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Erro em especulação com dólar e juros faz risco-país passar de mil
DA REPORTAGEM LOCAL
DE WASHINGTON
O risco de investir no Brasil andou ontem a mil, mas nem incerteza política nem deterioração da
economia ou taxa de juros estão
na origem da alta do dólar e do
risco-país de ontem. Segundo
dois bancos de investimento em
Nova York e operadores de mercado no Brasil, a agitação no mercado financeiro deveu-se à ação
de bancos que tiveram de compensar perdas na BM&F (Bolsa
de Mercadorias & Futuros).
O dólar chegou a bater em R$
2,55, em alta de 1%, mas a cotação
caiu durante a tarde para R$
2,528, com apreciação de 0,12%. O
risco Brasil foi a 1.003 pontos básicos antes de recuar para 972, em
alta de 1,36%, no final das operações do mercado no Brasil [leia
quadro acima". Segundo os bancos de Wall Street e operadores
brasileiros, bancos tiveram de
buscar dólares e vender títulos da
dívida brasileira para cobrir suas
perdas na BM&F.
A explicação para a movimentação nervosa no mercado está
em um ajuste nas operações de investidores feitas em uma modalidade específica de negociação do
mercado futuro, o chamado FRA
(Forward Rate Agreement) de cupom cambial que é uma projeção
do valor da taxa de juros em dólar.
Os contratos de FRA refletem as
apostas dos investidores para a taxa de juros e câmbio. Assim, o investidor que acredita em queda
dos juros e desvalorização do dólar vende contratos de FRA na
BM&F. Se as taxas acabam subindo no futuro, esse investidor perde dinheiro porque estará recebendo um valor menor, acertado
previamente, do que a que esses
contratos valem de fato. Foi o que
ocorreu nos últimos dias.
A BM&F faz diariamente um
ajuste nas posições de seus clientes. Aqueles investidores que vão
perdendo em suas apostas têm de
pagar esse ajuste em dinheiro à
bolsa que repassa o valor para os
aplicadores que estão do lado
oposto da mesma posição.
Por conta, do
Operado por instituições de
grande porte, o FRA tem problemas de baixa liquidez e alta alavancagem. Segundo operadores,
há uma semana, as taxas medidas
pelo FRA começaram a subir fortemente -há um ano oscilando
em torno dos 4%, elas pularam
para 7,6%. O motivo para o salto
foi a alta do dólar no início deste
mês. Como o mercado vinha relativamente tranquilo até então, os
investidores não contavam com a
forte valorização da moeda norte-americana que, neste mês, acumula alta de 7%.
"As posições tomadas neste
mercado apostavam que o dólar
não subiria com força ou, pelo
menos, devolveria a alta acumulada. As instituições acabaram perdendo o momento certo de modificar as suas opostas", afirma Helio Osaki, analista da Finambras.
Como a liquidez do mercado de
FRA é muito pequena, para zerar
suas posições neste mercado investidores acabaram se desfazendo de ativos em outras modalidades do mercado futuro, como juros ou dólar, e mesmo no mercado secundário de títulos da dívida
externa brasileira, para cobrir as
perdas e poder deixar o mercado
de FRA cambial.
Esse ajuste que teve de ser feito
no FRA cambial acabou por pressionar o dólar, uma vez que as instituições precisavam de dinheiro
e buscavam "hedge" (proteção
cambial) para se proteger de uma
aposta equivocada.
O nervosismo foi tanto que, no
início da tarde, o Banco Central
fez uma consulta a seus "dealers"
(bancos autorizados a operar no
mercado em nome do BC) para
verificar qual seria a demanda por
um leilão de título cambial de curto prazo. O leilão não aconteceu,
mas serviu para inverter a tendência de alta da moeda. A partir daí,
também, o mercado preferiu
olhar para boas notícias, como o
resultado das contas brasileiras
sob controle, apesar de ser este
um ano eleitoral.
(Érica Fraga e Ana Paula Ragazzi, da Reportagem Local, e Marcio Aith, de Washington)
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