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São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2003

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NO AZUL

Com estagnação econômica, importação cai e superávit já é de US$ 3,856 bi

Após dez anos, Brasil deve ter saldo positivo com o exterior

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil obteve, no mês passado, o maior saldo positivo da conta de transações correntes -que inclui todas as transações de bens e serviços com o exterior- desde que o Banco Central passou a medir essa estatística, em 1980. Em setembro, o superávit chegou a US$ 1,338 bilhão.
Com esse resultado, o BC diz que as transações correntes deverão encerrar o ano no azul, o que não acontece desde 1992. "Seguramente teremos superávit no ano", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Entre janeiro e setembro, o saldo está positivo em US$ 3,856 bilhões.
A melhora das transações correntes reflete, em boa parte, a estagnação da economia. Nesse cenário, a queda da renda faz com que as famílias gastem menos com produtos importados. As empresas, por sua vez, importam menos matérias-primas.
Além disso, as empresas são estimuladas a aumentar suas exportações, para compensar a retração do mercado consumidor interno. Combinados, esses fatores explicam por que, em momentos de estagnação, a balança comercial tende a apresentar resultados melhores, o que ajuda a equilibrar as contas externas.
O ano do último superávit em transações correntes do Brasil (US$ 6,1 bilhões), 1992, foi também o último ano em que o PIB (Produto Interno Bruto) do país encolheu: a retração foi de 0,54%. Neste ano, a economia deve crescer 0,6%, segundo a última projeção do BC.
Apontado como um dos principais indicadores da vulnerabilidade externa de um país, a conta de transações correntes é formada pela soma dos resultados da balança comercial (exportações menos importações), da balança de serviços (pagamento de juros, turismo internacional e remessas de lucros, entre outros) e das transferências unilaterais (dinheiro enviado ao Brasil por residentes no exterior e vice-versa).
O superávit em transações correntes reflete o desempenho da balança comercial. Entre janeiro e setembro, a balança tem saldo positivo de US$ 17,797 bilhões.
Num regime como o brasileiro, em que o câmbio é flutuante e não há restrições para a movimentação de capitais estrangeiros, um déficit em transações correntes precisa ser compensado pelo ingresso de dólares provenientes de empréstimos ou investimentos estrangeiros.
Desde o ano passado, porém, o que se observa é uma queda no fluxo de capital externo para o país, reflexo da desaceleração da economia mundial e da desconfiança dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil.
É nesses momentos que se percebe a vulnerabilidade externa do Brasil: para poder equilibrar as contas sem contar com empréstimos ou investimentos estrangeiros, o país precisa reduzir seu déficit externo. Essa redução é alcançada com a alta do dólar e a estagnação da economia.
O BC diz também que o maior saldo comercial é consequência de um processo de substituição de importações e de conquista de novos mercados para as exportações brasileiras. Com isso, o ajuste nas contas externas pôde ser feito à custa da desaceleração da economia, mas não chegou a causar recessão semelhante à de 1992.


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