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TELEFONIA
Operadoras desrespeitam padrão de qualidade de serviços; agência reconhece que últimas autuações foram em 2000
Teles não cumprem meta, e Anatel não multa
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
As operadoras de telefonia no
Brasil estão desrespeitando sistematicamente o padrão de qualidade de serviços exigido pela
Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), responsável pela fiscalização do setor.
Levantamento sobre a qualidade dos serviços em telecomunicações realizado pela consultoria
Brisa mostra que 11 das 35 metas
de qualidade exigidas pela agência foram descumpridas sucessivamente ao longo do período entre janeiro de 2001 e abril de 2002.
Grandes empresas como Telemar, Telefônica, Embratel e Intelig foram algumas das infratoras.
A pesquisa é baseada em dados
da própria agência, disponíveis na
internet. "A Anatel, portanto, sabe que existem esses problemas e
não está fazendo nada", critica
Virgilio Freire, consultor-chefe de
telecomunicações da Brisa.
Metas importantes, como o limite de três solicitações mensais
de reparos para cada cem telefones, têm sido deliberadamente
descumpridas. Somente em 3 dos
16 meses do período da pesquisa a
média das operadoras ficou acima ou melhor que a meta estabelecida para esse quesito.
O vice-presidente da Anatel,
Antonio Carlos Valente, tenta justificar a situação. "Evidentemente
que as operadoras deveriam cumprir as metas. Mas a qualidade nos
serviços do setor já foi muito pior
no passado, e não faz sentido aplicarmos multas porque uma operadora não cumpre uma ou duas
metas", diz Valente.
O executivo afirma que muitas
punições já foram aplicadas. Mas
a própria Anatel declara que as últimas multas aplicadas pelo não-cumprimento de metas foram lavradas em setembro de 2000. De
lá para cá, não há mais registros.
Segundo a agência, há processos de metas não-cumpridas em
fase de elaboração, mas que levam
tempo para serem concluídos.
Custo da qualidade
Congestionamento nas linhas,
consertos de telefones fora dos
prazos estabelecidos e mesmo
atraso no reparo de linhas de serviços de utilidade pública (como
hospitais, Polícia Civil e bombeiros) transformaram-se em praxe
em várias operadoras.
A BrasilTelecom não está entre
as operadoras com pior desempenho. Ainda assim, não cumpriu a
meta de reparar 98% dos telefones de utilidade pública com defeito em até duas horas em cinco
meses de 2001.
A presidente da empresa, Carla
Cico, põe a culpa na Anatel. "O nível de qualidade exigido pela
agência é um dos mais altos do
planeta, comparável aos dos países mais desenvolvidos", reclama
Cico. "Os gastos para cumprir as
metas da Anatel são muito altos."
Para um analista do setor, os sócios das operadoras optaram nos
últimos meses por transformar
suas operadoras em máquinas de
fazer dinheiro, colocando de lado
a satisfação dos clientes, justamente para não ter de desembolsar recursos a fim de garantir a
qualidade das redes.
Universalização
Outro fator que influenciou no
mau desempenho nos serviços
das operadoras em 2001 e 2002 foi
a pressa de várias delas em antecipar metas de expansão de redes
de telefonia. O objetivo era conquistar ainda neste ano as licenças
para operar nacionalmente e realizar ligações de longa distância
internacionais, o que deixou a
qualidade em segundo plano.
É o caso da Telefônica e da Telemar. Representantes das duas
companhias afirmam que dedicaram mais atenção à universalização de seus serviços do que à qualidade dos serviços oferecida aos
usuários em 2001.
"Esse período coincidiu com o
ápice do processo de universalização do serviço de telefonia fixa no
Estado de São Paulo", afirma Fernando Xavier Ferreira, presidente
do grupo Telefônica no Brasil. Em
menos de três anos o número de
linhas da Telefônica passou de 5,9
milhões para 12,5 milhões, diz ele.
A Telefônica somente restabeleceu um bom desempenho de qualidade em dezembro passado.
Desde então, tem estado dentro
de todas as 35 metas da Anatel.
A Telemar também atribui a má
qualidade nos serviços à preocupação em investir nas metas de
universalização de sua rede. Cerca
de R$ 8 bilhões foram gastos em
2001 na ampliação do número de
linhas nos 16 Estados onde atua.
A companhia atingiu 18 milhões
de telefones em atividade naquele
ano. Mas teve sérios problemas
no cumprimento de metas de
qualidade nas chamadas locais
completadas no Estado do Rio,
como nas chamadas de longa distância dentro da sua região.
Apesar desses problemas, a empresa não foi multada até agora
pela Anatel. "Nunca recebemos
nenhuma multa da agência", afirma José Fernandes Pauletti, presidente da Telemar. A companhia
conseguiu na semana passada a licença para realizar ligações internacionais.
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