São Paulo, sábado, 24 de abril de 2010

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G20 aprova medidas para controlar setor financeiro

Entre as ações, está a limitação a altas remunerações de executivos do setor

Mantega afirma que países como o Brasil, onde já há maior controle sobre as instituições, adotarão apenas medidas mais gerais

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Em comunicado conjunto divulgado ontem, o G20 (grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo) se comprometeu a levar a cabo, com vistas à implementação nos próximos dois anos, uma série de medidas para impedir que o setor financeiro volte a cometer os excessos que levaram à crise.
O comunicado do grupo deixa claro que os governos vão perseguir tanto medidas para limitar as "compensações" a executivos quanto "regras internacionalmente aceitas que elevem a quantidade e a qualidade das reservas de capital dos bancos e que desencorajem a tomada excessiva de riscos".
Os ministros do G20 se reuniram na sede do FMI (Fundo Monetário Internacional). O comunicado foi o mais incisivo de seus membros desde o início da crise na direção de uma convergência sobre a necessidade de mudar o setor financeiro.
O ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que há um consenso de que a reforma do setor financeiro deve ser feita. "O momento é agora, porque as instituições financeiras estão voltando ao comportamento anterior à crise, como se nada tivesse acontecido", disse.
"Temos de aproveitar o momento para construir uma nova estrutura financeira mundial", afirmou o brasileiro. Ele destacou que a reforma deve levar em conta as características diferentes de cada país.
"Trabalhávamos com menos alavancagem, não entramos nos "subprimes" [empréstimos de alto risco] e o setor de derivativos estava mais calmo. Temos que levar em conta essas diferenças na reforma. Há mecanismos gerais, como diminuir a alavancagem, ou estabelecer limites para ela, mas, para nossos países, isso é desnecessário porque neles a alvancagem já é baixa", disse.
Até o final deste ano, os países querem fechar um pouco mais o leque de medidas. A ideia é implementar as regras completamente até o final de 2012, à medida que a crise for ficando para trás.
O G20 também quer que o FMI continue trabalhando em sua proposta de criar uma taxação sobre o sistema financeiro para eventualmente compensar os governos que tiveram gastos excessivos com a crise provocada pelos bancos.
"O FMI deve avançar nas opções para assegurar que as instituições financeiras de cada país paguem o preço para compensar as extraordinárias intervenções estatais sempre que elas ocorrerem; e evitar a tomada excessiva de riscos, sempre considerando as circunstâncias individuais de cada país", diz o comunicado do G20.
No caso do Brasil, Mantega já disse que a taxação talvez não seja adequada. Mas o G20 ficou de rediscutir o assunto em novo encontro, em junho.
"Onde há mais mais diferença é na taxação", disse Mantega. "Há a insistência de alguns países, como o Reino Unido, que faz questão dessa taxa. Os EUA também. Os países que já têm de certa forma uma taxação maior sobre o capital financeiro, como é o caso do Brasil, que têm obrigações que não existem em outros países -compulsório, direcionamento de parte do crédito à agricultura- não precisariam [da taxação]."
Outra medida acordada pelo G20 é a criação de "câmaras de compensação" para o registro de operações hoje pouco transparentes e sem regras definidas, como as realizadas nos mercados de derivativos.
Ao contrário do esperado, o G20 não fez nenhuma referência ao pedido de ajuda financeira da Grécia ontem ou à necessidade de a China mudar seu regime cambial, permitindo a valorização de sua moeda.


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