São Paulo, quarta, 24 de março de 1999

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POLÍTICA MONETÁRIA
Taxas ficam pouco acima dos juros projetados no mercado futuro; Tesouro diz que procura foi grande
Governo volta a vender títulos prefixados

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

O primeiro leilão de títulos prefixados do Tesouro Nacional desde meados de 98, realizado ontem, ficou dentro do esperado, segundo especialistas do mercado.
As taxas pagas pelos papéis, de 42,80% ao ano, na máxima, e de 42,56% ao ano, na média, são ligeiramente superiores aos 42% ao ano projetados nos mercados futuros para o período de vencimento -18 dias úteis.
Para o secretário do Tesouro Nacional, Eduardo Guimarães, o leilão foi "um sucesso". A procura por títulos prefixados foi 14 vezes maior que a oferta, disse.
Os juros acordados no leilão, segundo Guimarães, indicam que o mercado financeiro espera a redução dos juros em breve.
Hoje, as taxas de juros básicas estão em 45% ao ano. Mas os investidores apostam em uma queda para abril. Acreditam que no dia 14, mantidas as condições atuais, o Comitê de Política Monetária vai reduzir os juros para algo entre 40% e 39% ao ano.
Há os que apostam em uma queda pequena e gradual já no início de abril, com o BC atuando no over, o mercado por um dia.
"Os bancos começaram a aceitar o risco de carregar um papel prefixado por causa da atuação mais firme do BC", diz Marcelo Saddi Castro, diretor de renda fixa do BNP Asset Management.
"O mercado está mesmo acreditando no "viés de baixa' das taxas de juros prometido pelo BC. O cenário está melhor", diz Joaquim Kokudai, operador-chefe de renda fixa do Lloyds.
Mas, segundo especialistas, a colocação dos títulos prefixados ontem foi só um teste. Tem pouco significado prático na administração da dívida pública em títulos, de cerca de R$ 300 bilhões. O volume leiloado, de R$ 500 milhões, foi pequeno. O vencimento dos papéis, de 18 dias úteis, mostra que a confiança na política econômica ainda se dá somente no curto prazo.
Hoje, os títulos de juros prefixados correspondem a menos de 3% da dívida interna pública mobiliária. Essa participação era de 80% no início de 1997.
Em maio de 98, com os primeiros sinais da crise russa e FHC despencando nas pesquisas eleitorais, o BC foi obrigado a lançar mão de títulos pós-fixados para rolar a dívida pública.
Na época, o mercado exigia juros prefixados muito elevados e o BC não quis pagar. Teve de indexar a dívida ao over, pagando pela alta nos juros.
Os títulos pós-fixados seriam passageiros, uma ponte até as eleições. Mas o vendaval de agosto e setembro com a moratória russa agravou o quadro de desconfiança.
Na tentativa de reintroduzir os títulos prefixados, o governo lançou títulos mistos, com um período prefixado e outro pós-fixado. Alongou a parte prefixada de uma semana para duas e depois para três semanas. Mas não conseguiu alongar mais o período prefixado.
Neste ano, as incertezas do mercado cresceram com a mudança na política cambial. O dólar se valorizou mais de 50% e o governo voltou a elevar os juros para segurar o crescimento econômico e conter a inflação.
"Agora, os dados mostram inflação sob controle e recessão forte. Como o mercado de câmbio também está mais tranquilo, os juros podem cair", diz Saddi Castro.


Colaborou a Sucursal de Brasília



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