São Paulo, terça-feira, 24 de dezembro de 2002

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TÍTULOS PÚBLICOS

Redução de 28,5% em relação a este ano dará maior folga a Lula

Rolagem da dívida diminui em 2003

SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O novo governo terá de rolar em 2003 uma parcela da dívida interna 28,5% menor que a vencida neste ano. A rolagem, ou a substituição de títulos públicos vencidos por novos, deverá atingir neste ano cerca de R$ 307,3 bilhões em títulos, que é quase a metade do total da dívida em mercado.
Em novembro, essa dívida era de R$ 631,46 bilhões. Para 2003, estão programados vencimentos de R$ 219,8 bilhões da dívida interna e outros US$ 11,2 bilhões da dívida externa.
Para Rubens Sardenberg, secretário-adjunto do Tesouro Nacional, a situação é bastante confortável. "Há uma margem razoável de manobra e os vencimentos estão bem escalonados", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
Mas a programação pode mudar radicalmente, como ocorreu neste ano. No início do ano, o Tesouro esperava rolar bem menos que R$ 300 bilhões em 2002. As dúvidas do mercado financeiro sobre as eleições presidenciais e as próprias dificuldades da economia brasileira fizeram com que o cenário mudasse.
O Tesouro teve que trocar títulos que estavam vencendo em 2004, em 2005 e em 2006 por outros com vencimento ainda neste ano e no início de 2003. Além disso, as altas dos juros e do dólar também elevaram os valores inicialmente previstos.
Os técnicos do Tesouro acreditam que o novo governo usará a melhora do "apetite" do mercado por títulos públicos e os baixos vencimentos previstos para o primeiro trimestre de 2003 para aumentar suas reservas.
Esse aumento, que permite ao governo ter mais recursos em caixa para administrar a dívida, acontece quando o governo emite mais títulos do que o valor dos papéis que estão vencendo.

No caixa, R$ 41 bi
O aumento das reservas seria interessante porque as preocupações dos técnicos estão concentradas no segundo trimestre do ano que vem, quando estarão vencendo R$ 90,5 bilhões em títulos. Neste ano, no mesmo período, venceram R$ 70,6 bilhões.
O secretário do Tesouro Nacional, Eduardo Guardia, vem afirmando que o Tesouro pretende deixar para o novo ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, cerca de R$ 41 bilhões em caixa. Mas apenas R$ 31 bilhões desse total estão hoje vinculados ao pagamento da dívida. Ou seja, a destinação do dinheiro restante também pode mudar.
As reservas do Tesouro chegaram a superar R$ 60 bilhões neste ano. Mas as dificuldades de rolagem da dívida que o governo enfrentou no segundo semestre, principalmente em outubro, reduziram o caixa.
Hoje, o Tesouro Nacional vem vendendo R$ 6 bilhões em títulos por semana. Houve momentos, porém, em que a média semanal esteve em R$ 500 milhões.
O aumento nas reservas do Tesouro tem o objetivo de garantir o pagamento da dívida que está vencendo. Ou seja, caso o governo não consiga substituir os papéis velhos por novos, poderá simplesmente retirar os títulos vencidos do mercado.
Os técnicos acreditam que o novo governo vai continuar tentando alongar os vencimentos da dívida em vez de alterar o perfil do rendimento pago aos investidores.


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