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São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2003

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DOSE HOMEOPÁTICA

BC reduz taxa Selic de 26% para 24,5%; mercado financeiro e setor empresarial esperavam mais

Corte nos juros desaponta setor produtivo

DA REDAÇÃO

O Copom (Comitê de Política Monetária) cortou ontem a taxa básica de juros em 1,5 ponto percentual. Com a medida, a Selic passa a 24,5% ao ano. O Banco Central não adotou viés (tendência) até sua próxima reunião, em agosto, nem alterou o percentual de recolhimento compulsório que exige dos bancos. A decisão foi tomada por unanimidade pelos integrantes do comitê.
Embora o corte de 1,5 ponto fosse esperado por bancos e corretoras, foi considerado tímido e insuficiente por entidades empresariais, que, citando a queda generalizada de preços, viam espaço para um recuo de até quatro pontos percentuais na Selic.
"Esse excesso de zelo ameaça agravar o quadro atual de desemprego e deteriorar ainda mais a saúde financeira das empresas", diz nota divulgada pela Federação das Indústrias de São Paulo. "Ainda não vimos o fundo do poço."
Até Wall Street, berço do conservadorismo financeiro, considerou tímida a decisão. "É fato que as taxas de juros no Brasil seguem muito altas. A economia se beneficiaria com taxas mais baixas", disse Luiz Ernesto Martinez-Alas, da agência de classificação de risco Moody's.
O empresário Antônio Ermírio de Moraes afirmou que a queda dos juros foi "um colírio para os olhos, mas é pouco".
Referindo-se ao BC, o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) disse que "ninguém esperava de um órgão sempre caracterizado pelo conservadorismo uma ação que não estivesse de acordo com a tradição".
Já Antonio Palocci Filho (Fazenda) foi otimista. "A inflação continua caindo, os juros continuam caindo e os indicadores brasileiros continuam melhorando. Nós acreditamos que o Brasil vai terminar o ano crescendo."
Segundo pesquisa da Anefac, entidade que reúne executivos financeiros, o tomador final de crédito praticamente não sentirá alívio com a redução. Para as pessoas jurídicas, os juros médios anuais devem cair de 82% para 80% com a redução da Selic. Para as pessoas físicas, a taxa média deverá passar de 164,7% para 161,8%.
Foi a primeira vez em quase sete meses de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o BC reduziu os juros para uma taxa inferior à deixada por FHC.
Quando Lula assumiu, a taxa estava em 25%. Em janeiro, foi elevada para 25,5% ao ano. Em fevereiro, voltou a subir, para 26,5%, consolidando uma política de caráter fortemente recessivo para conter a alta da inflação. O BC manteve a taxa inalterada em março, abril e maio -período em que a inflação foi debelada.
No mês passado, ocorreu a primeira queda dos juros -0,5 ponto percentual. Ontem, a redução foi um pouco mais agressiva. O órgão não promovia um corte de 1,5 ponto na taxa Selic desde junho de 1999, quando o Brasil ainda se recuperava da crise cambial.
Para explicar a decisão de ontem, a diretoria do BC divulgou a seguinte nota: "As projeções de inflação continuam a indicar convergência para a trajetória das metas. Em razão disso, o Copom decidiu, por unanimidade, fixar a taxa Selic em 24,5% ao ano".
A redução da Selic não chegou a sacudir o mercado financeiro. A Bovespa fechou com baixa de 0,26%. O dólar subiu 0,49% e encerrou o dia cotado a R$ 2,897.


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