificuldade financeira não é
percebida só pelos fornecedores.
As duas redes continuam atrasando os aluguéis de lojas em shoppings e também em um dos prédios da loja mais tradicional, no
centro de São Paulo.
Nos principais shoppings de São
Paulo os aluguéis vencidos no dia 5
de fevereiro ainda não foram quitados. O aluguel do edifício Stella,
que junto com o prédio que pertence à Santa Casa abriga a loja
mais tradicional da rede Mappin,
no centro de São Paulo, também
está atrasado.
O prédio pertence à família Prado e Guimarães. O aluguel de R$
100 mil vencido no dia 5 de fevereiro não foi pago. A família ainda estuda o que fazer caso o Mappin
continue atrasando o pagamento,
o que está ocorrendo desde novembro do ano passado.
Os shoppings estão mais preocupados com a inadimplência das
duas redes de lojas, pois é com o
aluguel que eles pagam as contas e
gastam com promoções.
Em média, o aluguel de uma loja
do porte da Mesbla e do Mappin
num shopping não é inferior a R$
50 mil por mês. Alguns shoppings
já estão estudando a possibilidade
de rescisão de contrato.
Para analistas do mercado financeiro, começa a se tornar público
algo que já era percebido desde o
ano passado pelos especialistas:
Mansur parece ter dado o passo
maior do que a perna ao adquirir a
problemática Mesbla quando já tinha o Mappin.
A própria rede Mappin já vinha
em trajetória considerada descendente pelos especialistas e necessitava de uma reestruturação.
O erro de Mansur foi colocar para dentro de casa um problema
ainda maior, a Mesbla, que trazia
endividamento próximo a R$ 1 bilhão e saía de uma concordata. O
empresário se alavancou demais,
dizem os analistas.
Um dos primeiros sinais concretos de que Mansur enfrentava graves problemas financeiros foi dado
em dezembro passado, quando ele
foi levado a entregar um jato avaliado em US$ 12 milhões ao Bradesco como pagamento de dívidas
que tinha com o banco.
A saída para as duas redes estaria
agora na venda das empresas em
pedaços. Só há interesse por algumas partes, segundo profissionais
da área de fusões e aquisições de
bancos. "Com certeza devem existir interessados no exterior em determinadas lojas. Vender as empresas como um todo será muito
difícil", diz Nelson Barrizzelli, consultor de varejo.
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