São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 2002

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Desaceleração nos EUA eleva desemprego global

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O aumento da taxa de desemprego não é um problema restrito apenas aos países periféricos, como o Brasil. Desde 2001, a economia global experimenta o que os economistas chamam de elevação do desemprego conjuntural.
O desemprego conjuntural está relacionado às variações em prazos curtos da atividade econômica do país ou global.
O principal motivador, segundo o economista e secretário municipal de São Paulo Marcio Pochmann, é a desaceleração da economia americana. Sozinhos, os EUA movimentam um terço da economia mundial. Em setembro, a taxa de desemprego nos EUA foi de 5,6% -pequena queda sobre agosto. Mas, em vez de serem criados 5.000 novos postos, como previam analistas, acabaram fechados 43 mil -fomentando o ceticismo sobre a retomada de fôlego da economia local.
Na Alemanha, maior economia da Europa, o desemprego tornou-se o tema mais caro ao premiê Gerhard Schröder, em sua disputa pela reeleição, contra o conservador Edmund Stoiber. O desemprego atinge cerca de 4 milhões de pessoas (9,9% da força de trabalho). Para analistas, além do fraco desempenho da economia (a expansão do PIB neste ano não deve superar 0,75%), a queda no desemprego esbarra na rigidez da legislação trabalhista alemã.
Quarta maior economia do mundo, a França viu a taxa de desemprego aumentar 2,2 pontos percentuais no ano passado -chegando a 9,5%. O alto desemprego entre os mais jovens foi explorado pelo líder de extrema direita Jean-Marie Le Pen, que passou ao segundo turno das eleições presidenciais, em maio.
Na Espanha, o governo enfrentou uma greve geral de 24 horas, em junho, depois que decidiu reduzir benefícios trabalhistas, o que afetou até as coberturas oficiais aos desempregados. A taxa de desemprego, de 11,5%, é a maior da União Européia.
A economia japonesa, estagnada há uma década, viu o desemprego passar de 2% para a casa de 5% nos últimos anos.
Mergulhada na mais grave crise econômico-social de sua história, a Argentina tem desempregados 22% da PEA, de acordo com o último relatório oficial, divulgado em maio. Mas consultorias apontam nível próximo a 30%.
De qualquer forma, EUA, Japão e as economias mais ricas da Europa exibem uma rede de proteção social e de benefícios a desempregados que não pode ser comparada à dos países pobres.
Outro fator diferencia ricos e pobres: enquanto nos países ricos houve uma redução do desemprego estrutural (dependente de toda a cadeia produtiva) nos últimos anos, ocorreu o inverso nas economias mais pobres.
"O emprego estrutural depende da capacidade produtiva instalada", diz Pochmann. "Os países que investiram em novas tecnologias, por exemplo, continuaram com bom nível de emprego estrutural, contrariando o temor de que essa revolução fosse significar a perda maciça de postos."


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