São Paulo, sábado, 24 de maio de 2008

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Bancos defendem leilão para Nossa Caixa

Instituições privadas, no entanto, ainda não falam em contestar o negócio entre os governos Serra e Lula na Justiça

Bancos privados afirmam que mantêm interesse na Nossa Caixa mesmo se perderem R$ 16 bilhões em depósitos judiciais no banco


TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Descontentes com os rumos das negociações exclusivas entre Banco do Brasil e Nossa Caixa, os principais bancos privados no país -Itaú, Bradesco, Santander e Unibanco- vieram a público ontem defender um leilão de venda aberto a todos os interessados, sejam instituições públicas ou privadas.
Na visão dos bancos, a concorrência é um mecanismo transparente para venda de um bem público e garantiria o melhor valor possível tanto para o governo paulista quanto para os milhares de acionistas, como aconteceu na privatização do Banespa, que teve ágio de 281%.
Os bancos contestam o entendimento dos governos federal e paulista de que a incorporação prescinde de uma licitação. Argumentam que o banco tem economia mista -reúne o Tesouro Nacional e acionistas. Dizem ainda que o BB disputa cliente e mercado nas mesmas praças que as demais instituições. Mesmo assim, nenhum deles cogita, até agora, entrar com uma ação na Justiça.
Lázaro Brandão, presidente do conselho do Bradesco, e Roberto Setubal, presidente do Itaú, os dois maiores bancos privados, afirmaram que também têm interesse na Caixa.
"O leilão traz as coisas às claras, como o preço correto, que seria formado a partir da concorrência entre os interessados. As regras de mercado devem prevalecer, com a realização de uma licitação. O BB é um candidato forte, mas não se pode eliminar o direito à concorrência", diz Brandão, em nota.
"O Unibanco tem interesse na Nossa Caixa. Estimamos que [o banco] aumentaria em pelo menos 40% a nossa presença no Estado de São Paulo", afirma Marcio Schettini, vice-presidente do Unibanco.
O Santander, que comprou o ABN Real no ano passado, reconhece em nota como "legítimo" o interesse do BB. "Porém, um negócio desse porte deveria ter regras que levassem em conta a participação, por meio de leilão, de todos os bancos, tornando o processo mais transparente para milhares de acionistas."
Ceres Lisboa, analista de bancos da agência Moody"s de classificação de riscos, vê o BB como grande beneficiado pela incorporação e afirma que os demais bancos terão de se mexer para manter seu posicionamento em São Paulo.
Para os bancos privados, o interesse pela Nossa Caixa não é menor nem com a possibilidade de perder R$ 16 bilhões em depósitos judiciais que, pela legislação, devem permanecem em bancos oficiais. Na verdade, eles contestam essa interpretação e lembram que, quando compraram bancos em privatização nos Estados do Rio, Minas e Amazonas, os depósitos judiciais permaneceram com eles durante um bom tempo.
No ano passado, os Tribunais de Justiça do Rio e de Minas Gerais decidiram licitar esses depósitos, mas a concorrência foi contestada pelo BB, sob argumento de que as contas deveriam permanecer em um banco oficial. O Bradesco, que venceu as licitações, tenta exercer o direito de ter os depósitos repassados para suas contas.


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