São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 2002

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COLAPSO

Em entrevista em Washington, diretores do Fundo acusam governo e Congresso de atrasar pacote e afastar investidor

Argentina não cumpre seus acordos, diz FMI

DE WASHINGTON

A classe política argentina não cumpre acordos, é incapaz de chegar a um consenso mínimo em torno de um programa econômico e perpetua um debate inútil que afasta os investidores.
Essa é a opinião sobre a crise argentina dos três funcionários que comandam o FMI (Fundo Monetário Internacional): o diretor-gerente, Horst Köhler, a vice-diretora-gerente, Anne Krueger, e o diretor do Departamento de Hemisfério Ocidental, Anoop Singh.
Numa rara entrevista realizada ontem a jornalistas brasileiros e argentinos, os três deram o recado mais duro à classe política do país desde a intensificação da crise, em dezembro de 2001, e jogaram sobre os argentinos a responsabilidade pela falta de um acordo com o FMI. Os três abandonaram sua discrição habitual, optando por usar a imprensa para criticar o governo e o Congresso argentino e fazer um apelo à sociedade.
"Não estamos pedindo o impossível", disse Köhler. "Estamos dizendo, como uma espécie de apelo, que queremos chegar a um acordo com o presidente Duhalde. Sociedade argentina, por favor, vamos dar-lhe a autoridade para que ele possa chegar a algum acordo conosco, algo sobre o qual possamos julgar aqui do nosso lado e apresentar à diretoria executiva, algo que podemos prometer a eles que será implementado."
"Minha preocupação é que o debate atual no Congresso não dá segurança aos investidores de que haverá uma direção certa a ser seguida", disse Krueger.
O diretor-gerente reclamou da incapacidade do governo argentino de honrar as próprias promessas -"eles aprovaram a lei do déficit zero e depois não a cumpriram"- e relatou que a classe política ainda não conseguiu avançar nos mesmos problemas que existiam no começo da crise: a falta de uma âncora monetária, a difícil implementação de um acordo com as Províncias, a lenta reestruturação dos bancos e incoerência na política econômica.
"Nós fazemos acordos com eles, e esses acordos não são implementados. É claro que não vou culpar a Argentina sozinha. Talvez nós tenhamos pedido coisas que eles não podem implementar. É um ponto justo. Estamos revendo isso. Temos nossa parcela [de culpa] em alguns acontecimentos. Mas não podemos desviar do problema central: a chave para resolver essa situação está dentro da própria Argentina."
Segundo Köhler, o objetivo do FMI continua sendo fechar um acordo "transitório" com o atual governo, e outro, com reformas estruturais, com a próximo administração. (MARCIO AITH)


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