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LUÍS NASSIF
O moto-perpétuo da crise
Nos jornais de ontem foi
publicada a informação
de que algumas agências de
risco internacionais consideram que a volatilidade do
câmbio não vai permitir uma
política monetária menos
agressiva no médio prazo. Segundo elas, a deflação atual seria consequência de valorização do real. Mas, à medida que
o câmbio não conseguir se sustentar, haverá necessidade de
nova desvalorização, com efeitos inflacionários, exigindo a
manutenção dos juros elevados.
A lógica desse moto-perpétuo
da crise brasileira é a seguinte:
1) a economia fica exposta ao
capital de risco. Eclode uma
crise qualquer, nacional ou internacional, o capital sai correndo do país, levando a uma
crise cambial. O país é obrigado a recorrer ao FMI e o câmbio explode;
2) ao explodir, o câmbio provoca dois efeitos simultâneos.
De um lado, permite uma melhoria nas contas externas, pelo
aumento do superávit comercial e das demais contas do balanço de pagamentos. E até pelo reforço de caixa trazido pelo
FMI. De outro, provoca um
efeito inflacionário, obrigando
o BC a aumentar os juros;
3) essa combinação de melhoria nas contas externas no
curto prazo mais juros altos é
sopa no mel para o capital de
curto prazo, que volta e provoca valorização na taxa de câmbio, pelo aumento da oferta de
dólares. Se o BC não impede esse movimento, gradativamente
o dólar ruim (especulativo) vai
expulsando o dólar bom
(aquele proveniente dos superávits comerciais), porque as
exportações se tornam menos
competitivas.
Para o capital de investimento, tanto faz o nível do câmbio
na hora da entrada. O que ele
quer é o câmbio estável depois
que entrou. Se o superávit comercial fosse mantido em um
patamar confortável, o risco
cambial deixaria de existir.
Caindo o superávit, o país volta a depender dos especuladores.
Aí vem o gênio da planilha
do BC, saca o seu "modelito" e
sustenta que o capital volátil
permanecerá no país desde que
as reformas sejam tocadas e os
fundamentos da economia sejam melhorados.
O capital de risco não trabalha em cima de fundamentos
da economia, mas do conceito
de "caro" e "barato". Entra-se
no país com os preços dos C-Bonds lá embaixo. Cada espirro do Lula, cada declaração de
apoio são superdimensionados, invasões do MST, minimizadas, tudo para valorizar o C-Bond. À medida que os preços
vão aumentando, que vão batendo no limite de alta, o humor do mercado se inverte, independentemente do que possa
estar ocorrendo com os fundamentos da economia.
Vai exigir uma nova reforma
a cada dia, que se mate um
leão por hora, uma missão impossível por minuto. O modelo
explode, interrompe todas as
reformas, e esses mesmos analistas que hoje o defendem alegarão que a culpa não foi do
modelo, mas do fato de o país
não ter atendido às exigências
impossíveis do modelo.
Fica desde já o leitor avisado:
o modelo não vai dar certo, e
não é por insuficiência de reformas, mas por subordinar
uma nação inteira, hipotecar
anos de crescimento a uma lógica que não existe.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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