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NO AZUL
Com estagnação econômica, importação cai e superávit já é de US$ 3,856 bi
Após dez anos, Brasil deve ter saldo positivo com o exterior
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Brasil obteve, no mês passado, o maior saldo positivo da conta de transações correntes -que
inclui todas as transações de bens
e serviços com o exterior- desde
que o Banco Central passou a medir essa estatística, em 1980. Em
setembro, o superávit chegou a
US$ 1,338 bilhão.
Com esse resultado, o BC diz
que as transações correntes deverão encerrar o ano no azul, o que
não acontece desde 1992. "Seguramente teremos superávit no
ano", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Entre janeiro e setembro, o
saldo está positivo em US$ 3,856
bilhões.
A melhora das transações correntes reflete, em boa parte, a estagnação da economia. Nesse cenário, a queda da renda faz com
que as famílias gastem menos
com produtos importados. As
empresas, por sua vez, importam
menos matérias-primas.
Além disso, as empresas são estimuladas a aumentar suas exportações, para compensar a retração
do mercado consumidor interno.
Combinados, esses fatores explicam por que, em momentos de
estagnação, a balança comercial
tende a apresentar resultados melhores, o que ajuda a equilibrar as
contas externas.
O ano do último superávit em
transações correntes do Brasil
(US$ 6,1 bilhões), 1992, foi também o último ano em que o PIB
(Produto Interno Bruto) do país
encolheu: a retração foi de 0,54%.
Neste ano, a economia deve crescer 0,6%, segundo a última projeção do BC.
Apontado como um dos principais indicadores da vulnerabilidade externa de um país, a conta de
transações correntes é formada
pela soma dos resultados da balança comercial (exportações menos importações), da balança de
serviços (pagamento de juros, turismo internacional e remessas de
lucros, entre outros) e das transferências unilaterais (dinheiro enviado ao Brasil por residentes no
exterior e vice-versa).
O superávit em transações correntes reflete o desempenho da
balança comercial. Entre janeiro e
setembro, a balança tem saldo positivo de US$ 17,797 bilhões.
Num regime como o brasileiro,
em que o câmbio é flutuante e não
há restrições para a movimentação de capitais estrangeiros, um
déficit em transações correntes
precisa ser compensado pelo ingresso de dólares provenientes de
empréstimos ou investimentos
estrangeiros.
Desde o ano passado, porém, o
que se observa é uma queda no
fluxo de capital externo para o
país, reflexo da desaceleração da
economia mundial e da desconfiança dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil.
É nesses momentos que se percebe a vulnerabilidade externa do
Brasil: para poder equilibrar as
contas sem contar com empréstimos ou investimentos estrangeiros, o país precisa reduzir seu déficit externo. Essa redução é alcançada com a alta do dólar e a estagnação da economia.
O BC diz também que o maior
saldo comercial é consequência
de um processo de substituição de
importações e de conquista de
novos mercados para as exportações brasileiras. Com isso, o ajuste
nas contas externas pôde ser feito
à custa da desaceleração da economia, mas não chegou a causar
recessão semelhante à de 1992.
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