São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

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VACA DOENTE

País vizinho suspende importações do produto, mas governo diz que embargo termina hoje, assim como o russo

Argentina anuncia veto à carne brasileira

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

O governo argentino suspendeu ontem as importações de carne brasileira de animais suscetíveis à febre aftosa por causa do foco da doença encontrado recentemente em Monte Alegre, no Pará. O governo brasileiro, porém, diz que o embargo nem chegará a entrar em vigor e que a situação será normalizada hoje.
A razão que levou a Argentina a anunciar o veto é a mesma pela qual a Rússia já havia suspendido as compras do produto brasileiro na semana passada.
As autoridades sanitárias argentinas informaram que a medida extrema foi adotada por causa da falta de iniciativa do governo brasileiro em informar o parceiro sobre a dimensão do problema detectado e as medidas adotadas para combater o foco.
Antes mesmo de começar a valer a restrição do parceiro comercial, o governo brasileiro divulgou uma nota no fim da tarde de ontem em que anunciava que já havia feito contatos para normalizar o comércio tanto com a Argentina quanto com a Rússia.
O secretário de Agricultura da Argentina, Miguel Campo, informou que o embargo promovido pelos dois países deverá ser suspenso ainda hoje, segundo o ministro interino da Agricultura, Linneu Costa Lima.
A informação não foi confirmada pelo governo argentino. Antes da divulgação da nota brasileira, o Serviço Nacional de Qualidade Agroalimentar (Senasa) argentino informou que a proibição do ingresso de animais vulneráveis à doença ou produtos derivados desses animais "será temporária, e a suspensão da medida depende das investigações conduzidas pelas autoridades brasileiras e oportunos comunicados que se façam às autoridades argentinas".
"Assim que as informações forem analisadas pelos técnicos da Senasa, as importações do complexo carne serão normalizadas", afirma nota do Ministério das Agricultura brasileiro.
A Argentina não é um importador importante da carne brasileira. O vizinho compra principalmente carne de porco, único produto afetado pela proibição. Por ano, o país importa cerca de 23 mil toneladas do Brasil.
Já a Rússia é um parceiro comercial mais relevante, pois tem aumentado as importações do Brasil. No ano passado, os russos compraram 612 mil toneladas de carne brasileira.
O prejuízo diário dos exportadores de Santa Catarina com o veto dos russos é de US$ 5 milhões, informa a nota do ministério brasileiro, citando cálculos do governador do Estado, Luiz Henrique Silveira.

Desconforto
Apesar de não ser um importador relevante da carne brasileira, a medida argentina causou desconforto no governo brasileiro pela situação de parceria entre os dois países que, por causa do Mercosul, têm planos de promoção conjunta de exportação do produto em outros mercados.
A iniciativa argentina, segundo a Folha apurou com membros do governo, afeta a imagem do produto brasileiro em mercados importantes.
Apesar da parceria entre Brasil e Argentina, há uma certa disputa entre os dois sócios por mercados, principalmente na Europa. Segundo a Folha apurou, técnicos do Ministério da Agricultura desconfiam de que a medida seja uma tentativa de prejudicar as exportações brasileiras para que a Argentina ganhe esses mercados.
O governo brasileiro combateu os dois argumentos do vizinho: o risco que o foco representa para o gado argentino e a falta de comunicação. O foco do Pará foi identificado a mais de 4.000 quilômetros da fronteira com a Argentina. Os especialistas do Ministério da Agricultura afirmam que não há razões técnicas para o embargo. De acordo com eles, o foco da doença está isolado das zonas exportadoras.
O secretário brasileiro de Defesa Agropecuária, Maçao Tadano, classificou a atitude argentina de "excesso de zelo". Na sua opinião, dada antes da divulgação da nota brasileira, eles voltarão atrás. "Temos as melhores relações com a Argentina", disse.
De acordo com o Ministério da Agricultura, o governo informou a Organização Internacional de Epizotia (OIE) sobre a descoberta do foco, tornada pública no último dia 17.
Mas a Folha apurou que o governo argentino esperava maior atenção com relação à comunicação sobre o novo foco de aftosa, pela importância das relações entre os dois países.
Segundo a embaixada brasileira em Buenos Aires, a Argentina informou que adotaria a suspensão das importações na tarde da última terça-feira.
Os dois países, os maiores produtores mundiais de carne, vêm tentando combater a doença para receber certificados internacionais de qualidade que possibilitem o aumento das exportações. Tanto o Brasil como a Argentina possuem áreas livre da doença com vacinação e sem vacinação.
Mercados importantes como Estados Unidos e Japão ainda não importam carne fresca do Brasil por problemas sanitários.
O novo foco deve adiar os planos do Brasil de ser considerado país livre de febre aftosa em 2005, conforme planejava o governo brasileiro. Oficialmente, porém, essa meta ainda não foi alterada.


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