São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2001

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DESACELERAÇÃO

Taxa é menor por causa do desalento, ou seja, desânimo faz desempregado deixar de procurar emprego

Freada reduz procura e o desemprego cai

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A taxa de desemprego ficou em 6,2% em julho, anunciou ontem o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É a menor taxa para o mês de julho desde 1997, mas, segundo o próprio IBGE, não há razões para comemorar, porque ela se deve principalmente à redução do número de pessoas procurando trabalho.
"Essa taxa é artificial porque sozinha não dá conta de explicar as mudanças do mercado de trabalho", afirmou Shyrlene Ramos de Souza, responsável pela Pesquisa Mensal de Emprego do instituto.
Além de ser a menor taxa para o mês de julho desde 97, os 6,2% também ficaram abaixo dos 6,4% de junho deste ano e dos 7,2% de julho de 2000. De acordo com Shyrlene, o desemprego caiu porque há menos pessoas procurando trabalho -e não devido ao incremento na oferta de emprego. Pela metodologia do IBGE, são contados como desempregados os entrevistados que afirmam ter procurado trabalho na semana da pesquisa.
"As pessoas estão descontentes", disse Shyrlene. O descontentamento se reflete no aumento da População Não-Economicamente Ativa. Ou seja, pessoas que possivelmente pararam de procurar emprego por desalento (desestímulo com a crise), deixando o mercado de trabalho.
A População Não-Economicamente Ativa cresceu 0,4% na comparação com junho e 6,1% em relação a julho de 2000.
Prova de que o mercado de trabalho vive uma crise é a queda na participação das pessoas empregadas no total da população, a chamada taxa de atividade.
Em julho de 2000, 58,1% das pessoas com mais de 15 anos estavam empregadas ou procurando trabalho há menos de uma semana. No mês passado, só 56,4%.
Outra indicação da piora do mercado de trabalho é o ritmo menor de crescimento da população ocupada -os que estão efetivamente trabalhando. De acordo com Shyrlene, a taxa vinha crescendo na faixa de 2% há quatro meses, mas foi perdendo fôlego até chegar ao aumento de apenas 0,3% em julho.
A indústria sentiu mais esse movimento e houve queda de 1% no pessoal ocupado em relação a julho do ano passado.
Enquanto o crescimento dos ocupados desacelera, o número de desocupados -aqueles que estão procurando trabalho- caiu muito: 14,6% em julho na comparação com igual mês de 2000 e 3,5% em relação a junho.
Com base nesses dados negativos, Shyrlene disse que a desaceleração econômica já contaminou o mercado de trabalho. "Os números estão compatíveis com o desempenho da economia."
A técnica do IBGE afirma, no entanto, que os empresários ainda vão esperar algum tempo antes de começar a demitir, por causa do custo elevado das rescisões.
Para o economista da Fundação Getúlio Vargas Marcelo Neri, especializado em emprego, os empresários vivem um momento de incerteza, pois não sabem exatamente a intensidade e a duração da crise, provocada pelo racionamento e pelas elevações dos juros e do dólar.
"Com incerteza, ninguém demite ninguém porque é caro. A tendência da atual crise não deve ser tanto de impacto de demissões, mas mais de reduzir a oferta de novas vagas", disse Neri.

Mercado formal
Para Neri, outra possível consequência da crise será a reversão do crescimento do emprego com carteira assinada, que vinha se expandindo desde janeiro de 2000, fato inédito desde o início da década de 90.
Na opinião do economista, a crise está afetando mais a indústria, que é "intensiva em mão-de-obra formal" e vinha puxando a recuperação do emprego com carteira. Em julho, as contratações com carteira ainda cresceram 4,2% na comparação com igual mês de 2000, enquanto o emprego informal caiu 3,2%.
Já o rendimento do trabalhador teve pequena alta, de 0,8%, de maio para junho, mas caiu 4,5% na comparação com junho de 2000. A renda média do trabalhador em junho foi de R$ 750,80.



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