São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

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VIAGEM A NY

Apesar dos argumentos do governo Lula, empresários estrangeiros ainda vêem barreiras para fazer negócios no Brasil

Investidores apontam "fragilidades" do país

Jeff Christensen/Reuters
O ministro Antonio Palocci (Fazenda) conversa com repórteres antes do encontro com investidores estrangeiros em Nova York


DO ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
DE NOVA YORK

Atrasos na solução de problemas regulatórios, carga tributária excessiva, competição desleal com empresas que atuam na informalidade e expectativa de crescimento e ganhos baixos.
Esses são alguns dos vários "problemas reais" apresentados por investidores internacionais ouvidos pela Folha que participaram ontem do seminário promovido em Nova York (EUA) para "vender" o Brasil.
Ann Stevens, vice-presidente da Ford para a América Latina, disse que "o Brasil ainda é relativamente frágil como lugar para se fazer negócios" e enfatizou o peso da carga tributária no país.
Durante discurso que antecedeu o de Luiz Inácio Lula da Silva em almoço com investidores, Stevens disse que o consumidor de automóveis no Brasil paga duas vezes mais impostos que o francês e cinco vezes mais que o norte-americano. Ela disse que continua "confiante" no Brasil.
April Foley, vice-presidente do Export-Import Bank dos Estados Unidos, afirmou que, embora seu banco tenha intenção de participar das PPPs (Parcerias Público-Privadas), ainda há "muitas dúvidas" sobre seu funcionamento e aprovação que impedem decisões de investimento.
Atrasos na definição de regras no setor elétrico também suspenderam aportes na área pelo Eximbank dos EUA, que tem hoje US$ 3,2 bilhões investidos no país.
Segundo Bailin Zheng, diretor-geral para os EUA do Bank of China, o maior banco de negócios chinês, a infra-estrutura e a falta de dinheiro para a área são hoje "o maior problema".
"É preciso definições para destravar a área. Várias empresas chinesas têm interesse no Brasil, mas não irão investir sem soluções em áreas como logística, energia e transportes", disse.

"Instabilidade"
Entre as empresas de médio porte, a maioria das participantes no seminário, a principal reclamação concentrou-se na expectativa de baixo crescimento e retorno sobre os investimentos realizados no Brasil.
Frank Pollock, vice-presidente da Plastipak, que fatura US$ 1 bilhão ao ano (10% no Brasil), reclamou da incidência de impostos em cascata sobre seu setor e afirmou que, apesar do apelo das autoridades brasileiras, não tem intenção de aumentar os investimentos no Brasil.
"Gostaríamos de poder fazer isso, mas ainda nos preocupa a instabilidade no país", disse.
A Clopay, outra empresa americana do setor de plásticos com faturamento anual de US$ 400 milhões, afirma que os lucros baixos combinados à informalidade no Brasil vêm "impedindo as decisões de investimentos".
"Nesses tempos difíceis, muitas empresas brasileiras em nosso setor trabalham na informalidade em várias áreas, coisa que não devemos fazer até por causa da legislação americana. Quando olhamos para nossos resultados na comparação com a concorrência, fica difícil justificar novos investimentos", diz Richard Jezzi, vice-presidente da Clopay.
Thomas Jagodinski, presidente da D&PL, empresa que comercializa sementes de algodão, afirma que a lentidão na política de definição do tratamento de transgênicos no Brasil vem retardando decisões de investimentos de sua empresa no país. "Geralmente, as coisas tomam muito tempo para serem resolvidas no Brasil", diz Jagodinski.
William Stein, gerente-geral da Hill-Rom, empresa de produtos hospitalares com faturamento anual de US$ 1,2 bilhão, disse que cogita no momento abrir uma fábrica no Brasil, mas que ainda deve esperar mais "algum tempo" para avaliar se a economia "se estabiliza de fato".
"Há cinco anos, tínhamos a mesma intenção, mas acabamos desistindo diante das incertezas", disse Stein.
Entre algumas das grandes empresas que participaram do encontro, a Alcoa, da área de alumínio, reafirmou sua "confiança" em continuar investido no país.
"Ao contrário de muitos outros investidores, temos uma visão de longo prazo no Brasil. E este governo começa a responder a muitas das dúvidas e perguntas", afirmou Joseph Muscari, vice-presidente da empresa para a América Latina e Ásia.
A Alcoa, com US$ 1 bilhão em investimentos no Brasil, investirá outros US$ 130 milhões entre 2004-2005 para expandir sua capacidade produtiva. (FCz e RC)


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