São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2001

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CONTAS EXTERNAS

Saldo negativo das transações com o exterior chega a 4,88% do PIB; gastos com taxas sobem 56,6%

Juros levam déficit a nível recorde em 2 anos

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O déficit em transações correntes, principal indicador das contas externas de um país, atingiu em julho o nível mais elevado em quase dois anos, de acordo com dados divulgados ontem pelo Banco Central. Esse resultado é consequência do aumento nos gastos com juros e nas remessas de lucros para o exterior.
Nos últimos 12 meses completados em julho, o déficit externo totalizou US$ 27,5 bilhões, o equivalente a 4,88% do PIB. É o nível mais elevado desde setembro de 1999, quando essa mesma relação estava em 4,90%. A previsão do BC é que, no final do ano, o déficit de transações correntes fique em 4,97% do Produto Interno Bruto.
O número é elevado quando comparado com outros países da América Latina. De acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), o Chile deve ter um déficit externo equivalente a 1,6% de seu PIB neste ano. No Uruguai, a previsão é que a proporção chegue a 2,5% até dezembro.
A conta de transações correntes é a soma dos resultados da balança comercial, da balança de serviços (pagamento de juros da dívida externa, viagens internacionais, remessa de lucros etc.) e das transferências unilaterais (dinheiro enviado ao Brasil por residentes no exterior e vice-versa).
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, a piora nos números é explicada pelos gastos com juros e pelas remessas de lucros para o exterior.
No mês passado, governo e a iniciativa privada gastaram, ao todo, US$ 1,19 bilhão em juros referentes a dívidas contraídas no exterior. Isso representou um crescimento de 56,6% em relação aos US$ 760 milhões gastos em julho do ano passado.

Pagamento de juros
De acordo com Lopes, esse crescimento é consequência do aumento do endividamento do governo no exterior. Em julho, começaram a ser pagos os juros que incidem sobre títulos lançados no mercado internacional nos últimos meses.
Além disso, as remessas líquidas de dividendos totalizaram US$ 246 milhões no mês passado. Esse número se refere à diferença entre os lucros enviados por empresas estrangeiras ao exterior e o dinheiro recebido por companhias brasileiras com filiais em outros países. Em julho de 2000, as remessas líquidas foram de US$ 40 milhões.
Lopes disse que essa alta ocorreu porque as empresas brasileiras apuraram um lucro menor em suas operações internacionais.
A combinação desses dois fatores levou o déficit em transações correntes a US$ 2,03 bilhões no mês passado. A previsão do BC é que ele fique em US$ 26,5 bilhões neste ano.
Quando a conta de transações correntes apresenta déficit, é preciso que sejam atraídos investimentos estrangeiros ou empréstimos externos suficientes para que o balanço de pagamentos -contabilização de todos os dólares que entram e saem do país- fique em equilíbrio.
Um desequilíbrio no balanço de pagamentos faz com que o dólar suba para que a balança comercial se recupere e reduza o déficit em transações correntes.



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