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ANÁLISE
"Crescimento do país está comprometido"
DA REPORTAGEM LOCAL
Carlos Eduardo Gonçalves,
professor do departamento de
economia da FEA-USP, diz que o
risco que o país corre hoje, se as
taxas de juros se mantiverem elevadas, é ter um desempenho
"muito fraco neste ano". Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
(FF)
Folha - Os índices de inflação estão em queda. O BC deveria começar a reduzir os juros?
Carlos Eduardo Gonçalves - A atividade mais fraca e a inflação em
queda levaram o BC a parar de
elevar os juros. Mas isso passou
da hora. O BC afirma que a manutenção dos juros no atual patamar
por um período longo de tempo
será suficiente para trazer a inflação mais para próximo da meta.
Acho que os juros já poderiam
cair, mas isso só deve acontecer
em setembro.
Folha - Por quê?
Gonçalves - Se o BC começar a
derrubar os juros muito logo, dará um atestado de que errou na
mão em subir tanto. A inflação
tem uma correlação muito alta
com o câmbio nominal. Se os juros caírem agora, o câmbio se desvalorizará e a inflação pode se elevar um pouco, coisa que o BC não
quer. O dilema do BC é complicado. Se ele deixar para começar a
relaxar a política monetária muito
para o fim do ano, o risco é de
comprometer o crescimento no
ano que vem.
Folha - O que o sr. achou da decisão do CMN de manter a meta de
inflação de 4,5% até 2007?
Gonçalves - Meta de 4,5% não é
nenhum exagero. Está acima da
média da inflação das economias
emergentes e é bem razoável dado
que há o intervalo de confiança
para acomodar eventuais choques adversos. Meta mais alta não
significa crescimento maior.
Folha - De que outros instrumentos o BC ou o governo dispõem para
controlar a inflação?
Gonçalves - Instrumento compulsório é uma opção, mas distorce a alocação ótima de recursos e
só seria bem-vindo em situações
emergenciais. O ideal seria uma
política fiscal que permitisse uma
queda mais acelerada do juro real.
Folha - Parte do aumento da inflação se deve a choques de oferta,
como no caso do petróleo. O BC não
deveria levar isso em conta na hora
de avaliar a taxa de juros?
Gonçalves - Mas o BC leva isso
em conta. A idéia é a seguinte:
combater apenas os efeitos secundários do choque de oferta, impedindo que os aumentos de preços,
como os do petróleo, contaminem os outros preços. A idéia então é reagir ao choque de oferta
-não para compensá-lo via juros
mais elevados mas para impedir a
propagação do choque.
Folha - Juros altos pioram a relação dívida/PIB. Não seria o caso de
elevar o superávit primário?
Gonçalves - O fato de 50% da dívida do país ser indexada à Selic
diminui a eficácia da política monetária porque o canal do efeito
riqueza (o valor presente dos ativos dos indivíduos cai quando os
juros sobem) perde eficácia. Além
disso, ao pressionar a dívida, o aumento de juros afeta negativamente as expectativas de inflação.
Para atenuar esse efeito, o ideal
seria praticarmos um superávit
primário mais elevado.
Folha - Não estamos perdendo
oportunidades, já que o cenário externo é mais favorável?
Gonçalves - O crescimento tem
sido sustentado pelo motor externo. Mas os juros não podem cair
porque a inflação não era das melhores até dois meses atrás. O problema é que a oferta da economia
cresce pouco porque os investimentos são escassos. Por isso, a
demanda não pode crescer rápido
sem causar inflação. Resultado: a
autoridade monetária tem dificuldade para baixar os juros.
Folha - Os investimentos poderão
ser afetados com a atual política
monetária?
Gonçalves - Os dados de investimentos dos últimos dois trimestres foram muito ruins. Parte culpa da política monetária, parte
culpa de problemas estruturais.
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