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Pesquisador defende políticas mais focadas
DA REPORTAGEM LOCAL
Para Marcelo Neri, economista da FGV, o ano de 2004 é
um exemplo quase perfeito do
que ele chama de "novo regime" de política social. Ano de
crescimento, em que não subiu
o salário mínimo e em que o governo, investindo mais no Bolsa Família, decidiu fazer uma
opção "pelos mais pobres dos
pobres".
Neri é dos economistas que
defendem a focalização das políticas sociais. Traduzindo: ele é
contra a expansão de políticas
universais, que transfiram dinheiro ou benefícios de forma
indiscriminada. O exemplo
mais mencionado por ele é o salário mínimo. Aumentos no mínimo, diz o economista, beneficiam mais os trabalhadores
empregados do setor formal,
enquanto aumentos do Bolsa
Família beneficiam os mais pobres entre os pobres. Por isso,
2004 é um ano, para ele, que é
bom exemplo do novo modelo:
subiram os gastos com o Bolsa
Família, e o salário mínimo não
teve aumento real.
Mas a focalização de políticas
sociais é tema que divide economistas. Eduardo Fagnani, da
Unicamp, acabou de lançar
"Boletim", junto com os economistas do Centro de Estudos
Sindicais e de Economia do
Trabalho. No documento, eles
chamam a atenção para o papel
importante das políticas universais e do crescimento econômico para reduzir a pobreza.
Fagnani é crítico dos economistas que defendem a focalização. Diz que políticas como o
Bolsa Família são importantes,
mas que elas sozinhas não resolvem o problema da pobreza,
que só pode ser realmente reduzido com crescimento, melhoras no mercado de trabalho
e políticas sociais universais.
"Eles minimizam a importância do crescimento", diz Fagnani sobre os defensores da focalização.
O economista da Unicamp
não é exatamente justo em relação ao papel do crescimento,
já que uma das coisas que Neri,
por exemplo, deixa claro em
seu trabalho é que a renda dos
pobres cresceu muito mais em
2004, período em que a economia do país saiu da estagnação.
Mas ele tem outra crítica.
Quando Neri propõe a escolha
dos mais pobres entre os pobres, propõe beneficiar menos
uma parte da população que está longe de ser considerada rica. "A linha dos 20% mais ricos
começa com renda de R$ 500",
diz Fagnani. Na avaliação de
Fagnani, quem ganha um salário mínimo, apesar de não estar
entre "os mais pobres dos pobres", ainda está em situação de
risco e, portanto, precisa também de assistência. Para essa
parcela da população, diz ele, o
papel das políticas universais,
como educação, saúde e reajustes do mínimo, é importante.
O debate está longe de acabar. Os defensores da focalização lembram sempre da restrição de recursos. O governo, dizem, tem de optar e, nesse caso,
é um dever moral optar pelos
mais desfavorecidos entre todos. Fagnani retruca. "O maior
gasto do governo é com juros,
não é com a Previdência, por
exemplo", diz.
(MB)
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