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Crédito a empresas volta a nível pré-crise
Juros e volumes concedidos de capital de giro estão perto dos vistos antes do agravamento da crise, mas "spread" sobe
Empresários afirmam que não viram melhora nas condições de financiamento das companhias; bancos temem inadimplência alta
TONI SCIARRETTA
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de praticamente secar, o crédito para empresas começa a funcionar com taxas e
volumes próximos aos vistos
em agosto e setembro, antes do
agravamento da crise. Mas os
"spreads" [diferença entre a taxa de captação dos bancos e a
cobrada do cliente], seguem
elevados, diz o Banco Central.
Principal fonte de financiamento operacional das empresas, as novas concessões para
capital de giro aumentaram
62,5% em março em relação a
fevereiro e atingiram R$ 21,836
bilhões -próximo dos R$ 22,02
bilhões de setembro. Na comparação com março de 2008,
houve aumento de 47,1%.
Os juros médios do capital de
giro recuaram de 36% ao ano
para 33,9%, de fevereiro para
março. A taxa já retornou ao
patamar de agosto e setembro,
respectivamente, de 33% e
33,6%. O "spread" caiu de 24,9
pontos para 23,8 pontos, acima
dos 18,6 pontos de agosto e dos
19,1 pontos de setembro.
Para Fabio Barbosa, presidente do Santander e da Febraban, a retomada do crédito em
março se deve a questões sazonais (março é sempre melhor
que fevereiro) e de melhora na
economia. "Estamos vendo a
continuidade de um processo;
não houve uma ruptura no Brasil, mas uma desaceleração no
ritmo de crescimento. A economia, de fato, dá uma retomada
em março. E isso leva as empresas a buscarem capital de giro
para atender os clientes", disse.
Para Barbosa, a maior preocupação é com a inadimplência, que, no caso do capital de
giro, subiu de 1,89% para
2,22%, a maior desde maio de
2007. Por isso, os "spreads" estão altos, diz Barbosa.
"Esse estrangulamento de liquidez que tivemos em outubro, com o fechamento das linhas de comércio exterior, dos
mercados de capitais, e a retirada dos bancos pequenos e médios, pouco a pouco, vêm sendo
corrigido. Só falta o mercado de
capitais voltar a funcionar",
disse Norberto Barbedo, vice-presidente do Bradesco.
Para Silvio de Carvalho, diretor-executivo do Itaú Unibanco, os números do BC mostram
uma evolução pequena no crédito para empresas. Carvalho
lembra que as grandes empresas, que voltaram a se financiar
no país, chegam com risco e taxas menores. "Como as grandes
empresas estão mais presentes,
elas têm um nível de juros menor do que as médias. É um
pouco esse o efeito que também vemos nos "spreads"."
Os empresários, entretanto,
dizem que ainda não sentiram a
melhora no mercado de crédito
detectada pelo BC. "Não está
normal a situação no país", resume Júlio Gomes de Almeida,
consultor do Iedi (Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e ex-secretário de Política Econômica do
Ministério da Fazenda.
Almeida afirma que cada segmento enfrenta uma dificuldade diferente. Para as grandes
companhias, nunca faltou financiamento. "No caso das
pessoas jurídicas, o ritmo de
queda das taxas é menor. O
"spread" subiu demais devido a
uma cautela excessiva com a
possibilidade de alta da inadimplência, o que não ocorreu."
Já para as micro, pequenas e
médias empresas, a dificuldade
é ter acesso ao crédito. "Nem
temos recebido reclamações
sobre o custo, porque sequer
tem crédito", diz Marcel Solimeo, economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo. "Os bancos aumentaram a
seletividade dos clientes, deixando de fora os menores."
O varejo é o setor quem mais
tem sofrido com a escassez de
crédito, segundo especialistas.
O setor tem renegociado com
fornecedores e diminuído os
prazos e limites de financiamento ao consumidor.
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