São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 2002

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Emergentes já se descolam do Brasil

ARKADY OSTROVSKY
DO "FINANCIAL TIMES"

Surgem fortes sinais de que outros mercados emergentes estão se descolando do Brasil.
O medo da crise brasileira dominou os mercados emergentes por quase todo o trimestre passado, com os níveis de correlação entre o Brasil e países como o México e a Rússia chegando a 80% e 90%, de acordo com o banco de investimentos JP Morgan. Desde então, a correlação caiu para cerca de 60%, bem abaixo dos níveis vigentes nas crises de 1995 e 1998.
"Estamos começando a ver os primeiros sinais de descolamento do Brasil em relação à maior parte dos países emergente, entre os quais alguns da América Latina", diz Kasper Bartholdy, diretor de pesquisa de mercados emergentes no Crédit Suisse First Boston. "Isso poderia ser o começo de uma tendência que dominará o mercado pelos próximos meses."
Embora alguns analistas advirtam que ainda pode ser cedo para determinar se outros mercados emergentes se descolaram completamente, os dados indicam que o contágio pode ser menos severo do que em crises passadas. "A correlação entre os países não demonstra a magnitude do impacto do Brasil sobre os demais países. Acreditamos que a volatilidade seja um efeito melhor do que o contágio", disse Joyce Chang, diretora de pesquisa para emergentes no JP Morgan. "O que é particularmente impressionante é que o contágio brasileiro no México e na Rússia caiu enquanto a volatilidade brasileira subia."
Muitos analistas comparam essa situação com a da Argentina no ano passado, que teve impacto limitado no resto do mundo. No entanto, em contraste com a Argentina, onde os investidores estavam preparados para a moratória tiveram muito tempo para reduzir suas posições, muitos investidores em têm ainda exposição significativa ao Brasil.
Os altos níveis de caixa acumulados pelos investidores institucionais e uma escassez de novos títulos de mercados emergentes explicam em parte por que os ativos dos emergentes se mantenham relativamente altos. Outro motivo é a mudança na base de investidores, que se tornou mais estável nos quatro últimos anos.
Pesquisa do JP Morgan demonstra que em 1998 os investidores de alto nível respondiam por 9% dos mercados, com os fundos de "hedge" (proteção) desempenhando o papel dominante. Neste ano, investidores de alto nível respondem por 32% do mercado, enquanto o papel dos fundos alavancados (a principal rota para o contágio de mercado) se reduziu a menos de 10%.
Também houve progresso na qualidade de crédito nos emergentes. Os países com classificação inferior a "nível de investimento" respondiam por 70% do total de emissões em 1998. Neste ano, apenas 39% dos países emissores tinham classificação abaixo de "nível de investimento", de acordo com o JP Morgan.
Até agora, neste ano, 20 países emergentes tiveram suas classificações de crédito elevadas, ante 14 que passaram por rebaixamento.
Muitos fundos de emergentes foram criados com um objetivo limitado, de investir nos países da Europa oriental e central ou nos mercados asiáticos, e assim são menos afetados pelo Brasil.
A maior parte dos analistas admite que o pior cenário, uma moratória da dívida brasileira, poderia gerar uma compressão de crédito que afetaria todos os emergentes onde haja menos crédito disponível. "Não estamos dizendo que outros países não serão afetados, mas sim que os emergentes não são mais a fonte principal de contágio", afirma Chang.


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