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Fusões e incorporações causam prejuízo a acionistas minoritários
Sem direito a voto, investidores ficam sujeitos às decisões dos controladores
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Num país recordista de juros,
os acionistas minoritários são
fonte alternativa para as empresas que precisam de dinheiro para fugir do alto custo dos
empréstimos bancários. Mas a
contrapartida, muita vezes,
vem em forma de prejuízos
causados pelos próprios controladores dessas empresas.
Desde 2004, o número de
ofertas públicas de ações mais
que dobrou ante o período
2001 a 2003 -passou de 26 para 54. Isso significou um movimento de R$ 33,5 bilhões, ante
R$ 13,9 bilhões nos três anos
anteriores. O dinheiro veio da
poupança do cidadão comum,
que já representa 28% do total
negociado pela Bovespa, mais
que os 26% dos investidores
institucionais.
Mas os mesmos que estendem o tapete vermelho na hora
em que querem obter os recursos no mercado de capitais e
vendem suas ações -que representam um pedaço da empresa- também são protagonistas de conflitos com os minoritários. E uma fonte das disputas é a decisão sobre fusões,
aquisições ou incorporações.
Essas negociações, a grande
maioria anunciada compulsoriamente pelos controladores,
podem custar caro ao investidor que não tem peso nas decisões das empresas, o detentor
das ações PN (preferenciais).
"Nem sempre quem controla
a empresa está preocupado
com o preço da ação", alerta
Hélder Soares, diretor da recém-criada Amec (Associação
de Investidores no Mercado de
Capitais). Formada por administradores independentes, a
associação surgiu para defender o direito dos minoritários.
Segundo ele, esse compromisso é maior no caso de empresas cujo controle é exercido
por acionistas que detêm mais
de 50% do capital. "Mas, muitas vezes, o controle está nas
mãos de quem tem bem menos.
Aí ele pode se preocupar mais
com o ganho próprio."
A história recente do mercado de capitais brasileiro é recheada de casos que ilustram o
desrespeito com o minoritário.
"Um exemplo é o da primeira
tentativa de venda da Tele Centro-Oeste para o grupo Vivo."
No início de 2003, foi anunciado o negócio. "No mesmo dia, a
Vivo anunciou a troca de ações.
Aos minoritários que não tinham ações ON (ações ordinárias, com direito a voto), foi oferecida uma permuta a preços
de mercado."
O problema, explicou, é que o
mercado não espelhava a realidade da empresa porque a administração era considerada
ruim. "A relação de troca oferecida foi de 1,524 ação da Telesp
Celular para cada ação da Tele
Centro-Oeste. Mas essa operação era lesiva ao minoritários",
afirmou Soares.
O negócio foi suspenso pelas
próprias empresas depois que a
CVM (Comissão de Valores
Mobiliários) deu parecer favorável aos minoritários.
Quase três anos mais tarde, a
operação foi concretizada, após
reestruturação societária, e a
relação de troca oferecida aos
minoritários que tinham ações
preferenciais foi maior. "Cada
ação da Tele Centro-Oeste valia 3,083 da Telesp Celular."
A mesma sorte não tiveram
os minoritários da AmBev, vendida à Interbrew. A negociação
envolveu a compra, pela AmBev, de uma subsidiária da Interbrew no Canadá, a Labatt.
"No dia do anúncio, as ações
preferenciais da AmBev caíram
17%. Dias depois, chegaram a
cair 30%. O mercado avaliou
que a operação era boa para o
controlador e ruim para o minoritário preferencialista.
Quem tinha ação ON não teve
problema", destaca Soares.
(SHEILA D'AMORIM)
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