|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CONTAS EXTERNAS
Saldo negativo das transações com o exterior chega a 4,88% do PIB; gastos com taxas sobem 56,6%
Juros levam déficit a nível recorde em 2 anos
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O déficit em transações correntes, principal indicador das contas
externas de um país, atingiu em
julho o nível mais elevado em
quase dois anos, de acordo com
dados divulgados ontem pelo
Banco Central. Esse resultado é
consequência do aumento nos
gastos com juros e nas remessas
de lucros para o exterior.
Nos últimos 12 meses completados em julho, o déficit externo totalizou US$ 27,5 bilhões, o equivalente a 4,88% do PIB. É o nível
mais elevado desde setembro de
1999, quando essa mesma relação
estava em 4,90%. A previsão do
BC é que, no final do ano, o déficit
de transações correntes fique em
4,97% do Produto Interno Bruto.
O número é elevado quando
comparado com outros países da
América Latina. De acordo com o
FMI (Fundo Monetário Internacional), o Chile deve ter um déficit
externo equivalente a 1,6% de seu
PIB neste ano. No Uruguai, a previsão é que a proporção chegue a
2,5% até dezembro.
A conta de transações correntes
é a soma dos resultados da balança comercial, da balança de serviços (pagamento de juros da dívida externa, viagens internacionais, remessa de lucros etc.) e das
transferências unilaterais (dinheiro enviado ao Brasil por residentes no exterior e vice-versa).
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, a piora nos números é
explicada pelos gastos com juros e
pelas remessas de lucros para o
exterior.
No mês passado, governo e a
iniciativa privada gastaram, ao todo, US$ 1,19 bilhão em juros referentes a dívidas contraídas no exterior. Isso representou um crescimento de 56,6% em relação aos
US$ 760 milhões gastos em julho
do ano passado.
Pagamento de juros
De acordo com Lopes, esse crescimento é consequência do aumento do endividamento do governo no exterior. Em julho, começaram a ser pagos os juros que
incidem sobre títulos lançados no
mercado internacional nos últimos meses.
Além disso, as remessas líquidas de dividendos totalizaram
US$ 246 milhões no mês passado.
Esse número se refere à diferença
entre os lucros enviados por empresas estrangeiras ao exterior e o
dinheiro recebido por companhias brasileiras com filiais em
outros países. Em julho de 2000,
as remessas líquidas foram de
US$ 40 milhões.
Lopes disse que essa alta ocorreu porque as empresas brasileiras apuraram um lucro menor em
suas operações internacionais.
A combinação desses dois fatores levou o déficit em transações
correntes a US$ 2,03 bilhões no
mês passado. A previsão do BC é
que ele fique em US$ 26,5 bilhões
neste ano.
Quando a conta de transações
correntes apresenta déficit, é preciso que sejam atraídos investimentos estrangeiros ou empréstimos externos suficientes para que
o balanço de pagamentos -contabilização de todos os dólares
que entram e saem do país- fique em equilíbrio.
Um desequilíbrio no balanço de
pagamentos faz com que o dólar
suba para que a balança comercial
se recupere e reduza o déficit em
transações correntes.
Texto Anterior: Elogios desconfiados: "Falar é fácil, fazer é mais difícil" Próximo Texto: Brasileiros gastam menos no exterior Índice
|