São Paulo, sábado, 24 de maio de 2008

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Ambientalistas pedem retração econômica

Conflitos entre ambiente e desenvolvimento econômico foram tema de debate do IEEI, promovido pela Folha na segunda-feira

Países emergentes, como China e Índia, seguem na contramão da Europa, que quer expansão em bases eco-sustentáveis


Leo Caobelli/Folha Imagem
Mesa com os participantes de debate no auditório da Folha; crescimento econômico sem preocupação ambiental é contestado

DA REPORTAGEM LOCAL

O crescimento econômico nunca foi tão contestado. Na Europa, onde encontram-se algumas das maiores economias do planeta, ambientalistas já pregam o movimento intitulado "degrowth" (retração econômica, numa tradução livre), que prevê a desaceleração nos países que consolidaram seu modelo produtivo despreocupados com os limites do "ecologicamente sustentável".
O conflito entre desenvolvimento econômico e ambiente, que nos países europeus encontra espaço, foi tema do seminário internacional do IEEI (Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais), promovido pela Folha, que ocorreu na segunda-feira, dia 19 deste mês.
O debate contou com os economistas Gilberto Dupas (presidente do IEEI), Peter May (UFRJ), Guilherme Leite da Silva Dias (USP) e Juan Camilo Cajigas-Rotundo (Fundación Universitaria Central, Colômbia), além do filósofo da ciência Hugh Lacey (Swarthmore College, EUA) e o sociólogo Antonio Carlos Diegues (USP).
Ao longo de um ano de estudos, coordenados por Dupas, os pesquisadores compilaram o livro "Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico: tensões estruturais", que será publicado no próximo mês pela Editora da Unesp.
Segundo Peter May, um dos palestrantes, o "degrowth", que na França tem seus maiores defensores, entra em choque com o crescimento acelerado dos Brics, time de nações emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China.
"Como convencer esse grupo, que esperou tanto por sua vez na fila do crescimento econômico, de que é possível avançar sem repetir o modelo capitalista vigente, passando a gastar menos energia, lançando menos poluentes na atmosfera?", indaga May.
Para ele, os Brics, que atualmente detêm 43% da população mundial, 30% da área territorial do planeta e apenas 13% do PIB, passarão a ocupar posição de destaque no cenário econômico mundial, respondendo por 75% da riqueza mundial a partir de 2030.
"Para esse time, a idéia de desaceleração é quase uma blasfêmia", diz May. Entretanto ele defende a necessidade de um plano alternativo para que os efeitos do aquecimento global não se agravem.
Os Brics dão sinais de que avançam em um modelo que acentuará ainda mais esses problemas. "A curva entre renda per capita e emissão de gás carbônico tem aumentado nesses países", diz May. Na sua avaliação, isso mostra que o enriquecimento desses países acontece com altos níveis de poluição, especialmente de gases, como o dióxido de carbono, que contribuem para o aquecimento do planeta.
Dupas considera que a indústria automobilística é um termômetro desse fenômeno. Segundo ele, está em curso uma estratégia de negócio entre as montadoras que prevê o lançamento de veículos abaixo de US$ 3.000.
Recentemente, a indiana Tata lançou o carro mais barato do mundo, por US$ 2.500. "Dirigentes do setor afirmam que não sobreviverá quem tiver carros acima desse preço. Imagine o impacto disso no ambiente", diz Dupas.

Combustíveis e energia
Parte do agravamento da situação ambiental também se deve à estrutura de preço da energia e dos combustíveis.
Dias afirma que os chineses estão entre os que mais abusam do consumo de recursos naturais. "Na China, o governo usa a taxa de câmbio corrente para praticar preços baixos de combustíveis líquidos. O litro da gasolina acaba saindo por cerca de R$ 0,40."
Para ele, esse tipo de política significa um incentivo governamental à promoção do crescimento a qualquer preço. Ainda segundo Dias, Índia e Brasil diferenciam-se da China nesse quesito e estão muito próximos na curva que mostra os gastos e os custos de energia e de combustíveis. "Quanto menor o custo, maior o gasto energético. Índia e Brasil têm gastos mais comedidos."
Dias acredita que a produção de álcool e de biodiesel é uma boa alternativa aos derivados de petróleo (mais poluentes), mas os produtores ainda encontram dificuldades, particularmente no Brasil e na Índia.
Países desenvolvidos preocupam-se com a redução das áreas destinadas ao cultivo de alimentos, temendo uma migração de produtores que escolherão os combustíveis e não os armazéns de distribuição de alimentos. Essa prática já ocorre e está provocando alta no preço das commodities.
Outro problema é a política de incentivos à produção dos biocombustíveis. "De onde virão os subsídios à produção do biodiesel?", indaga Dias. Para ele, além do efeito da alta no preço da soja, os produtores não estão conseguindo cumprir os contratos de entrega para os leilões realizados pelo governo porque precisam de ajuda governamental. "É diferente do álcool, que conta com estímulos há várias décadas."


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