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NEGÓCIOS
Fábrica de chocolates com capital 100% nacional, empresa passa por avaliação do Merrill Lynch e pode ser vendida
Na lista da Serasa, Pan pede concordata
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Fundada em 1935 por um engenheiro químico e por um eletricista, a Pan, uma das mais antigas fábricas de chocolates do país, entrou com pedido de concordata
preventiva na tarde de segunda-feira. Companhia 100% nacional,
com uma planta de 13 mil metros
quadrados localizada em São
Caetano do Sul (SP), a Pan -da
família Falchero- só fez o pedido
porque o seu nome passou a
constar, nas últimas semanas, na
lista de devedores da Serasa (Centralização de Serviços Bancários).
"Não ia dar para trabalhar desse
jeito. Alguém ia pedir nossa falência", diz Silvio Roberto Daidone,
diretor administrativo e cunhado
de Oswaldo Falchero, o engenheiro eletricista, hoje com 86 anos,
que fundou a Pan.
Para sair do sufoco -a empresa
tem operações com mais de 18
bancos, "mas deve só para alguns", diz Daidone- há chance
de parte da companhia ser vendida. O banco Merrill Lynch tem
feito levantamentos sobre o mercado e deve fazer propostas a possíveis interessados. A companhia
deve elaborar um levantamento
minucioso de seus ativos e passivos para descobrir o tamanho de
suas dívidas.
Na lista de possíveis interessados na Pan estão Lacta e Nestlé,
segundo a Folha apurou. A empresa não fornece detalhes a respeito. Diz que "tem gente interessada" e que a concordata surgiu
como uma forma de se proteger.
"Com a concordata preventiva de
dois anos, a companhia vai ter
tempo de se reorganizar, tentar se
capitalizar", diz o advogado do
grupo Jeremias Pereira Filho.
Poucas nacionais
Os problemas da Pan começaram há mais de dois anos. O consumo de chocolates no setor caiu
e as companhias tiveram que, cada vez mais, depender do cacau
importado -devido à menor
produção interna. A matéria-prima, com preço dolarizado, tornou-se mais cara após a desvalorização cambial, em 99. Além disso,
ainda há a questão da concorrência no mercado interno.
Grandes grupos se fundiram.
Reduziram custos, ampliaram a
escala e elevaram a competitividade. A Kraft Suchard, por exemplo, adquiriu em 1996 o controle
da Lacta. Em 1998, a Parmalat adquiriu a Neugebauer. A suíça Nestlé comprou a Garoto há quatro
meses. Enquanto isso, a Pan, a última grande empresa nacional do
setor, tentava crescer. Abriu uma
franquia neste ano e imaginava
ter 11 lojas até o final de 2002.
Entre os principais concorrentes que enfrentava nos anos 50
-como a Falchi, Gardano, Lacta,
Sonksen, Sultana, Dizioli, Rocco,
Garoto e Laf-, ficaram poucos.
Uma das razões do sucesso do
grupo estava num produto, o cigarro de chocolate, marca registrada da Pan.
Mesmo assim, a demanda por
esses produtos tornou-se instável.
E havia ainda a concorrência do
chocolate caseiro. "O povo mal
tem dinheiro para comer o arroz e
o feijão. Vai comprar chocolate
como?", diz Daidone.
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