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ENTREVISTA
DAVID BARIONI
TAM admite demitir após a liberação de passagens
Presidente da empresa diz que decisão da Anac pode inviabilizar empresa nacional
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
A TAM será a companhia
mais afetada pela decisão tomada pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) de liberar os preços das passagens aéreas emitidas no Brasil para o
exterior. O impacto ainda não
foi calculado, mas a companhia
não descarta demissões para
compensar perdas.
"Não podemos agora ser inocentes e dizer não a qualquer
ideia", diz o comandante David
Barioni, 50, presidente da
TAM. "Nada está descartado.
Vou analisar todas as possibilidades, essa [demissões] inclusive", disse Barioni, que assumiu
o cargo em novembro de 2007,
em entrevista na sede da empresa perto do aeroporto de
Congonhas, em São Paulo.
FOLHA - Qual será o impacto da liberação das tarifas para a TAM?
DAVID BARIONI - Estamos fazendo um estudo para medir o impacto. Claro que vamos tomar
medidas de redução de custo,
mas é importante lembrar que
a empresa é eficiente. O custo
das companhias brasileiras de
aviação é maior não por ineficiência, mas pelo custo-país.
Não podemos baixar imposto,
não podemos importar uma
peça mais barata e não podemos pagar combustível mais
barato.
FOLHA - A TAM pensa em demitir?
BARIONI - Hoje, nada está descartado. Nossa obrigação é colocar a empresa num nível
competitivo. Não vamos reduzir a qualidade do produto, mas
precisamos baixar os custos.
Vou analisar todas as possibilidades, essa [das demissões] inclusive. Não podemos agora ser
inocentes e dizer não a qualquer ideia. Se tivermos rotas
que passem a ser não vantajosas a partir dessa liberalidade
tarifária, vamos ter que ver o
que podemos fazer.
FOLHA - O sr. foi surpreendido por
essa decisão da Anac?
BARIONI - Não diria que fui surpreendido. O governo já vinha
sinalizando essa vontade de fazer a liberação. Claro que eu
gostaria de ter tido mais tempo
de conversar. O Congresso Nacional tinha até chamado a
Anac para conversar. Essa é
uma decisão de Estado, e acho
que deveria ter sido tomada no
Congresso. Trata-se de uma
medida que impacta o Brasil,
impacta empresas brasileiras,
impacta milhares de empregos
e impacta o futuro da aviação
brasileira. Na minha opinião,
como presidente da TAM e cidadão, essa decisão poderia ter
sido tomada no Congresso depois de um amplo debate e a
partir de um consenso, e não
pela agência, unilateralmente.
FOLHA - Foi arbitrário?
BARIONI - Não. A agência tem o
total direito de fazer isso. Temos que tomar cuidado em
olhar a liberação de tarifas como uma medida que vai baixar
os preços no minuto seguinte.
Ela pode até não baixar, mas, se
baixar, colocando em risco empresas brasileiras, talvez não
valha a pena. Por isso, na minha
opinião, embora legal, essa decisão deveria ter sido tomada
no Congresso Nacional.
FOLHA - As empresas brasileiras de
aviação estão em risco?
BARIONI - Vamos ter que esperar os resultados do estudo dos
impactos para avaliar melhor,
mas hoje estamos, na medida
em que essa regra for implantada, numa posição de desvantagem em relação aos concorrentes internacionais. O mundo
inteiro hoje trata de proteger os
seus mercados de uma forma
ou de outra. O Japão, por exemplo, adotou, a partir deste mês
de abril, um piso mínimo tarifário, exatamente o que o Brasil
acabou. O Brasil, com essa regra, está abrindo o seu mercado
para empresas muito mais fortes do que a nossa e com vantagens competitivas que não conseguimos ter porque o custo-país aqui é mais elevado.
FOLHA - A TAM já tomou alguma
decisão após essa decisão da Anac?
BARIONI - Nós decidimos hoje
[ontem] postergar a mudança
da nossa sede para um edifício
de 15 andares na Paulista. O
custo na preparação desse prédio seria na casa de R$ 10 milhões a 12 milhões, e, neste momento, não podemos arcar com
essa despesa.
FOLHA - A TAM pensa em pedir alguma compensação ao governo?
BARIONI - Não há espaço para
isso. O que gostaríamos é que
houvesse uma reforma tributária para que essa desvantagem
do custo-Brasil fosse revista. O
Chile, por exemplo, paga 15
pontos percentuais a menos
em imposto do que o Brasil. Os
Estados Unidos, dez pontos, e a
Europa, cinco. Não é uma questão de compensação, mas de lógica empresarial.
FOLHA - Por que o preço de uma tarifa da TAM comprada no exterior é
menor do que no mercado interno?
BARIONI - Uma tarifa São Paulo-Miami custa mais ou menos
US$ 1.000,00, e uma tarifa Miami-São Paulo, US$ 700. Por que
lá é mais barata? Porque lá o
concorrente tem um peso de
custos pela questão tributária
menor do que o nosso. Lá o
concorrente opera a um preço
mais baixo do que o nosso. Por
isso, temos que nos equiparar
ao preço deles voando deficitariamente. Voamos deficitários
numa ponta e não temos que
conseguir alguma receita favorável. Agora, com essa liberação, nós precisamos verificar o
que vai acontecer. Nós podemos ter nas duas pontas um
preço menor do que se pratica
hoje, e isso nos pode nos levar a
uma condição desfavorável.
Teremos de nos reinventar para que a empresa não fique em
situação de desvantagem devido a essa liberação tarifária.
FOLHA - A rentabilidade dos voos
internacionais é maior do que a dos
nacionais?
BARIONI - Não divulgamos os
números separadamente. A
rentabilidade da empresa foi de
5,7% no ano passado. Nós tivemos um resultado operacional
bastante positivo. Só dez empresas no mundo tiveram um
resultado favorável. Nós acabamos tendo prejuízo devido ao
impacto financeiro por conta
de operações de "hedge" [proteção] de combustível, mas o
resultado operacional, a geração de valores pela atividade
fim da empresa, foi favorável,
de R$ 725 milhões.
Nosso negócio vive de volume. Precisamos de volume.
Nossa margem é muito pequena. Embora tenhamos sido
uma das dez empresas aéreas
com resultado operacional positivo em 2008, mesmo assim
foi pequeno, de apenas 5,7%,
principalmente se comparado
com outros setores da indústria
ou mesmo de serviços. Não há
respaldo técnico para achar
que o Brasil tenha espaço para
um número muito grande de
companhias aéreas. Com 60
milhões de passageiros/ano,
não há volume para muitas empresas no Brasil, infelizmente.
Essa conta não fecha.
O Brasil teve 19 companhias
aéreas que desapareceram nos
últimos dez anos. Não é uma
questão de competência. Não
há passageiro suficiente para
sustentar muito mais que duas
empresas rentáveis, e, mesmo
assim, com rentabilidade pequena. Tivemos no ano passado
um lucro operacional de R$ 725
milhões para um faturamento
de R$ 12 bilhões, o que mostra
que é uma margem muito pequena para uma empresa desse
tamanho. Tomar duas ou três
decisões erradas que queimem
R$ 725 milhões é muito fácil.
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