São Paulo, domingo, 24 de dezembro de 2006

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Pesquisador defende políticas mais focadas

DA REPORTAGEM LOCAL

Para Marcelo Neri, economista da FGV, o ano de 2004 é um exemplo quase perfeito do que ele chama de "novo regime" de política social. Ano de crescimento, em que não subiu o salário mínimo e em que o governo, investindo mais no Bolsa Família, decidiu fazer uma opção "pelos mais pobres dos pobres".
Neri é dos economistas que defendem a focalização das políticas sociais. Traduzindo: ele é contra a expansão de políticas universais, que transfiram dinheiro ou benefícios de forma indiscriminada. O exemplo mais mencionado por ele é o salário mínimo. Aumentos no mínimo, diz o economista, beneficiam mais os trabalhadores empregados do setor formal, enquanto aumentos do Bolsa Família beneficiam os mais pobres entre os pobres. Por isso, 2004 é um ano, para ele, que é bom exemplo do novo modelo: subiram os gastos com o Bolsa Família, e o salário mínimo não teve aumento real.
Mas a focalização de políticas sociais é tema que divide economistas. Eduardo Fagnani, da Unicamp, acabou de lançar "Boletim", junto com os economistas do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho. No documento, eles chamam a atenção para o papel importante das políticas universais e do crescimento econômico para reduzir a pobreza.
Fagnani é crítico dos economistas que defendem a focalização. Diz que políticas como o Bolsa Família são importantes, mas que elas sozinhas não resolvem o problema da pobreza, que só pode ser realmente reduzido com crescimento, melhoras no mercado de trabalho e políticas sociais universais. "Eles minimizam a importância do crescimento", diz Fagnani sobre os defensores da focalização.
O economista da Unicamp não é exatamente justo em relação ao papel do crescimento, já que uma das coisas que Neri, por exemplo, deixa claro em seu trabalho é que a renda dos pobres cresceu muito mais em 2004, período em que a economia do país saiu da estagnação.
Mas ele tem outra crítica. Quando Neri propõe a escolha dos mais pobres entre os pobres, propõe beneficiar menos uma parte da população que está longe de ser considerada rica. "A linha dos 20% mais ricos começa com renda de R$ 500", diz Fagnani. Na avaliação de Fagnani, quem ganha um salário mínimo, apesar de não estar entre "os mais pobres dos pobres", ainda está em situação de risco e, portanto, precisa também de assistência. Para essa parcela da população, diz ele, o papel das políticas universais, como educação, saúde e reajustes do mínimo, é importante.
O debate está longe de acabar. Os defensores da focalização lembram sempre da restrição de recursos. O governo, dizem, tem de optar e, nesse caso, é um dever moral optar pelos mais desfavorecidos entre todos. Fagnani retruca. "O maior gasto do governo é com juros, não é com a Previdência, por exemplo", diz. (MB)


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