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São Paulo, quinta-feira, 24 de abril de 2003

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COMBUSTÍVEIS

Redução será inferior a 10% na refinaria; consumidores podem não ser beneficiados se governo elevar Cide

Petrobras prepara corte no preço da gasolina

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, afirmou ontem, por intermédio de sua assessoria de imprensa, que a estatal vai "anunciar nos próximos dias a redução dos preços da gasolina e do diesel" na refinaria. O percentual de queda ainda não foi definido, mas será de um dígito em ambos os casos -ou seja, inferior a 10%.
O anúncio oficial se dará até o final deste mês. Será a primeira vez no governo do PT que a Petrobras mexe nos preços dos principais derivados, mas ainda não é certo se o aumento chegará ao consumidor. É que na semana passada a ministra Dilma Rousseff (Minas e Energia) informara que o governo poderia aproveitar a queda para aumentar a Cide (imposto federal dos combustíveis), sem repassar a redução às bombas. Os recursos extras seriam usados para formar um "colchão", evitando oscilações dos derivados.
"Quando o preço do barril de petróleo estava subindo e o dólar estava alto nós não aumentamos o preço. Agora não iremos reduzir o preço", disse a ministra há duas semanas.
Internamente na Petrobras, segundo a Folha apurou, é dado como certo que haverá o repasse ao consumidor final nos casos da gasolina e do diesel. Já o gás de cozinha não terá seu preço modificado. É que o produto ficou por muito tempo "congelado" e a Petrobrás ainda acumula perdas com o combustível.
Segundo a estatal, o mercado internacional de petróleo está menos volátil com o final da guerra contra o Iraque, o que permitiu mudar os preços "com mais segurança" neste momento.
Especialistas apontam a queda do dólar, de cerca de 15% no primeiro trimestre de 2002, como a principal causa para a redução.
Para a gasolina, a expectativa é que o preço de refinaria fique de 5% a 7% mais baixo. É mais ou menos quanto o produto está mais caro em relação ao mercado internacional, já considerando a variação cambial, diz Luiz Afonso Lima, economista do banco BBV.
Lima afirmou que, se o preço da Petrobras cair 5%, o valor nas bombas terá uma redução um pouco menor: 4%. Luiz Gil Siuffo, presidente da Fecombustíveis (federação nacional dos postos), disse que o repasse ao consumidor será quase integral, uma vez que a concorrência entre os postos está acirrada. Se a redução nas refinarias chegar a 10%, o preço no varejo caíra 9%, prevê.
Adriano Pires, do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura), disse que as reduções ainda não ajustam os preços aos internacionais. A gasolina da Petrobras, diz, é 22% mais cara do que no Golfo do México, referência para o mercado brasileiro. No diesel, diz, a distância é ainda maior: 42%.
A Petrobras informou que não alterou os preços no início do ano por ser um período de excepcionalidade e que os valores apresentados por Pires são "incompatíveis com a evolução de mercado".
Como ocorre em toda virada de mês, os preços da nafta petroquímica, do óleo combustível e do querosene de aviação também serão alterados. Nesses casos, a Petrobras já tem os percentuais praticamente definidos: as quedas serão de cerca de 30%, 15% e 20%, respectivamente. São todos insumos industriais e as diminuições podem ter impacto positivo na inflação no atacado, assim como a do óleo diesel, que influencia os custos dos fretes.
Para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor), que mede a inflação oficial do governo, o alívio será pequeno. Lima, do BBV, estima um recuo de apenas 0,1 ponto percentual, caso a gasolina tenha seu preço reduzido em 5%. Pelas projeções do economista, o IPCA deve ficar em 0,5%, contra estimativa anterior de 0,6%. No ano, o índice acumula alta de 5,13%.
O último aumento dos combustíveis ocorreu em 29 de dezembro. Na época, a gasolina subiu 12,8% -o reajuste teria sido negociado entre o governo FHC e a equipe de transição petista.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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