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Emergentes já se descolam do Brasil
ARKADY OSTROVSKY
DO "FINANCIAL TIMES"
Surgem fortes sinais de que outros mercados emergentes estão
se descolando do Brasil.
O medo da crise brasileira dominou os mercados emergentes
por quase todo o trimestre passado, com os níveis de correlação
entre o Brasil e países como o México e a Rússia chegando a 80% e
90%, de acordo com o banco de
investimentos JP Morgan. Desde
então, a correlação caiu para cerca
de 60%, bem abaixo dos níveis vigentes nas crises de 1995 e 1998.
"Estamos começando a ver os
primeiros sinais de descolamento
do Brasil em relação à maior parte
dos países emergente, entre os
quais alguns da América Latina",
diz Kasper Bartholdy, diretor de
pesquisa de mercados emergentes no Crédit Suisse First Boston.
"Isso poderia ser o começo de
uma tendência que dominará o
mercado pelos próximos meses."
Embora alguns analistas advirtam que ainda pode ser cedo para
determinar se outros mercados
emergentes se descolaram completamente, os dados indicam
que o contágio pode ser menos
severo do que em crises passadas.
"A correlação entre os países não
demonstra a magnitude do impacto do Brasil sobre os demais
países. Acreditamos que a volatilidade seja um efeito melhor do que
o contágio", disse Joyce Chang,
diretora de pesquisa para emergentes no JP Morgan. "O que é
particularmente impressionante
é que o contágio brasileiro no México e na Rússia caiu enquanto a
volatilidade brasileira subia."
Muitos analistas comparam essa situação com a da Argentina no
ano passado, que teve impacto limitado no resto do mundo. No
entanto, em contraste com a Argentina, onde os investidores estavam preparados para a moratória tiveram muito tempo para reduzir suas posições, muitos investidores em têm ainda exposição
significativa ao Brasil.
Os altos níveis de caixa acumulados pelos investidores institucionais e uma escassez de novos
títulos de mercados emergentes
explicam em parte por que os ativos dos emergentes se mantenham relativamente altos. Outro
motivo é a mudança na base de
investidores, que se tornou mais
estável nos quatro últimos anos.
Pesquisa do JP Morgan demonstra que em 1998 os investidores de alto nível respondiam
por 9% dos mercados, com os
fundos de "hedge" (proteção) desempenhando o papel dominante. Neste ano, investidores de alto
nível respondem por 32% do
mercado, enquanto o papel dos
fundos alavancados (a principal
rota para o contágio de mercado)
se reduziu a menos de 10%.
Também houve progresso na
qualidade de crédito nos emergentes. Os países com classificação inferior a "nível de investimento" respondiam por 70% do
total de emissões em 1998. Neste
ano, apenas 39% dos países emissores tinham classificação abaixo
de "nível de investimento", de
acordo com o JP Morgan.
Até agora, neste ano, 20 países
emergentes tiveram suas classificações de crédito elevadas, ante 14
que passaram por rebaixamento.
Muitos fundos de emergentes
foram criados com um objetivo limitado, de investir nos países da
Europa oriental e central ou nos
mercados asiáticos, e assim são
menos afetados pelo Brasil.
A maior parte dos analistas admite que o pior cenário, uma moratória da dívida brasileira, poderia gerar uma compressão de crédito que afetaria todos os emergentes onde haja menos crédito
disponível. "Não estamos dizendo que outros países não serão
afetados, mas sim que os emergentes não são mais a fonte principal de contágio", afirma Chang.
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