UOL


São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2003

Texto Anterior | Índice

MERCADO FINANCEIRO

Segundo estudo do banco Itaú, correlação entre Embi+ e pregão mostra que há espaço para altas

Queda do risco ajuda Bolsa a bater recorde

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao atingir um novo recorde histórico de fechamento na sexta-feira passada, aos 19.248 pontos, a Bolsa de Valores de São Paulo correu atrás do risco-país, medido pelo índice Embi+ do JP Morgan, que caiu a 559 pontos, o menor nível desde maio de 1968.
"É forte a correlação entre Bolsa e risco, cuja rápida queda surpreendeu o mercado. Ela [a Bolsa] se ajustou ao risco, mas ainda está atrás do Embi", diz Walter Mendes, superintendente de renda variável do banco Itaú.
Estudos realizados por seu departamento mostram, segundo Mendes, que a Bolsa deveria estar ainda mais valorizada para acompanhar o atual nível de risco-país.
"Deveria estar 5% mais alta apenas para ajustar-se ao patamar de risco. Mas é apenas uma indicação. Não quer dizer que a Bolsa só tenha potencial para subir isso. Existe esse espaço. Pode ir, como pode não ir", afirma.
Mendes reconhece, entretanto, que há outras variáveis interligadas, como o desempenho das Bolsas dos EUA, taxa real de juros, crescimento de lucros e de EBITDA (sigla em inglês para lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização, isto é, geração de caixa operacional), além de mudança no nível de preço que o mercado paga pelas empresas.
O risco-país em baixa é importante, porque o mercado o utiliza em suas estimativas de quanto as empresas vão gerar de caixa no futuro e, consequentemente, de seus preços no presente. Ele também contribui para a captação de recursos no mercado externo a custos menores. No ano, o risco-país já caiu mais de 60%, enquanto a Bovespa subiu mais de 70%.
Para outros analistas, não se deve tomar uma correlação como sendo a mais forte para a alta da Bolsa. "O risco-país reflete a qualidade da gestão macroeconômica, assim como a Bolsa. As expectativas melhoram, investidores calculam o valor presente do cenário vislumbrado lá na frente. O pano de fundo é o mesmo. Então, é razoável a correlação," afirma João Luiz Máscolo, professor do Ibmec.
Máscolo também vê espaço para valorização da Bolsa. "Com o processo que sinaliza solidez a médio prazo da política fiscal, déficits públicos menores, eventualmente superávit fiscal em 2006, 2007, relação dívida pública sobre PIB em queda, além de controle da inflação e aprovação de reformas, há potencial de alta", diz.
O cenário positivo no Brasil ocorre apesar do ambiente externo adverso em razão de atentados na Turquia. "Se o Brasil paga menos juros, o potencial de crescimento é maior, a relação dívida externa sobre PIB tende a ser melhor. O mercado está atento e coloca no preço", diz Mendes.
Para ele, o recorde da Bolsa não "quer dizer nada". "O recorde é só nominal, porque em dólar, o Ibovespa (índice que acompanha as 54 ações mais negociadas na Bolsa) aos 6.525 está bem abaixo de seu nível histórico mais alto."
A comparação é com o pico da Bolsa em moeda americana, em março de 2000, aos 10.807 pontos. Esse foi, porém, o ápice da bolha da Nasdaq. "Se o Brasil estiver nesse processo de ajuste, essas referências não servem, porque a economia muda", diz Máscolo.

Ato do Copom
Na semana, o evento mais aguardado pelo mercado é a divulgação da ata da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Segundo economistas, o documento deverá sinalizar o que motivou o corte de juros deste mês: se a taxa de inflação no curto prazo ou o modelo de metas de inflação para 2004.


Texto Anterior: Carteira valoriza 524,18% no ano
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.