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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Os reis da bufunfa
Os argumentos dos bancos para pedir a redução do compulsório são duvidosos, para dizer o mínimo
O ARTIGO da quinta-feira passada sobre o poder dos bancos teve repercussão surpreendente. Recebi quase 150 e-mails, a esmagadora maioria de
apoio, não raro entusiasmado, além
de telefonemas, pedidos de entrevista etc. Pequeno indício de que os
bancos não são muito queridos no
Brasil.
O mercado financeiro ficou silente, exceto pelo telefonema de um
primo-irmão, que é executivo de
banco. Além daquele sobrinho, que
já foi personagem desta coluna, tenho também esse primo no mercado financeiro, o que sobrecarrega
um pouco as reuniões de família. O
que eu tento dizer a meus parentes
"mercadistas" é o seguinte: "Tudo
bem que vocês queiram estar onde a
bufunfa está, mas deixem as teses da
bufunfa fora dos encontros familiares".
O motivo do telefonema era me
desafiar para uma partida de tênis,
mas logo vi que o primo queria mesmo era falar do artigo. Levantou uns
contra-argumentos e concluiu: "É
fácil atacar os bancos!", insinuando
que havia demagogia da minha parte. Marcamos a partida para semana
que vem. Se eu ganhar, vai ser a primeira vez que o sistema financeiro
perde uma neste país.
Às vezes, as teses dos reis da bufunfa são duvidosas, para dizer o mínimo. Por exemplo: os bancos sustentam que uma das grandes causas
do elevado "spread" bancário (a diferença entre as taxas que os bancos
cobram nos empréstimos e as que
pagam a seus depositantes) é o volume de depósitos que eles têm de recolher ao Banco Central. Sugerem a
redução desses depósitos compulsórios como forma de baixar os juros
finais para as pessoas físicas e jurídicas.
Há um elemento de verdade nesse
argumento. Mas cuidado. Como
sempre, não estão contando a história toda. Os compulsórios constituem instrumento de política monetária e, ao mesmo tempo, uma
forma barata de financiamento do
governo federal. Parte dos compulsórios fica retida sem remuneração;
outra parte pode ser remunerada a
taxas inferiores às de mercado.
Não há garantia de que os recursos
liberados pela diminuição dos compulsórios se destinem a empréstimos adicionais. Uma parte considerável, até preponderante, pode alimentar a compra de títulos federais,
remunerados às onerosas taxas praticadas no Brasil. A destinação dependerá da disposição de emprestar
do oligopólio bancário e da existência de demanda adicional de crédito
às taxas de juro vigentes por parte
das empresas e das pessoas físicas.
O resultado pode ser, por exemplo, um pequeno acréscimo do volume de crédito e uma queda também
pequena dos juros para os tomadores. Por outro lado, aumentaria o
custo médio da dívida pública, em
razão da substituição de compulsórios não-remunerados ou relativamente baratos por títulos que pagam taxas elevadas. Em qualquer hipótese, os únicos beneficiários claros de uma diminuição dos compulsórios seriam os bancos, que trocariam ativos não remunerados ou
mal remunerados por títulos governamentais com juros altos ou, alternativamente, por empréstimos a
empresas e pessoas físicas a juros
ainda maiores.
É verdade que os recolhimentos
compulsórios são pesados no Brasil.
Talvez seja de interesse público reduzi-los. Mas a medida teria que ser
combinada com outras que visassem reduzir as taxas de juro e o poder excessivo dos bancos.
Sem a pretensão de ser exaustivo
(o meu espaço está acabando), mencionaria as seguintes: a) utilização
firme dos bancos públicos (BB,CEF,
BNDES) para aumentar a oferta de
crédito e a concorrência no mercado; b) reforma do Copom e do CMN
para diminuir a influência do sistema bancário sobre a política monetária e a regulamentação financeira;
c) redução da taxa básica de juro fixada pelo BC para níveis civilizados;
d) implementação adequada do cadastro positivo de tomadores de crédito; e) revisão do papel do Cade na
defesa da concorrência no mercado
bancário. Alguns desses pontos foram tratados em artigos publicados
nesta semana, neste mesmo espaço,
por Marcos Cintra e Elcio de Lucca.
Se o assunto continuar dando
"ibope", voltarei a ele na próxima semana.
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR., 51, economista e professor da FGV-EAESP, escreve às quintas-feiras nesta coluna. É autor do livro "O Brasil e a Economia Internacional:
Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/
Elsevier, 2005).
pnbjr@attglobal.net
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