São Paulo, quarta, 24 de março de 1999

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COMÉRCIO
Principais fornecedores de eletroeletrônicos suspendem vendas; Mappin e Mesbla têm aluguéis em atraso
Decisão do BC prejudica Mappin e Mesbla

VANESSA ADACHI
FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

A liquidação do banco Crefisul vai dificultar a solução para a crise financeira enfrentada pelas redes Mappin e Mesbla, do empresário Ricardo Mansur.
Na avaliação de profissionais do mercado financeiro e de varejo ouvidos pela Folha, ficará ainda mais difícil negociar com credores e, pior, encontrar interessados em adquirir a totalidade ou parte das lojas.
Devido ao grande endividamento das redes, desde o ano passado Mansur vem tentando encontrar compradores para metade do Mappin e da Mesbla. Sua intenção era conseguir dinheiro novo para oxigenar as empresas, mantendo o controle acionário.
A partir do início deste ano, Mansur passou a buscar compradores interessados na totalidade das empresas. Agora admite vender alguns pontos-de-venda separadamente, mas não tem encontrado compradores.
Estimar a dívida total das empresas é quase impossível para o mercado, já que ambas não publicaram nem os balanços de 98.
As dívidas da Mesbla e do Mappin já levaram os tradicionais fornecedores de eletroeletrônicos a suspender as vendas para as redes.
Desde o início do ano, a Multibrás, dona das marcas Brastemp e Consul, a Philips, a Sharp, a Electrolux, a Arno e a Walita pararam de entregar seus produtos.
As indústrias interromperam as entregas de mercadorias assim que surgiram os primeiros sinais de que Mappin e Mesbla estavam com problemas financeiros, como atraso no pagamento de produtos e também de aluguéis de lojas.
A coreana LG continua a vender televisores e fornos microondas para as lojas de Mansur, mas diz que "volume e prazo de pagamento são estudados com cuidado". A preferência é pelo pagamento à vista. Mário Kudo, diretor de marketing da LG, diz que os casos Arapuã e G. Aronson deixaram sequelas, pois boa parte das indústrias de eletroeletrônicos teve de arcar com prejuízos.
"O medo é ainda maior neste momento porque os juros são agora mais altos e persiste a dificuldade para negociar preços", diz.
A dificuldade financeira não é percebida só pelos fornecedores. As duas redes continuam atrasando os aluguéis de lojas em shoppings e também em um dos prédios da loja mais tradicional, no centro de São Paulo.
Nos principais shoppings de São Paulo os aluguéis vencidos no dia 5 de fevereiro ainda não foram quitados. O aluguel do edifício Stella, que junto com o prédio que pertence à Santa Casa abriga a loja mais tradicional da rede Mappin, no centro de São Paulo, também está atrasado.
O prédio pertence à família Prado e Guimarães. O aluguel de R$ 100 mil vencido no dia 5 de fevereiro não foi pago. A família ainda estuda o que fazer caso o Mappin continue atrasando o pagamento, o que está ocorrendo desde novembro do ano passado.
Os shoppings estão mais preocupados com a inadimplência das duas redes de lojas, pois é com o aluguel que eles pagam as contas e gastam com promoções.
Em média, o aluguel de uma loja do porte da Mesbla e do Mappin num shopping não é inferior a R$ 50 mil por mês. Alguns shoppings já estão estudando a possibilidade de rescisão de contrato.
Para analistas do mercado financeiro, começa a se tornar público algo que já era percebido desde o ano passado pelos especialistas: Mansur parece ter dado o passo maior do que a perna ao adquirir a problemática Mesbla quando já tinha o Mappin.
A própria rede Mappin já vinha em trajetória considerada descendente pelos especialistas e necessitava de uma reestruturação.
O erro de Mansur foi colocar para dentro de casa um problema ainda maior, a Mesbla, que trazia endividamento próximo a R$ 1 bilhão e saía de uma concordata. O empresário se alavancou demais, dizem os analistas.
Um dos primeiros sinais concretos de que Mansur enfrentava graves problemas financeiros foi dado em dezembro passado, quando ele foi levado a entregar um jato avaliado em US$ 12 milhões ao Bradesco como pagamento de dívidas que tinha com o banco.
A saída para as duas redes estaria agora na venda das empresas em pedaços. Só há interesse por algumas partes, segundo profissionais da área de fusões e aquisições de bancos. "Com certeza devem existir interessados no exterior em determinadas lojas. Vender as empresas como um todo será muito difícil", diz Nelson Barrizzelli, consultor de varejo.



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