|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ambientalistas pedem retração econômica
Conflitos entre ambiente e desenvolvimento econômico foram tema de debate do IEEI, promovido pela Folha na segunda-feira
Países emergentes, como
China e Índia, seguem
na contramão da Europa,
que quer expansão em
bases eco-sustentáveis
Leo Caobelli/Folha Imagem
|
|
Mesa com os participantes de debate no auditório da Folha; crescimento econômico sem preocupação ambiental é contestado
DA REPORTAGEM LOCAL
O crescimento econômico
nunca foi tão contestado. Na
Europa, onde encontram-se algumas das maiores economias
do planeta, ambientalistas já
pregam o movimento intitulado "degrowth" (retração econômica, numa tradução livre),
que prevê a desaceleração nos
países que consolidaram seu
modelo produtivo despreocupados com os limites do "ecologicamente sustentável".
O conflito entre desenvolvimento econômico e ambiente,
que nos países europeus encontra espaço, foi tema do seminário internacional do IEEI
(Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais), promovido pela Folha, que ocorreu na segunda-feira, dia 19 deste mês.
O debate contou com os economistas Gilberto Dupas (presidente do IEEI), Peter May
(UFRJ), Guilherme Leite da
Silva Dias (USP) e Juan Camilo
Cajigas-Rotundo (Fundación
Universitaria Central, Colômbia), além do filósofo da ciência
Hugh Lacey (Swarthmore College, EUA) e o sociólogo Antonio Carlos Diegues (USP).
Ao longo de um ano de estudos, coordenados por Dupas, os
pesquisadores compilaram o livro "Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico: tensões estruturais", que será publicado no próximo mês pela
Editora da Unesp.
Segundo Peter May, um dos
palestrantes, o "degrowth", que
na França tem seus maiores
defensores, entra em choque
com o crescimento acelerado
dos Brics, time de nações
emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China.
"Como convencer esse grupo, que esperou tanto por sua
vez na fila do crescimento econômico, de que é possível avançar sem repetir o modelo capitalista vigente, passando a gastar menos energia, lançando
menos poluentes na atmosfera?", indaga May.
Para ele, os Brics, que atualmente detêm 43% da população mundial, 30% da área territorial do planeta e apenas 13%
do PIB, passarão a ocupar posição de destaque no cenário
econômico mundial, respondendo por 75% da riqueza
mundial a partir de 2030.
"Para esse time, a idéia de desaceleração é quase uma blasfêmia", diz May. Entretanto ele
defende a necessidade de um
plano alternativo para que os
efeitos do aquecimento global
não se agravem.
Os Brics dão sinais de que
avançam em um modelo que
acentuará ainda mais esses
problemas. "A curva entre renda per capita e emissão de gás
carbônico tem aumentado nesses países", diz May. Na sua
avaliação, isso mostra que o
enriquecimento desses países
acontece com altos níveis de
poluição, especialmente de gases, como o dióxido de carbono,
que contribuem para o aquecimento do planeta.
Dupas considera que a indústria automobilística é um
termômetro desse fenômeno.
Segundo ele, está em curso
uma estratégia de negócio entre as montadoras que prevê o
lançamento de veículos abaixo
de US$ 3.000.
Recentemente, a indiana Tata lançou o carro mais barato
do mundo, por US$ 2.500. "Dirigentes do setor afirmam que
não sobreviverá quem tiver
carros acima desse preço. Imagine o impacto disso no ambiente", diz Dupas.
Combustíveis e energia
Parte do agravamento da situação ambiental também se
deve à estrutura de preço da
energia e dos combustíveis.
Dias afirma que os chineses
estão entre os que mais abusam
do consumo de recursos naturais. "Na China, o governo usa a
taxa de câmbio corrente para
praticar preços baixos de combustíveis líquidos. O litro da gasolina acaba saindo por cerca
de R$ 0,40."
Para ele, esse tipo de política
significa um incentivo governamental à promoção do crescimento a qualquer preço. Ainda
segundo Dias, Índia e Brasil diferenciam-se da China nesse
quesito e estão muito próximos
na curva que mostra os gastos e
os custos de energia e de combustíveis. "Quanto menor o
custo, maior o gasto energético.
Índia e Brasil têm gastos mais
comedidos."
Dias acredita que a produção
de álcool e de biodiesel é uma
boa alternativa aos derivados
de petróleo (mais poluentes),
mas os produtores ainda encontram dificuldades, particularmente no Brasil e na Índia.
Países desenvolvidos preocupam-se com a redução das
áreas destinadas ao cultivo de
alimentos, temendo uma migração de produtores que escolherão os combustíveis e não os
armazéns de distribuição de
alimentos. Essa prática já ocorre e está provocando alta no
preço das commodities.
Outro problema é a política
de incentivos à produção dos
biocombustíveis. "De onde virão os subsídios à produção do
biodiesel?", indaga Dias. Para
ele, além do efeito da alta no
preço da soja, os produtores
não estão conseguindo cumprir
os contratos de entrega para os
leilões realizados pelo governo
porque precisam de ajuda governamental. "É diferente do
álcool, que conta com estímulos há várias décadas."
Texto Anterior: Petrobras devolve ganhos recentes e cai mais de 3% Próximo Texto: Frases Índice
|