São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 2002

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NEGÓCIOS

Fábrica de chocolates com capital 100% nacional, empresa passa por avaliação do Merrill Lynch e pode ser vendida

Na lista da Serasa, Pan pede concordata

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Fundada em 1935 por um engenheiro químico e por um eletricista, a Pan, uma das mais antigas fábricas de chocolates do país, entrou com pedido de concordata preventiva na tarde de segunda-feira. Companhia 100% nacional, com uma planta de 13 mil metros quadrados localizada em São Caetano do Sul (SP), a Pan -da família Falchero- só fez o pedido porque o seu nome passou a constar, nas últimas semanas, na lista de devedores da Serasa (Centralização de Serviços Bancários).
"Não ia dar para trabalhar desse jeito. Alguém ia pedir nossa falência", diz Silvio Roberto Daidone, diretor administrativo e cunhado de Oswaldo Falchero, o engenheiro eletricista, hoje com 86 anos, que fundou a Pan.
Para sair do sufoco -a empresa tem operações com mais de 18 bancos, "mas deve só para alguns", diz Daidone- há chance de parte da companhia ser vendida. O banco Merrill Lynch tem feito levantamentos sobre o mercado e deve fazer propostas a possíveis interessados. A companhia deve elaborar um levantamento minucioso de seus ativos e passivos para descobrir o tamanho de suas dívidas.
Na lista de possíveis interessados na Pan estão Lacta e Nestlé, segundo a Folha apurou. A empresa não fornece detalhes a respeito. Diz que "tem gente interessada" e que a concordata surgiu como uma forma de se proteger. "Com a concordata preventiva de dois anos, a companhia vai ter tempo de se reorganizar, tentar se capitalizar", diz o advogado do grupo Jeremias Pereira Filho.

Poucas nacionais
Os problemas da Pan começaram há mais de dois anos. O consumo de chocolates no setor caiu e as companhias tiveram que, cada vez mais, depender do cacau importado -devido à menor produção interna. A matéria-prima, com preço dolarizado, tornou-se mais cara após a desvalorização cambial, em 99. Além disso, ainda há a questão da concorrência no mercado interno.
Grandes grupos se fundiram. Reduziram custos, ampliaram a escala e elevaram a competitividade. A Kraft Suchard, por exemplo, adquiriu em 1996 o controle da Lacta. Em 1998, a Parmalat adquiriu a Neugebauer. A suíça Nestlé comprou a Garoto há quatro meses. Enquanto isso, a Pan, a última grande empresa nacional do setor, tentava crescer. Abriu uma franquia neste ano e imaginava ter 11 lojas até o final de 2002.
Entre os principais concorrentes que enfrentava nos anos 50 -como a Falchi, Gardano, Lacta, Sonksen, Sultana, Dizioli, Rocco, Garoto e Laf-, ficaram poucos. Uma das razões do sucesso do grupo estava num produto, o cigarro de chocolate, marca registrada da Pan.
Mesmo assim, a demanda por esses produtos tornou-se instável. E havia ainda a concorrência do chocolate caseiro. "O povo mal tem dinheiro para comer o arroz e o feijão. Vai comprar chocolate como?", diz Daidone.



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