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São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2003

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Juro real recua, mas inibe economia

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Com o corte da taxa básica de juros, a Selic, promovida ontem pelo Copom (Comitê de Política Monetária), começa a inverter a curva ascendente do juro real. A taxa real projetada para os próximos 12 meses é de 16,3% anuais, segundo estudo da UAM (Unibanco Asset Management).
Antes do recuo da Selic, o juro real projetado para 12 meses estava em 17,5% ao ano, segundo o estudo -o pico do levantamento, desde 1999. "Apesar do recuo, ainda é uma taxa extremamente alta, e inibe o crescimento", diz Jorge Simino, diretor da UAM.
O juro real projetado foi calculado com base na Selic de 24,5% e na expectativa do mercado de que a inflação acumulada nos próximos 12 meses será de 7,04%, segundo o boletim Focus do Banco Central, publicado na última segunda-feira.
O cálculo do juro real com base na expectativa de inflação futura é o que norteia a atividade econômica. Os economistas também calculam o juro real descontando a inflação passada e, por esse critério, a taxa real está hoje em 6,74% ao ano.
"Mas os agentes econômicos olham para a frente, e não para trás, ao tomar decisões de investimento. É a taxa real de juros projetada que vai conduzir a atividade econômica", diz Simino. Nos níveis atuais do juro real, e mantida a expectativa de inflação em torno dos 7% para 12 meses à frente, a Selic teria de cair mais para a economia reagir.
Segundo Simino, se nos próximos dois meses forem feitos cortes de um ponto percentual na taxa básica, o juro real chegaria a 14,6% em setembro. "Isso traria um impacto positivo na economia", diz.
O efeito da queda dos juros, porém, demora entre seis e oito meses para ocorrer. "A queda iniciada em junho só deve provocar uma ascensão maior na economia em fevereiro ou março do ano que vem", acrescenta.
A taxa de juro real projetada é um dos principais referenciais do BC na definição da política monetária. "O governo trabalha com meta de inflação e administra a taxa de juros olhando a expectativa de inflação, e não o passado", diz José Antonio Pena, economista-chefe do BankBoston.
Para os consumidores e os empresários, esse tipo de cálculo é importante, pois, se a expectativa é de queda do juro real, aumenta a predisposição para consumir e expandir os negócios.
Segundo Pena, também os investidores miram no juro real calculado com base na projeção da inflação para decidir se aplicam seu dinheiro em renda fixa ou se vão para outros ativos. No patamar atual, os juros ainda rendem gordos ganhos aos investidores e aos bancos que compram títulos públicos.
Historicamente, só quando o juro real bateu em 7% a 8% ao ano o dinheiro começou a vazar das aplicações em renda fixa para ativos reais como imóveis e ações. "Quando o juro real chega a esse patamar, o dinheiro também migra para o consumo de bens que dependem de financiamento", diz Simino.


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