|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Juro real recua, mas inibe economia
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Com o corte da taxa básica de
juros, a Selic, promovida ontem
pelo Copom (Comitê de Política
Monetária), começa a inverter a
curva ascendente do juro real. A
taxa real projetada para os próximos 12 meses é de 16,3% anuais,
segundo estudo da UAM (Unibanco Asset Management).
Antes do recuo da Selic, o juro
real projetado para 12 meses estava em 17,5% ao ano, segundo o estudo -o pico do levantamento,
desde 1999. "Apesar do recuo,
ainda é uma taxa extremamente
alta, e inibe o crescimento", diz
Jorge Simino, diretor da UAM.
O juro real projetado foi calculado com base na Selic de 24,5% e
na expectativa do mercado de que
a inflação acumulada nos próximos 12 meses será de 7,04%, segundo o boletim Focus do Banco
Central, publicado na última segunda-feira.
O cálculo do juro real com base
na expectativa de inflação futura é
o que norteia a atividade econômica. Os economistas também
calculam o juro real descontando
a inflação passada e, por esse critério, a taxa real está hoje em
6,74% ao ano.
"Mas os agentes econômicos
olham para a frente, e não para
trás, ao tomar decisões de investimento. É a taxa real de juros projetada que vai conduzir a atividade econômica", diz Simino. Nos
níveis atuais do juro real, e mantida a expectativa de inflação em
torno dos 7% para 12 meses à
frente, a Selic teria de cair mais para a economia reagir.
Segundo Simino, se nos próximos dois meses forem feitos cortes de um ponto percentual na taxa básica, o juro real chegaria a
14,6% em setembro. "Isso traria
um impacto positivo na economia", diz.
O efeito da queda dos juros, porém, demora entre seis e oito meses para ocorrer. "A queda iniciada em junho só deve provocar
uma ascensão maior na economia
em fevereiro ou março do ano que
vem", acrescenta.
A taxa de juro real projetada é
um dos principais referenciais do
BC na definição da política monetária. "O governo trabalha com
meta de inflação e administra a taxa de juros olhando a expectativa
de inflação, e não o passado", diz
José Antonio Pena, economista-chefe do BankBoston.
Para os consumidores e os empresários, esse tipo de cálculo é
importante, pois, se a expectativa
é de queda do juro real, aumenta a
predisposição para consumir e
expandir os negócios.
Segundo Pena, também os investidores miram no juro real calculado com base na projeção da
inflação para decidir se aplicam
seu dinheiro em renda fixa ou se
vão para outros ativos. No patamar atual, os juros ainda rendem
gordos ganhos aos investidores e
aos bancos que compram títulos
públicos.
Historicamente, só quando o
juro real bateu em 7% a 8% ao ano
o dinheiro começou a vazar das
aplicações em renda fixa para ativos reais como imóveis e ações.
"Quando o juro real chega a esse
patamar, o dinheiro também migra para o consumo de bens que
dependem de financiamento", diz
Simino.
Texto Anterior: Para empresas, custo dos empréstimos quase não cai Próximo Texto: Gasto com a dívida pode cair R$ 5,2 bi Índice
|