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MÍDIA
Para o bilionário americano vice-presidente da Time Warner, jornais também perdem com a rede de computadores
Internet rouba audiência da TV, diz Turner
Fabrizia Granatieri
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Ted Turner, vice-presidente da Time Warner, no parque Lage |
CLAUDIA ANTUNES
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
A concorrência com a Internet
levou parte da audiência de jornais e emissoras de TV, avalia o
vice-presidente do grupo Time
Warner, o bilionário americano
Ted Turner, 61.
Esse foi um dos motivos que levaram a Time Warner ao processo de fusão com a America Online, o gigante mundial da Internet.
A megafusão, anunciada em janeiro, está sendo concluída nos
EUA, "mas os concorrentes estão
gritando até a morte", nas palavras de Turner.
Um dos 20 homens mais ricos
dos EUA, dono de mais de US$ 10
bilhões, Turner foi o criador da
CNN -canal de TV paga que
transmite notícias 24 horas por
dia. Turner veio ao Brasil como filantropo e membro do conselho
da Fundação das Nações Unidas.
A entidade surgiu em 97 a partir
de uma doação de US$ 1 bilhão
feita por ele à ONU. Investe em
projetos sociais no mundo inteiro
e hoje deverá anunciar, em Brasília, novas parcerias no país.
Para Turner, uma das prioridades é controlar o crescimento da
população mundial. "Olhe para as
pessoas vivendo nos morros. Não
há recursos suficientes", diz ele.
Mais interessado em defender
causas sociais e ecológicas do que
em falar de seus negócios, Turner
concedeu a seguinte entrevista à
Folha, no Rio de Janeiro.
Folha - Quando o senhor anunciou a doação, havia uma campanha nos EUA contra a ONU. Os congressistas republicanos bloqueavam o pagamento da dívida norte-americana à organização. A doação
teve motivação política?
Ted Turner - Os EUA não estavam pagando seus débitos à
ONU, mas o apoio entre o povo
norte-americano à ONU era grande. As Nações Unidas não tinham
dinheiro para pagar as contas. A
idéia foi parcialmente motivada
por isso.
Folha - Quais são os principais
projetos que a Fundação está interessada em promover?
Turner - Os que tentam fazer as
coisas mais igualitárias e melhores para a humanidade. Nós nos
importamos com o estado do planeta, os oceanos, a atmosfera, as
florestas tropicais.
Folha - Por que o senhor tem se
mostrado tão preocupado com o
aumento da população mundial?
Turner - Claro! Olhe para as pessoas vivendo nos morros. Não há
recursos suficientes. Há recursos
suficientes se você matar tudo em
volta e seguir colocando as pessoas em todos os lugares. Mas que
tipo de mundo seria esse sem animaizinhos e flores, exceto talvez
cultivadas num canteiro?
Folha - O senhor não acha que,
mais do que o crescimento populacional, o problema é a distribuição
de renda?
Turner - Não é assim. Quando eu
nasci, havia 2 bilhões de pessoas.
Hoje há 6 bilhões, a população triplicou em mais ou menos 60 anos.
Durante esse tempo, o número de
elefantes caiu 99%, o número de
rinocerontes caiu 99,9%. As pessoas estão consumindo mais do
que quando eu nasci. Quando eu
era um garotinho, poucas pessoas
tinham automóvel e, se tinham,
só tinham um. Se nós não mudarmos as coisas, metade das espécies do mundo será extinta neste
século. Talvez seja possível suportar 10 bilhões de pessoas na Terra,
se elas viverem como os indianos,
com 70% sem ter o suficiente para
comer. Mas seria possível ter 3 bilhões ou 4 bilhões de pessoas numa situação de classe média alta,
com o suficiente para comer, sem
tanta poluição.
Folha - A fundação prioriza projetos de controle da natalidade?
Turner - Planejamento familiar,
eu diria. Controle tem um conotação ruim, não acha? Estamos tentando ajudar (projetos na área de)
mulheres, crianças, planejamento
familiar, meio ambiente, paz e segurança. Nos EUA, a maior parte
do dinheiro de doações vai para as
igrejas. As pessoas acham que receberão um tratamento melhor
quando morrerem. Os ricos dão
dinheiro para o que os beneficia,
como os museus e a ópera. Nós
estamos tentando diminuir a desigualdade entre os ricos e pobres.
Folha - O senhor se acha diferente
de outros milionários?
Turner - Pessoas são como flocos
de neve, são diferentes. Acho que
o que estamos fazendo, no tamanho e no dinheiro, ninguém jamais fez.
Folha - A CNN tem perdido muita
audiência. A que o senhor atribui
essa crise?
Turner - Porque temos muita
competição. Se há somente um
jornal em uma cidade, ele vai ter
toda a audiência. Se há dois ou
três, a audiência diminui um pouco. Houve um tempo em que tínhamos toda a audiência, assim
como o Brasil já teve todo o café e
todas as bananas!
Folha - O senhor tem medo da
concorrência dos serviços de informação na Internet? Isso é a causa
da queda de audiência?
Turner - Os serviços por computadores vão de fato levar parte da
audiência dos telejornais, é claro.
E vão levar dos jornais também.
Os jornais estarão com problemas
muito sérios, na minha opinião,
porque você tem as notícias com
um dia de atraso, enquanto na Internet você tem as notícias básicas
dos jornais hoje. E, além disso, você tem de distribuir os jornais,
cortar árvores, pegar os jornais de
volta, reciclá-los, é uma confusão.
Folha - Como o senhor avalia o
processo de fusão da Time Warner
com a AOL?
Turner - Estávamos com tanto
medo de que a Internet tomasse
tanto (da audiência) que tivemos
de entrar no negócio. Veja o que a
Globo faz. Eles eram um jornal,
então entraram no rádio, na televisão, na TV paga, agora estão entrando na Internet. Você tem que
se manter atualizado.
Folha - Mas há obstáculos nos
EUA à conclusão da fusão?
Turner - Claro que há. Nossos
competidores estão gritando até a
morte. Mas não deveríamos estar
falando disso. É suficiente.
Folha - Pessoalmente, o senhor
faz alguma coisa para reduzir o
consumo no mundo?
Turner - Claro, faço o que posso.
Até pego lixo na rua e coloco na
cesta. Por que eu daria todo esse
dinheiro se não tivesse tentando
fazer isso também na minha vida
pessoal? Eu dirijo um carro pequeno, e vou ter um ainda menor.
Tento viver de modo que seja um
pouco de exemplo.
Folha - O casamento com a atriz
Jane Fonda (de quem está separado) o influenciou politicamente?
Turner - De certo modo, sim.
Mas eu já era muito liberal. De outro modo, eu não poderia ter gostado dela, porque ela era mais como uma comunista, socialista.
Folha - O senhor é socialista?
Turner - Não. Mas eu me importo com as pessoas, acho que seria
bom se todo mundo vivesse bem.
Isso é um socialista, certo?
Folha - Haverá uma CNN em português, já que o Brasil é o segundo
mercado estrangeiro da rede?
Turner - Acho que não, porque
somos sócios da Globo na Futura
e eles não querem que façamos isso. Eles querem ter todas as notícias em português, é difícil enfrentá-los no Brasil.
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