São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Erro em especulação com dólar e juros faz risco-país passar de mil

DA REPORTAGEM LOCAL

DE WASHINGTON

O risco de investir no Brasil andou ontem a mil, mas nem incerteza política nem deterioração da economia ou taxa de juros estão na origem da alta do dólar e do risco-país de ontem. Segundo dois bancos de investimento em Nova York e operadores de mercado no Brasil, a agitação no mercado financeiro deveu-se à ação de bancos que tiveram de compensar perdas na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros).
O dólar chegou a bater em R$ 2,55, em alta de 1%, mas a cotação caiu durante a tarde para R$ 2,528, com apreciação de 0,12%. O risco Brasil foi a 1.003 pontos básicos antes de recuar para 972, em alta de 1,36%, no final das operações do mercado no Brasil [leia quadro acima". Segundo os bancos de Wall Street e operadores brasileiros, bancos tiveram de buscar dólares e vender títulos da dívida brasileira para cobrir suas perdas na BM&F.
A explicação para a movimentação nervosa no mercado está em um ajuste nas operações de investidores feitas em uma modalidade específica de negociação do mercado futuro, o chamado FRA (Forward Rate Agreement) de cupom cambial que é uma projeção do valor da taxa de juros em dólar. Os contratos de FRA refletem as apostas dos investidores para a taxa de juros e câmbio. Assim, o investidor que acredita em queda dos juros e desvalorização do dólar vende contratos de FRA na BM&F. Se as taxas acabam subindo no futuro, esse investidor perde dinheiro porque estará recebendo um valor menor, acertado previamente, do que a que esses contratos valem de fato. Foi o que ocorreu nos últimos dias.
A BM&F faz diariamente um ajuste nas posições de seus clientes. Aqueles investidores que vão perdendo em suas apostas têm de pagar esse ajuste em dinheiro à bolsa que repassa o valor para os aplicadores que estão do lado oposto da mesma posição.
Por conta, do
Operado por instituições de grande porte, o FRA tem problemas de baixa liquidez e alta alavancagem. Segundo operadores, há uma semana, as taxas medidas pelo FRA começaram a subir fortemente -há um ano oscilando em torno dos 4%, elas pularam para 7,6%. O motivo para o salto foi a alta do dólar no início deste mês. Como o mercado vinha relativamente tranquilo até então, os investidores não contavam com a forte valorização da moeda norte-americana que, neste mês, acumula alta de 7%.
"As posições tomadas neste mercado apostavam que o dólar não subiria com força ou, pelo menos, devolveria a alta acumulada. As instituições acabaram perdendo o momento certo de modificar as suas opostas", afirma Helio Osaki, analista da Finambras.
Como a liquidez do mercado de FRA é muito pequena, para zerar suas posições neste mercado investidores acabaram se desfazendo de ativos em outras modalidades do mercado futuro, como juros ou dólar, e mesmo no mercado secundário de títulos da dívida externa brasileira, para cobrir as perdas e poder deixar o mercado de FRA cambial.
Esse ajuste que teve de ser feito no FRA cambial acabou por pressionar o dólar, uma vez que as instituições precisavam de dinheiro e buscavam "hedge" (proteção cambial) para se proteger de uma aposta equivocada.
O nervosismo foi tanto que, no início da tarde, o Banco Central fez uma consulta a seus "dealers" (bancos autorizados a operar no mercado em nome do BC) para verificar qual seria a demanda por um leilão de título cambial de curto prazo. O leilão não aconteceu, mas serviu para inverter a tendência de alta da moeda. A partir daí, também, o mercado preferiu olhar para boas notícias, como o resultado das contas brasileiras sob controle, apesar de ser este um ano eleitoral.
(Érica Fraga e Ana Paula Ragazzi, da Reportagem Local, e Marcio Aith, de Washington)

Texto Anterior: Política monetária: Bancos criticam a manutenção dos juros
Próximo Texto: Opinião Econômica - Carlos Mendonça de Barros: Política e economia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.